Alternativas para criadores economizarem e até conseguir uma renda extra
Dando continuidade a séria “Energias alternativas” trazemos nessa edição experiências de associados da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais e novidades do mercado.
Será que realmente vale a pena investir em energia fotovoltaica? Na edição passada falamos sobre suas vantagens, desvantagens, instalações, economia e solucionamos essas e outras dúvidas.
Ela tem sido uma alternativa para maximizar os investimentos, minimizar os gastos e quem sabe até conseguir um faturamento extra.
O JORNAL HOLANDÊS conversou com exclusividade com a vice-presidente da Geração Distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – Absolar, Barbara Rubin. Ela ressaltou que o sistema gera a oportunidade de reduzir os custos fixos e de aproveitar de forma mais eficiente às áreas que possuem disponíveis, além de ganhar um diferencial no mercado pela maior sustentabilidade do seu produto.
Maximizando os espaços disponíveis, a Fazenda Figueiredo implantou a primeira usina fotovoltaica flutuante em propriedade rural no País e quem contou os detalhes da implantação e seus benefícios foi o associado Reinaldo Figueiredo.
E o associado Marcos Frota, da Fazenda Baixadão também aderiu a ideia com o objetivo que a propriedade se torne autossuficiente, e com isso agregue rentabilidade à atividade.
ECONOMIA ALIADA A SUSTENTABILIDADE
Criada em 2013, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – Absolar representa o setor de energia solar fotovoltaica no Brasil e promove a divulgação e utilização desta fonte de energia no País. Conversamos com exclusividade com a vice-presidente de Geração Distribuída da Absolar, Barbara Rubin. Ela ressaltou que o sistema de energia solar fotovoltaica dá a oportunidade de reduzir os seus custos fixos e de aproveitar de forma mais eficiente às áreas que possuem disponíveis, além de ganhar um diferencial no mercado pela maior sustentabilidade do seu produto.
JORNAL HOLANDÊS: Quais as tendências do mercado?
BARBARA RUBIN: O mundo inteiro passa por uma forte tendência de promoção das energias renováveis. Um exemplo importantíssimo disso foi a recente aprovação na Califórnia de uma lei que obriga até 2045 que toda eletricidade consumida no estado terá de ser renovável. E aliado a essa macro tendência, agente tem também uma tendência forte que o próprio consumidor passe a gerar a sua própria energia, claro, por meio de sistemas de menor porte, menores em termos de tamanho e potência e que usem fontes renováveis. Nesse modelo a energia fotovoltaica se destaca muito, pois é uma fonte modular, ou seja, ela adapta facilmente a necessidade do consumidor, a sua disponibilidade de área para instalação e o capital que ele possui disponível para o investimento. No Brasil essa possibilidade existe desde 2012 e já foi abraçada por mais de 40 mil consumidores ao longo desses anos no país. Apesar de parecer um número muito expressivo, quando comparamos com o potencial do Brasil, hoje agente possui mais 82,5 milhões de unidades de consumidores, percebemos que ainda há muito que se crescer, enfim é um setor que está em constante expansão.
JH: Como está o Brasil no cenário mundial?
BR: Quando falo de Brasil no cenário mundial fico muito triste em perceber que o nosso país poderia ser um gigante da energia solar, uma referência global pelo potencial que agente tem aqui, mas infelizmente estamos caminhando a passos muito lentos. Em 2017, o Brasil apareceu pela primeira vez no ranking mundial de países que mais instalaram energia fotovoltaica no ano, ocupando a décima posição. Apesar disso ser, sem dúvida, um feito, quando agente olha para a nossa matriz de energia, percebemos que a energia solar fotovoltaica participa apenas com 0,8% do que temos instalado em termos de geração de eletricidade no País. Ou seja, estamos muito e muito longe de colher os reais benefícios que o sol pode trazer. Para que agente consiga aproximar disso e acelerar essa trajetória, precisamos de políticas públicas mais consistentes e abrangentes que vão desde maior divulgação do próprio cidadão gerar a sua própria energia, a criação de linhas de financiamento condizentes com o setor e com o produto que estamos financiando, mas também a própria valorização e fortalecimento de uma cadeia produtiva nacional.
JH: E como fica o cenário nacional?
BR: Mesmo essa tendência vir menos acelerada que internacionalmente, o setor ainda apresenta um crescimento em potencial e mais importante que isso, é um crescimento constante e consistente ao longo dos anos. No final de 2017 e até meados de 2018, agente dobrou a capacidade instalada em sistemas de micro e mini geração fotovoltaica, que são esses sistemas que atendem diretamente os consumidores, sendo puxado, sobretudo pelos residenciais. Além disso, percebemos cada vez mais uma participação maior dos produtores rurais, onde atualmente representam 5% do total.
