Manejo, cuidados e boas práticas são fundamentais para o bem-estar do rebanho
A aplicação de medicamentos nas propriedades rurais não é algo trivial e requer bastante atenção. Acompanhar quais medicamentos foram aplicados, em quais animais e o período de carência é importante tanto para o bem-estar do rebanho quanto para as questões ligadas à sanidade, que posteriormente impactam na disponibilização dos produtos para o consumo humano. A matéria traz informações importantes e melhores práticas no uso de medicamentos na pecuária leiteira.
TOME CUIDADO PARA O MEDICAMENTO NÃO SER UM VILÃO
A saúde de um animal está diretamente relacionada ao seu bem-estar. Quando há menor incidência de do- enças, ferimento ou dor, os resultados na produtividade são melhores. Para diminuir a ocorrência de doenças e assegurar melhores condições de saúde, bem-estar e produtividade do rebanho, muitas vezes é necessário recorrer aos medicamentos. No entanto, da mesma forma que as medicações são aliadas na recuperação e no vigor dos animais, se utilizadas de forma inexata e sem acompanhamento, podem trazer sérios prejuízos para a produção.
AS VACINAS TAMBÉM PRECISAM SER MONITORADAS
Uma das práticas mais importantes na produção de bovinos leiteiros é a vacinação. No gado bovino, existem as de caráter obrigatório e as voluntárias. Ambas são aplicadas para prevenir ou erradicar as doenças infectocontagiosas e também para evitar perdas econômicas.
Obrigatórias: A vacinação contra a Brucelose é obrigatória para todas as bezerras de 3 a 8 meses. Uma única dose da vacina B-19 protege a fêmea por toda a vida. As bezerras vacinadas devem ser marcadas no lado esquerdo da cara com um “V” e o número final do ano da vacinação. Ex: V9 – vacinação efetuada em 2009. Animais doentes, positivos ao teste para Brucelose, devem ser marcados com um “P” no lado direito da cara e encaminhados para abate em frigorífico sob inspeção oficial ou destruição na propriedade sob vistoria de funcionário oficial. A vacina só pode ser comprada mediante apresentação de receita emitida por um médico veterinário habilitado.
A vacina contra Febre Aftosa é obrigatória em Minas Gerais, sendo a única forma de proteger os animais contra a doença. A aplicação é feita em duas etapas durante o ano e em datas determinadas pelo Governo. ATENÇÃO: os criadores terão até o dia 30 de novembro de 2017 para vacinar o seu rebanho e realizar a declaração obrigatória ao IMA.
Voluntárias: Entre as vacinas que não são obrigatórias, mas bastante buscadas para reduzir a mortalidade dos animais, podemos destacar a Carbúnculo, Botulismo, Enterotoxemia, Tétano e Edema Maligno. Além das vacinas mais presentes no cotidiano dos produtores, existem outras disponíveis para tratar de inúmeras doenças, como leptospirose, rinotraqueite infecciosa dos bovinos (IBR), diarreia bovina a vírus (BVD), mastite, paratifo, pasteurelose, campilobacteriose, colibacilose e mastite ambiental.
Todas as vacinas, obrigatórias ou não, precisam ser indicadas e ter um acompanhamento do médico veterinário, que avaliará a ocorrência de doenças na região e as características da produção. Os procedimentos realizados de forma inadequada acarretam resultados não desejados, como menor eficiência da vacina, prejuízos à saúde dos animais e, em casos mais graves, até a mortalidade.
A vacina contra a raiva é voluntária, no entanto, torna-se obrigatória caso sejam identificados focos da doença na região. A aplicação da vacina é feita anualmente em animais que tenham mais de três meses de idade.
Conservação dos medicamentos
Outro fator relacionado aos medicamentos é a conservação. Os medicamentos precisam ser guardados em ambientes fechados, livres de pragas e com temperatura adequada. Tais cuidados evitam prejuízos como a de terioração dos medicamentos.
Observação legal: Período de carência para consumo humano dos alimentos bovinos
Existe um período de carência, que é o intervalo de tempo necessário entre a última aplicação do produto e a data mínima para que os produtos oriundos desse bovino estejam disponíveis para consumo ou comercialização. O período de carência pode variar desde horas até dias ou meses, dependendo do produto, da formulação e da forma de aplicação. O não cumprimento da carência traz prejuízos à saúde do consumidor, que ingere o alimento com resíduos dos medicamentos. O Programa Nacional do Controle de Resíduos e Contaminantes, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é responsável por fiscalizar e monitorar os riscos provenientes dos resíduos. Saiba mais sobre resíduos de produtos veterinários e seu controle no Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan).
