A raça Holandesa é a mais utilizada pelos produtores no País. Destaque para a sua alta produtividade
Foto Wagner Correa
Os produtores de gado leiteiro buscam de forma incessante a melhoria genética e o aumento da produção. A raça Holandesa é uma das mais utilizadas em cruzamentos no Brasil e uma das qualidades de destaque é a sua alta produtividade.
A facilidade de acesso ao material genético de todas as partes do mundo, com a padronização das avaliações genéticas, são fatores que fazem do cruzamento uma ferramenta cada vez mais viável. Segundo o Médico Veterinário Marcello Mamedes “a tomada de decisão em relação ao cruzamento deve ser muito bem planejada, pois caso seja feita de forma errada o prejuízo será comprovado apenas quando os animais entrarem em lactação”. Saiba mais sobre a criação da vida com qualidade!
JORNAL HOLANDÊS: Existe hora certa para iniciar o cruzamento?
MARCELLO MAMEDES: Não existe hora certa para iniciar o cruzamento. Essa decisão de efetuar o cruzamento está muito ligada com o objetivo e a composição racial que o produtor precisa para seu sistema de produção. Lembrando que quando falamos de bovinos temos um intervalo de geração considerado grande, portando a tomada de decisão em relação ao cruzamento deve ser muito bem planejada, pois caso seja feito de forma errada o prejuízo será comprovado apenas quando os animais entrarem em lactação.
JH: Fale sobre o cruzamento do Holandês com outras raças. Por que é importante ter um Holandês consistente? O que mais as outras raças necessitam do gado Holandês?
MM: Uma das características mais importantes da raça Holandesa é a confiabilidade no resultado, pois existe um Teste de Progênie com muitas filhas que assegura uma maior confiabilidade em critérios de saúde, produção e conformação. Sempre que for possível o acasalamento dirigido é a melhor opção para aumentar a confiança no resultado mais rápido. Mais rápido significa menos gerações. Hoje o Holandês é muito utilizado no cruzamento com o Gir Leiteiro para a formação do Girolando, seja para fazer um animal ½, ¾ ou 5/8 (quando usamos uma vaca ¼). Não apenas nos cruzamentos entre raças diferentes temos que buscar touros mais consistentes e sim em todos os acasalamentos. O Holandês contribui de forma vital em várias características quando cruzado com outras raças.
JH: Existe uma receita para realizar um cruzamento correto?
MM: Não existe uma receita de bolo para ser indicada, isto vai depender muito de cada criador e seus objetivos dentro do seu sistema de produção. É lógico que temos algumas características funcionais que sempre devem estar dentro desse planejamento com SISTEMA MAMÁRIO, PERNAS e PÉS, CONFORMAÇÃO e etc. Quando possível o ideal seria utilizar um programa de acasalamento levando em consideração o animal que está sendo avaliado e o sistema de produção (lembrando que é o sistema de produção para 5 anos no futuro) para fazer estes tipos de cruzamentos.
JH: Quais são os resultados que têm sido alcançados com o cruzamento do Holandês de altíssima genética?
MM: Os resultados são fantásticos, um belo exemplo dessa evolução é notado nas vacas Girolando. Hoje temos vacas dentre os graus de sangue ½, ¾ e 5/8 com sistema mamário extremamente funcional, com muita qualidade na sua visão anterior, tetos bem posicionados e quando olhamos pelo posterior temos úberes altos e largos. Em relação à produção de leite também é fácil de ser notada esta grande evolução, hoje temos rebanhos/planteis com excelentes medias de produção por animal.
JH: Quais as equações corretas para alcançar melhores resultados em cruzamento com o gado Holandês?
MM: Definir e estabelecer um plano de melhoramento genético e focar nesse objetivo sem mudar a direção, todos nós sabemos que genética precisa de tempo para começar a colher os resultados, portanto se o produtor segue as recomendações de forma correta não tenho dúvida que geração após geração os objetivos serão atingidos.
JH: O que fazer se o objetivo não for alcançado?
MM: Verificar o que pode ter acontecido de errado, talvez o erro possa não estar no cruzamento e sim no sistema de produção. Na maioria das vezes, as vacas estão no lugar errado e daí a culpa não é das vacas e sim do sistema de produção e de quem gerencia esta produção, por isso é fundamental que tenhamos um OBJETIVO CLARO de que tipo de genética é preciso para cada tipo de exploração.
JH: Como funcionam os cruzamentos no exterior? É diferente da nossa forma? Por quê?
MM: Existem vários tipos de cruzamentos no exterior e todos estão objetivando produzir animais mais adaptados ao sistema de produção ou sistema de pagamento de leite de cada país.
Exemplo: A Colômbia utiliza cruzamentos parecidos com o Brasil. Raças zebuínas e Holandês buscando uma maior resistência ao calor, que é a realidade de países produtores de leite em zonas tropicais.
O Chile utiliza cruzamentos buscando maior produção de sólidos e pastejo, mas está em uma região de clima temperado e não necessita raças zebuínas, pois a temperatura é muito mais amena e não existem pragas como carrapato.
JH: O que é fundamental nessa arte da vida?
MM: O investimento em genética acelera o resultado e os resultados chegam quando utilizamos um touro extremo em certa característica que se enquadra mais rápido no sistema de produção e às necessidades das vacas do atual rebanho. O primeiro passo é definir o objetivo, que tipo de animal preciso para meu sistema de produção. A partir deste momento, focar num bom programa de acasalamento e seguir as recomendações. Paciência é fundamental, pois quando falamos de genética precisamos de tempo.
Outra estratégia genética fundamental para o avanço de um rebanho como um todo é descartar animais que não se adaptam ao sistema de produção, isso fará muita diferença para a velocidade do melhoramento do rebanho como um todo.
PRODUÇÃO EM ALTA
Segundo a Embrapa Gado de Leite, na pecuária leiteira considera-se gado mestiço aqueles animais derivados do cruzamento de uma raça pura de origem europeia e que seja especializada na produção de leite (Holandesa, Pardo-Suíça, Jersey, etc.), com uma raça de origem indiana, uma das várias que formam o grupo Zebú (Gir, Guzerá, Indubrasil, Sindi ou Nelore). A raça Holandesa predomina nos cruzamentos, sendo o mais comum o de Holandês com o Gir, mais conhecido como ‘Girolando’. Há também o ‘Guzolando’, resultado do cruzamento de Holandês com Guzerá e já há alguns produtores fazendo o ‘Nerolando’, que é o cruzamento do Holandês com o Nelore.
Pesquisa realizada durante mais de 15 anos pela Embrapa mostrou que a perfomance de cada cruzamento é variável com a tecnologia adotada nas fazendas. Nas propriedades com melhor nível de manejo, as vacas mais “holandesadas” (3/4 HZ; 7/8 HZ e H) foram as mais produtivas. Nas fazendas com melhor manejo, a produção de leite (litros/vaca/dia) é bastante semelhante entre vacas mestiças com graus de sangue 1/2 HZ ,3/4 HZ, 7/8 HZ e 15/16 HZ. As mais “holandesadas” são mais produtivas (litros/lactação) porque tem período de lactação maior.