JH: Quais os benefícios para a fazenda produtora de leite?
BR: O benefício mais expressivo que temos atualmente é a possibilidade de economia e a previsibilidade de custos. O cenário onde as tarifas de energia subiram, em uma média nacional, mais de 499% ao longo dos últimos cinco anos, ter a certeza de quanto você vai pagar na sua conta de luz e ter uma conta de energia mais baixa e não falo com relação ao final do mês, mas ao longo dos 30 anos que é a vida útil desse sistema é um benefício enorme. E, além disso, temos também a questão da sustentabilidade, cada vez mais a sociedade tem demandado das empresas, dos produtores, que eles empreguem produtos que sejam responsáveis social e ambientalmente e abastecer a fazenda com uma fonte limpa e renovável, que não emite poluentes e que gerem empregos de qualidade, ela traz um impacto positivo para a sociedade como um todo. Enfim, é um diferencial que vai cada vez mais influenciar a decisão de compra do cidadão.
JH: Como deve ser feita a conta de custo X benefício?
BR: Existem várias formas de fazer essa análise e é importante deixar claro que alguns benefícios são difíceis de mensurar, por que são intangíveis e um deles, por exemplo, é a diferenciação do produto perante o cliente ou consumidor final. Em uma perspectiva econômica, a forma mais simples e comum é analisando o tempo de investimento, ou seja, quanto tempo o investimento feito na compra do sistema vai se pagar com a economia gerada na conta de luz. No Brasil, a média do tempo de retorno está entre 4 e 6 anos dependendo do Estado e do perfil do consumidor e esse é um valor muito positivo e mais favorável do que agente vê no mercado internacional. O cenário, hoje, para investir em energia fotovoltaica no País já é bastante positivo. A hora de investir é agora, agente tem tarifas de energia muito altas e o preço de aquisição do sistema já caiu bastante, uma média de 50% ao longo dos últimos 10 anos.
JH: E quais são os maiores obstáculos?
BR: O obstáculo que temos hoje é a falta de financiamento adequado para aquisição do sistema fotovoltaico próprio. A boa notícia é que o agronegócio não passa por essa dificuldade como os outros segmentos. Hoje temos inúmeras linhas disponíveis para o agronegócio com condições bastante favoráveis. Um exemplo é o Pronaf Mais Alimentos que tem juros anuais em torno de 2 a 5% e mais de 10 anos para pagamento, mas vale pesquisar pois há muitos outros financiamentos.
JH: Quais as inovações da energia fotovoltaica para o agronegócio do leite?
BR: Não só para o agronegócio do leite, mas de maneira geral, a produção de eletricidade a partir da energia fotovoltaica agrega inovação e tecnologia ao agronegócio e dá ao produtor a oportunidade de reduzir os seus custos fixos e de aproveitar melhor e de forma mais eficiente as áreas que possui disponíveis, além de ganhar um diferencial no mercado pela maior sustentabilidade do seu produto.
PIONEIRISMO E INOVAÇÃO NO BRASIL
Pensando sempre no bem estar dos animais, em sanar problemas de fornecimento de energia e claro, economia; a energia fotovoltaica vem ganhando a cada ano mais adeptos no país.
Vários são os locais onde podem ser instaladas a tecnologia e o JORNAL HOLANDÊS traz a primeira fazenda no País que utiliza um lago para produzir energia. A propriedade é a Fazenda Figueiredo, localizada em Cristalina – GO e quem conversou com a nossa equipe foi o criador Reinaldo Carlos Figueiredo.
Com abundancia de áreas alagadas em formas de represa, ele viu a oportunidade de transformar uma área até então não produtiva em benefícios. Conheça a primeira usina fotovoltaica flutuante em propriedade rural no Brasil.
JORNAL HOLANDÊS: Como funciona o sistema?
REINALDO FIGUEIREDO: Simples, como outro qualquer. A diferença é que está em cima da água.
JH: Qual o tamanho da área?
RF: Está em cima de um lago de dimensões 56 X 105 metros.
JH: Como conheceram essa tecnologia?
RF: O meu pai, Luiz Carlos Figueiredo vinha a anos pesquisando alguma forma de produzir energia, e passou a estudar a energia solar, quando viu esse sistema pela primeira vez teve plena convicção que esse seria o modelo a seguir, pois em nossa região temos muitas áreas alagadas em formas de represa e pela quantidade grande de irrigação.
JH: Porque definiram por esse formato?
RF: Vou enumerar em cinco pontos que foram decisivos para escolhermos esse sistema:
1 – Primeiramente por possuir a lagoa, ela já ocupa um espaço, sendo assim não teríamos mais que utilizar um novo espaço.