MANEJO E CUIDADOS NECESSÁRIOS
- O uso de medicamentos na pecuária de leite tem inúmeras finalidades. Por exemplo, o tratamento de micoses, diarreias, controle de carrapatos, verminoses, mastite ou até mesmo auxílio no período de gestação das vacas, no parto, na reprodução, entre outros. Tudo isso além das vacinas, que são aplicadas na prevenção e na erradicação de inúmeras doenças. Mesmo com o acompanhamento do veterinário, é importante que o produtor rural tenha conhecimento dos procedimentos e cuidados necessários com medicamentos e vacinas. Listamos abaixo informações importantes para facilitar o entendimento no uso de medicamentos no rebanho.
- Procedimentos gerais – leitura da bula
- As informações sobre dosagem, período pelo qual o animal deve permanecer sendo medicado, via a ser aplicado o medicamento (intramuscular, subcutânea, intramamária, oral, intradérmica, intravenosa etc.) e reações que podem aparecer com o uso das substâncias estarão descritas na bula. Mesmo com orientação do médico veterinário, é importante que o produtor leia com atenção essas informações, para ter conhecimento sobre a utilização do medicamento e quais danos ele pode causar caso seja utilizado de maneira incorreta.
TIPOS DE MEDICAMENTOS
- Antibióticos: Combatem infecções causadas normalmente por bactérias. Não utilize antibióticos sem a recomendação de um veterinário.
- Anti-inflamatórios: Tratam inflamações que não possuem presença de germes, como aquelas causadas por pancadas e doenças autoimunes.
- Analgésicos: Utilizados para tirar a dor do animal.
- Antipiréticos: Combatem a febre. A febre é uma reação positiva no organismo – ocorre porque o corpo está tentando combater alguma doença. No entanto, o sintoma em excesso traz prejuízos aos animais, por isso, deve ser medicada.
- Anti-histamínicos: Utilizados nas reações alérgicas dos animais, causadas geralmente por picadas de insetos ou algum produto/vegetal.
- Antifisiáticos: Utilizados para diminuir os sintomas de gases ou problemas intestinais que causam desconforto nos animais.
- Antiácidos: Combatem azias e dores estomacais causadas por úlceras e gastrites.
Vermífugos: Combatem os vermes que causam emagrecimento e diarreias. - Antiparasitas externos: Combatem parasitas estabelecidos na parte externa do animal, como pulgas, carrapatos e bernes.
- Antifúngicos: Utilizados contra fungos que atacam os animais, principalmente aqueles que vivem em ambientes úmidos e sem ventilação.
- Antitóxicos: Utilizados contra intoxicações causadas por alimentos estragados ou excesso de medicamentos.
- Complexos vitamínicos: Contêm vitaminas para fortalecer e recuperar animais doentes ou abatidos. Funcionam como complementos na dieta do animal.
- Diuréticos: Auxiliam na desintoxicação e na diminuição de edemas (inchaços com líquido), e também na diminuição da pressão arterial.
MELHORES PRÁTICAS
- As falhas durante o manejo dos medicamentos podem ocasionar consequências negativas no rebanho, como estresse e dor, risco de acidente de trabalho, reações e lesões inesperadas. Quer obter melhores resultados com os medicamentos? Abaixo algumas boas práticas:
- Marcar: todos os animais precisam ter uma identificação individual. Isso evita que o mesmo animal seja medicado duas vezes.
- Registrar: marque todas as vacas antes do tratamento e respeite a carência dos medicamentos. A ideia é separar os registros em temporários e permanentes.
- Separar: separe as vacas antes do tratamento e mantenha-as afastadas durante o período de carência. Os animais doentes ou tratados devem ser ordenhados por último.
- Tratar: descarte os medicamentos vencidos.
BUSQUE SEMPRE…
- Tratá-los com respeito e dignidade.
- Consultar um médico veterinário sobre a necessidade de uso de medicamentos e vacinas. Adquirir produtos registrados no Mapa, de revendedores e/ou cooperativas credenciadas.
