PAIXÃO E NEGÓCIO JUNTOS

“Quero ainda fazer uma Grande Campeã Nacional”, ressalta Carlos Alberto Amorim

Sempre com um largo sorriso, muita simpatia e com mais de quatro décadas na criação do Holandês, o entrevistado dessa edição é o associado e Engenheiro Civil, Carlos Alberto Amorim, conhecido carinhosamente como Bito, que mesmo com o sufoco dos preparativos da silagem conseguiu um tempinho para conversar com a nossa equipe.
A propriedade localiza-se na cidade mineira de Patrocínio e como o próprio nome indica, a Chácara das Palmeiras recebe os visitantes, logo na entrada, com um corredor de belas palmeiras.
A sua história na raça Holandesa começou com o seu pai, José Afonso Amorim que numa viagem entre Uberaba e Uberlândia, viu um gado vermelho pastando e ficou encantado com a cena. “Logo o meu pai investiu na compra de um sítio, que é a nossa chácara hoje, e começou a criação do nosso Holandês na variedade vermelho e branco. Por sua influência nasceu a minha paixão e respeito pelo gado Holandês e principalmente pelo HVB.”
Conhecido como o Holandês do Cerrado, Bito destaca em sua entrevista que é fundamental saber aonde melhorar e como melhorar e os serviços prestados pela Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG fornecem e auxiliam nessa hora. Além disso, para driblar as oscilações do mercado e ter lucratividade o criador tem que unir a produtividade com a produção. Ele compartilha com os nossos leitores ideias e muitas experiências.

FOTO arquivo pessoal

JORNAL HOLANDÊS: Conte um pouco sobre a sua estrutura.
CARLOS ALBERTO AMORIM
: Nossa estrutura é mista, pois estamos sempre adaptando as novidades de mercado. Crio minhas bezerrinhas em gaiolas suspensas passando depois para baias cimentadas e em seguida as agrupo em piquetes e por fim vou subindo para piquetes maiores aonde nas águas eu consigo fazer uma rotação das novilhas nos antigos piquetes das vacas e daí consigo economizar com essa rotação. As vacas pré-parto também ficam em piquetes próprios, bem sombreados e as vacas de produção estão em sistema de Compost Barn e com os anos fui investimento na modernização da ordenha.

“Supera-se tudo com muito amor, carinho, sobriedade e muito trabalho. O trabalho vence tudo”

JH: Ao longo da sua história, quais foram as maiores mudanças?
CA:
Criamos Holandês há 43 anos e 40 deles nós selecionamos o HVB. Quando começamos aqui no serrado havia, talvez, alguns gatos pingados e nem mesmo os técnicos possuíam muito conhecimento sobre a raça. Com o tempo veio chegando mais informações específicas sobre o Holandês, gado de alta produtividade, mas começamos com o pasto mesmo, depois fizemos piquetes pequenos aonde o gado tinha movimentação, mas era suplementado no cocho e agora evoluímos para o Compost Barn. O uso de tecnologia e genética foi o que mais cresceu nesse período, mas estamos sempre aprimorando.

JH: É possível viver do leite?
CA:
É possível viver do leite sim, embora nossa família sempre mantivesse outras fontes de renda e não conseguimos viver exclusivamente da produção. Em conversa com amigos reforço a ideia de que o negócio do leite terá que ser regido por dois pilares. Uma é a produtividade do animal: gado especializado em alta produção com alimentação racionalizada e médias acima de 30 a 35 kg por vaca. O segundo é o volume total de produção que para justificar o investimento teria que ser acima da ordem de 2.500 a 3.000 litros no mínimo. Para viver do leite é possível sim, mas é fundamental ter os dois binômios juntos: produção e produtividade.

JH: Como é ser um produtor de leite no Brasil?
CA
: Imagina você ser um produtor em um país que não tem uma politica agrícola, depois você passa por uma atividade que é executada a céu aberto, a mercê das intempéries, trabalha com um ser vivo, com suas fraquezas e doenças e que você não pára por 365 dias do ano. Ser um produtor de leite é muito difícil, no Brasil é dar murro em ponta de faca. Por isso, sempre digo que se supera tudo com muito amor, carinho, sobriedade e muito trabalho. O trabalho vence tudo!

JH: Quais os objetivos do seu negócio?
CA:
Essa pergunta me faz meditar e devanear um pouco, são tantos anos criando o Holandês, passando por tantas etapas… É uma mistura de prazer, negócio que se fundem e se misturam no meu pensamento que é difícil falar de um único objetivo. Faz parte da minha vida, pois comecei com 14 ou 15 anos a ajudar o meu pai. Passado tantos anos, eu avalio que não pode haver somente um objetivo, pois precisamos ter produção, sólidos, boa genética, vacas sadias… Isso tudo tem que caminhar junto, a vaca tem que parir bem, ter saúde, ela precisa ter genética para poder andar bem… Os objetivos tem que caminhar juntos, temos que tentar sempre conciliar para não cair na armadilha do modismo.