2 – Facilidade de limpeza, esse é um ponto fundamental. As placas solares facilmente sujam, e quanto mais elas ficam sujas, elas vão perdendo a capacidade de absorção de energia. A limpeza é um ponto fundamental para o sucesso. Agora imagina limpar em cima de um telhado… E se o funcionário cai? São muitos os detalhes: tem que amarrar a pessoa, levar os equipamentos para cima, etc. No nosso sistema é só levar uma vassoura de pelo macio e fazer a limpeza, a água já está ali…O processo é fácil, muito fácil…
3 – A água da represa trabalha de certa forma como um radiador das placas, isso faz com que não aqueça tantos os cabos elétricos, com isso a eficiência é maior, não sabemos calcular o quanto, mas sei que é bem maior.
4 – As placas recobrem grande parte da lagoa, com isso a evaporação sobre essa água é menor, isso faz com que não percamos dessa água estocada.
5 – Por estar em cima da água e de difícil acesso, o risco de roubo é bem menor. Infelizmente os furtos são altos em nosso País e temos que pensar em tudo.
JH: Toda a energia é utilizada na propriedade ou ainda precisam da energia convencional?
RF: Essas placas são responsáveis por volta de 25% da energia que utilizamos na leiteria, ela é fundamental para que possamos dar o conforto aos nossos animais e consequentemente aumentar a eficiência das nossas vacas.
JH: Qual o valor investido e em quanto tempo pretende recuperar?
RF: Gastamos por volta de dois milhões e cem, para a produção de 300 KVA de energia. A ideia é de recuperarmos esse investimento por volta de oito anos.
JH: Qual foi a conta para saber se realmente valeria a pena o investimento?
RF: No início nem fizemos muita conta, pois o conforto das vacas sempre foi fundamental para a nossa atividade. Devido a falta de energia e como a companhia elétrica não conseguia mais fornecer a demanda necessária, tomamos a decisão. Só depois de evoluir nas contas é que realmente resolvemos construir a usina fotovoltaica. Um detalhe importante, ela é de rápida montagem, diferente de outras alternativas.
A conta é simples, a usina custou R$ 2.100.000,00 ela produz R$ 20.000,00 de energia mês, isso se paga em oito anos e oito meses.
JH: Deixe algumas dicas para o criador que pretende investir em energia solar, mas está na dúvida qual o melhor formato.
RF: Aí vai uma dica importante: temos que pensar que o nosso “dia” é de 24 horas e só temos sol por volta de 12 horas, sendo que nas extremidades o sol é muito baixo, a máxima de produção é por volta das 12 as 13 horas, ou seja seu investimento que poderia produzir 24 horas (como biodigestor, hidroelétrica eólica, etc.). Só produz 12, ficando assim metade do seu tempo ocioso.
Nosso novo projeto para produzir energia elétrica está sendo um biodigestor, com ele conseguiremos alcançar 100% da nossa demanda de energia na leiteria, mas esse merece muito mais cuidado, estudo, custos, por isso ele está sendo programado em uma segunda etapa.
REDUÇÃO NO CUSTO DE PRODUÇÃO
O associado Marcos Frota, da Fazenda Baixadão, em Carmo da Cachoeira – MG, também aderiu a ideia. De olho na alta da conta de energia, ele instalou o sistema em cima do Compost Barn onde os animais ficam confinados.
A propriedade se divide em duas atividades: a leiteira e a cafeicultura. Durante todo o ano, o consumo é muito grande com os motores das ordenhas e ventiladores para os animais e no período de safra de café esse consumo aumenta ainda mais com o beneficiamento e outras atividades relacionadas a cultura.
O sistema na fazenda utiliza 272 placas que irão gerar em média 12 mil kWh/mês, um pouco a mais do que consomem, mas já estão pensando nos gastos futuros. A expectativa é que nos próximos cinco anos toda a energia produzida seja utilizada 100 % na fazenda.
A intenção da fazenda é que ela se torne autossuficiente, para com isso agregar uma maior rentabilidade às atividades.
O investimento na energia fotovoltaica foi de 320 mil reais parcelados em cinco anos.
Outro fator interessante é que se você não consumir toda a energia que produz você poderá ter créditos, a diferença fica registrada tanto no inversor quanto na Cemig durante cinco anos, e com isso poderá ter um abatimento no uso da energia elétrica nas próximas contas de luz e também utilizá-la a noite ou em dias chuvosos.
“As margens de lucro que trabalhamos são muito pequenas, por isso o produtor tem que trabalhar bem da porteira para dentro para poder reduzir os seus custos e depois da porteira para fora, você já trabalha buscando a maior valorização do produto, como contrato, exportação ou outros tipos de negociações. Agente tem que fazer o dever de casa bem feito para conseguir o menor custo possível em benefício das atividades”, comenta Marcos Frota.
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