QUEBRANDO PARADIGMAS

Com uma estrutura enxuta, Cleverson Ozanam Braga conquista o mercado nacional

O JORNAL HOLANDÊS mostra que tem associado quebrando alguns paradigmas na história da raça. O nosso entrevistado não vem de família tradicional com gerações no agronegócio, mas com muita determinação e planejamento, ele tem divulgando com seriedade o seu negócio e conquistado o mercado nacional, isso tudo com uma estrutura enxuta. O ASSOCIADO EM PAUTA é Cleverson Ozanam Braga, da Fazenda Santa Clara, localizada em Barbacena – MG. Atualmente ele é membro do Conselho de Administração da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG, representando o Campo das Vertentes e a Zona da Mata Mineira e membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa – ABCBRH.

Fazendo parte da nova geração do gado Holandês e com uma década de criação, Cleverson, sua esposa Líliam e seus três filhos: Lucas Eduardo, Júlia Maria e Pedro Henrique sempre estão presentes nos encontros da raça Holandesa com personalidade marcante e visão do bem comum, “quero ver todos crescerem com o Holandês!”

Vamos juntos conhecer um pouco mais dos seus investimentos e planos para o futuro.


ESTRUTURA

A Fazenda Santa Clara está localizada no distrito de Dr. Sá Fortes, em Barbacena – MG, no Alto da Borda do Campo região considerada o berço do gado Holandês no Brasil. A forma de criação dos animais é semi extensiva, onde as fêmeas são agrupadas em lotes pequenos, específicos por idade, peso, fase de crescimento, reprodução e/ou produção e distribuídos em piquetes de tifton, separados por cerca eletrificada. O tamanho da propriedade é de 52 ha, constituídos de piquetes, áreas de produção de milho para silagem, matas nativas, nascentes, pastagens e capineiras. O rebanho, está hoje bem reduzido, pelas vendas, é composto de 48 animais, sendo 22 vacas em lactação, 21 exemplares de gado jovem, 2 fêmeas Girolando F1, 1 tourinho e 2 animais de serviço.

JORNAL HOLANDÊS: Como começou a sua história no Holandês?

CLEVERSON OZANAM BRAGA: Do nascimento aos 6 anos de idade vivi em uma comunidade de nome Santa Clara, zona rural da pequena Ibertioga em Minas Gerais. Meus pais tinham um comércio (venda) no local. Ficava de frente para uma antiga fábrica de queijos e rodeada de fazendas leiteiras. Naquele cenário comecei a admirar os animais, principalmente os “pretos e brancos”, e a projetar um dia ser criador.  No início da minha vida estudantil fiquei internado num seminário (Borda do Campo), hoje vizinho da Fazenda Santa Clara. Embora a vida tenha tomado outros rumos, fiz a minha primeira graduação na Universidade Federal de Viçosa. De lá fui trabalhar em um banco público, por vontade do meu pai João, e fiquei por 29 anos. Nesse meio tempo fiz ainda um MBA – Gestão de Negócios, em Desenvolvimento Regional Sustentável pela UFLA/IPAD. Neste período comecei meu projeto de criação junto com meu irmão Elwath (Lelete), no sítio da família. Iniciamos adquirindo boas matrizes (sem registro) na região de Ibertioga e um touro PO da variedade HVB, de um criatório muito importante e famoso, Elos José Nolli. 

JH: A fazenda possui somente Holandês? Por quê?

CB: Hoje na Fazenda Santa Clara temos exemplares da raça Holandesa das variedades PB e VB (mais de 95% PO) e produzimos fêmeas cruzadas F1 H/G em parceria com um produtor de Aiuruoca, Sul de Minas Gerais. Esse produtor avalia as matrizes da Genética COBRA JULLYPH, faz os acasalamentos com touros da raça Gir Leiteiro, indica os touros e nós produzimos as bezerras, que serão adquiridas pelo produtor.


SUCESSÃO

JH: A família participa de algum processo na fazenda?

CB: Todos de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, estão ligados com a Fazenda Santa Clara.  A minha esposa Liliam contribui com as flores e cores e também com as finanças da fazenda. Atualmente, os meus três filhos cursam graduação em universidades federais: Lucas (o Braga) faz Engenharia Elétrica na UFJF, Júlia (a Juju) Artes e Design na UFJF e Pedro Henrique (o Braguinha ou Bragode) faz Zootecnia na UFV. Todos procuram linkar sua formação com os projetos e necessidades da fazenda, sendo o Pedro mais participativo, até porque seu curso tem relação direta com as atividades da Santa Clara.

JH: De que forma você acredita que podemos envolver os jovens no campo?

CB: Os jovens de hoje se envolvem com o campo por meio de uma visão complementar, visão de sustentabilidade, onde predomina as visões de Geração de Renda (economicamente viável), Inclusão Social (socialmente justa) e Ambientalmente Correto (preservação do meio ambiente).


ECONOMIA

JH: Muito se fala que é difícil viver do leite. E aí?