FOTO arquivo pessoal

JH: Fale um pouco sobre a criação do HVB.
CA:
A criação do HVB começou pela beleza do animal no cenário do campo, vejo nele um animal produtivo, de tempos em tempos nós adicionamos a genética do HPB para criarmos um animal diferente, um recessivo, e depois voltamos ao HVB novamente. Em nossas observações, que não são científicas e sim empíricas, o vermelho é mais robusto, enfrenta melhor o calor e os parasitas da nossa região. Claro que não estou levando em consideração se a nossa seleção genética nos levou a isso. Outro fator que observamos é que nosso leite possui mais sólido, mas como disse é puramente uma observação não uma afirmação sobre o HVB. Quanto à produção nossas vacas vermelhas e pretas e brancas produzem nas mesmas proporções. Hora umas mais que outras, mas não observamos diferenças notáveis entre elas em nossa propriedade.

O Médico Veterinário da fazenda, Dr. Ronaldo, com José Afonso Amorim e Dr. Pedro Guimarães, da Associação Brasileira, durante a Expohol 2011, em São Paulo | FOTO arquivo pessoal

JH: Como você trabalha a sua comunicação?
CA:
As exposições são importantíssimas nesse sentido. Sempre que podemos participamos de exposições tanto as grandes, a Megaleite quando era em Uberaba é um exemplo, como as regionais. Outras formas são os dias de campo que promovemos em nossa propriedade. Tenho também utilizado as mídias e redes sociais. Quem não é visto não é lembrado como diz o velho ditado popular.

“Quem não é visto não é lembrado como diz o velho ditado popular”

JH: E o evento Melhores de Minas, ele contribui para o seu negócio?
CA:
Nem sei precisar a quanto tempo participamos e somos agraciados pelos Melhores de Minas. Lembro-me de ir com meu pai no sul de Minas e recentemente em Belo Horizonte. Acredito que todos os criadores deveriam comparecer ao evento. É aonde encontramos os amigos, outros criadores, que têm novas ideias ou ideias diferentes e conseguimos trocar muitas informações. Eu aproveito também o evento para divulgar meus animais assim como os resultados demonstram e como eles podem ser melhoradores para as sua fazenda.

JH: Na prática, como os serviços da Associação Mineira contribuem para a sua propriedade?
CA:
A Associação Mineira fornece informações valiosas. No Controle Leiteiro você consegue separar suas melhores vacas na lactação e não pelo pico como muitos fazem quando na verdade nem sempre vacas avaliadas assim são as mais produtivas. Você consegue detectar a sanidade do seu rebanho assim como contagem de sólidos, conseguindo montar um quadro apurado do seu rebanho. O Registro Genealógico é outro serviço que garante a segurança nas informações de pedigree e genética para os nossos clientes. A Classificação Linear para Tipo é outra ferramenta que é fundamental na seleção do rebanho, te auxiliando para fazer o acasalamento com animais aonde você poderia melhorar perna, úbere, leite, produção entre outras características. Saber onde melhorar e como melhorar é fundamental e a ACGHMG fornece e auxilia nessa hora. Uma prestação de serviços importantíssima!

“Saber onde melhorar e como melhorar é fundamental e a associação mineira fornece e auxilia nessa hora”

JH: Como você lida com as questões ambientais?
CA
: Sempre nos preocupamos com o meio ambiente. Nossa água é oriunda de posso artesiano e como não possuímos manancial de superfície não há a possibilidade de jogarmos dejetos ou outros em curso d’agua. Reaproveitamos os mesmo na lavoura, tantos os sólidos como os líquidos, e assim torna o nosso negócio mais sustentável.

JH: Produtividade e qualidade.
CA:
Acredito que não é difícil. A produtividade você precisa ter boas vacas leiteiras, bom manejo e boa alimentação. A qualidade vem da sua estrutura dento da fazenda, uma ordenha boa, bem revisada, um tanque de expansão de qualidade que gele rápido o leite e funcionários dedicados na hora da ordenha e na limpeza dos materiais. E acredito que o caminho para podermos sair de todas essas intempéries políticas do país é ter produtividade, produção e qualidade.

JH: Quais os planos para o futuro?
CA:
Todo mundo que faz o que gosta faz melhor. É necessário paixão pelo negócio para ele dar certo e é por isso que pretendo sempre estar na atividade leiteira e quero ainda fazer uma grande Campeã Nacional.

“É possível VIVER DO LEITE, mas para isso é fundamental ter os dois binômios juntos: produção e produtividade”