- Utilizar apenas produtos dentro do prazo de validade e obedecer ao prazo de carência recomendado na bula para abate ou distribuição do leite. Se tiver dúvidas, entre em contato com o fornecedor – geralmente, o número consta na embalagem do produto. O Mapa (produtosveterinários@agricultura.gov.br) ou um veterinário também podem ser consultados.
- Não fazer uso dos medicamentos em animais de espécies diferentes daquelas que estão registradas na bula. Obedecer também às restrições e finalidades a que se destinam o medicamento.
- Não fazer formulações “caseiras”, como diluir ou misturar o produto em outras substâncias para economizar custos ou aumentar a eficácia.
- Utilizar produtos combinados apenas sob orientação de um veterinário.
- Não utilizar produtos advindos de estabelecimentos sem as licenças da Coordenação de Fiscalização de Produtos Veterinários (CPV) e do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários (DFIP).
- Treinar os trabalhadores sobre os cuidados com medicamentos e boas práticas.
AÇÕES RECOMENDADAS
No gado de leite, problemas como carrapato, mosca de chifre, verminoses e mastite são recorrentes. Hoje, o produtor pode optar por fazer o tratamento utilizando somente o manejo homeopático. A medicina homeopática apresenta alguns benefícios, como a eliminação dos resíduos tóxicos nos produtos e a possibilidade de produção do leite orgânico.
O Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disponibiliza uma relação de produtos e estabelecimentos credenciados, autorizados, cancelados e suspensos. Na lista, é possível obter relatórios sobre a qualidade dos produtos. Antes de utilizar qualquer medicamento, faça uma consulta de registros no Mapa. Para saber quais são as substâncias proibidas na alimentação animal, que têm a finalidade de melhorar o desempenho dos animais sadios ou que atendam às necessidades nutricionais.
FERRAMENTAS
Para apoiar no controle de medicamentos
O registro de informações é fundamental no uso de medicamentos, visto que é necessário anotar dados como início do tratamento, período de carência, dosagens aplicadas, reaplicações, assim como reações adversas, indícios de melhoria e ocorrência de novos focos de doenças no rebanho. Somente com o acompanhamento é possível analisar e tomar decisões para cancelar ou intensificar o tratamento com medicamentos. Tais informações são fundamentais para implementar ações buscando a melhoria dos índices zootécnicos dos animais com meta para curto, médio e longo prazos. Para facilitar esse controle, listamos alguns aplicativos que tornam o procedimento de acompanhamento mais ágil:
VetSmart
Funciona como um receituário inteligente. São disponibilizadas bulas de medicamentos e vacinas, recomendações para aplicação e frequência de uso do produto. Possibilita ter, com exatidão, a dosagem indicada de cada medicamento, conforme o peso do animal.
BovControl
Aplicativo que permite mais controle do pecuarista sobre o seu rebanho. Coleta dados de forma rápida e apresenta na forma de um painel. Com ele, é possível organizar um calendário para uso dos medicamentos.
Roda da Reprodução
Aplicativo desenvolvido pela Embrapa. Exibe, em meio digital, o quadro físico para acompanhar os ciclos de reprodução do rebanho. Isso considera o controle de todas as informações relacionadas aos animais, como entrada no cio, coberturas, partos e uso de medicamentos.
4 milk
Aplicativo para gerenciar e controlar o rebanho. Entre os benefícios está a melhora dos indicadores zootécnicos.
VACINAS
Geralmente, são aplicadas conforme um calendário com prazos bem definidos, por isso, o controle é fundamental para obter o resultado esperado. Outro fator importante para melhorar o desempenho das vacinas é o cuidado com o bem-estar do rebanho. Por essa razão, ter pessoas capacitadas, com práticas de manejo para evitar o estresse dos animais, é imprescindível.
As práticas relacionadas à higiene, segurança do trabalho e proteção ao meio ambiente também são fundamentais no trato com medicamentos. Por isso, esteja atento ao condicionamento e ao descarte de embalagens e restos de substâncias. Procure estabelecimentos responsáveis por fazer a coleta e não se esqueça dos equipamentos necessários para a aplicação de medicamentos, como luvas, botas, viseiras, etc.
Fonte: Relatório de Inteligência Sebrae
LEIA MAIS