CB: A atividade leiteira é muito peculiar, pois é exercida em sua maioria por pequenos produtores (agricultura familiar), também por produtores médios, com predominância de famílias ou não, e também por grandes produtores (empresários, que podem ser de forma individual, familiar ou em condomínios). Eu vivo da produção da fazenda e também de uma pequena renda, fruto de um plano de Previdência.

Para se ter lucro dentro da atividade leiteira precisa, como em qualquer outra atividade produtiva, cuidar da geração de receitas, redução dos custos, boa negociação e evitar desperdícios por menor que seja, afinal trabalhamos na casa dos centavos.

“…Até os sacos vazios dos insumos que usamos na fabricação de ração tem seu valor comercial”

JH: Além do leite, a propriedade possui outras formas de renda oriundas da pecuária leiteira?

CB: Além do leite, comercializamos genética, através de tourinhos, fêmeas Holandesas e Girolando F1 H/Z. Isto tudo como fonte de receita principal, porém, não perdemos de vista que tudo pode ser fonte de receita, onde até os sacos vazios dos insumos que usamos na fabricação de ração tem seu valor comercial.

JH: Quais os focos da sua propriedade?

CB: Focamos sempre em oferecer produtos de qualidade em acordo com as exigências legais e demandas do mercado. Leite de qualidade, animais de boa conformação, saudáveis e produtivos. Temos a consciência que os nossos animais vendidos, junto com os compradores são os que mais fazem a propaganda da nossa fazenda. Por isso, a preocupação de oferecer ao mercado somente bons produtos, o leite que vendo é o que minha família consome, os animais produzidos para venda são com os mesmos critérios dos produzidos para reposição da própria fazenda.


A propriedade tem as duas variedades: HPB e HVB. O gado jovem vivendo em ambiente confortável chega mais cedo na fase de produção e reprodução

JH: É importante o criador ter um controle financeiro rigoroso?

CB: O criador não pode abrir mão da visão de negócio, seja através da geração de renda, para manutenção da fazenda, para o manejo, para os investimentos e claro para ter lucro. Na redução dos custos, através das cotações dos insumos (ração, adubos, sêmen, remédios, etc.) e na eficiência deles. Claro, sem perder a qualidade das matérias primas, pois nem sempre o mais barato é o melhor.

JH: Você possui ações de sustentabilidade e bem estar?

CB: Estamos preocupados com a preservação das nascentes, isolando-as dos animais por meio de cercas e com isto temos oferta de água em abundância e de qualidade. Cuidar sempre do bem-estar dos animais e pessoas envolvidas no processo. Zelo com os animais em todas as fases do desenvolvimento e produção. Ou seja, vacas “felizes e saudáveis” respondem em sua plenitude, na produção e reprodução. E os animais jovens, da mesma forma, felizes e saudáveis, vivendo em ambientes confortáveis, sem stress respondem em desenvolvimento, chegando mais rápido às fases de reprodução e produção. Assim também, com os colaboradores, com respeitos às suas realidades, crenças e necessidades conduzimos todos os processos com harmonia.

JH: Como você vê o mercado nacional e internacional?

CB: Eu vejo o momento atual com muito otimismo. Por vários fatores:

• A Fazenda Santa Clara comercializa sua produção de leite, através de contrato formal de longo prazo (de 01/07/2019 a 30/06/2020), com indexador (Cepea) e ainda, com remuneração adicional de qualidade (CCS, CBT, Gordura, Proteína e Volume), itens sempre sonhados pelos produtores;

• Estes benefícios atingem vários produtores da região e, até fora do Estado de MG. Foram agregados pela associação APLISI, sediada em Santa Isabel no Estado do RJ;

• A gente vê e percebe várias movimentações e mobilizações de produtores de leite, principalmente no estado de Goiás, que servem de exemplo para os produtores de outros estados;

• Positivo também, a inclusão de um representante da raça Holandesa na Câmara Setorial do Leite, em Brasília-DF;

• Vejo com “bons olhos” também a abertura do mercado europeu aos produtos lácteos do Brasil, principalmente o Queijo Artesanal de Minas.

JH: Fale um pouco sobre mão de obra.

CB: Na minha ótica, a mão de obra é super importante também como em qualquer área ou atividade. Nas áreas: rural, urbana, indústria, comércio, serviços sempre temos que selecionar, treinar, acompanhar e valorizar a equipe de colaboradores. Precisamos contar com uma boa assistência técnica de um veterinário, agrônomo, zootecnista…Enfim, as tarefas da fazenda são complexas e contínuas, não conseguimos fazer sozinhos. 


ASSOCIAÇÃO

JH: Por que ser associado da ACGHMG?

CB: Acho importantíssimo ser associado da ACGHMG por vários motivos e pelos vários benefícios que isto nos propicia: tornar formais, confiáveis e fidedignos os dados dos animais da fazenda; por agregar valor aos animais registrados e controlados e seus descendentes; participar de eventos comparativos com outros plantéis, onde podemos verificar a nossa evolução e contamos também com o conhecimento e as informações dos profissionais da entidade.

JH: Quais os serviços que você utiliza da Associação Mineira e como eles agregam ao seu negócio?

• Registros genealógicos dos animais;

• Serviço de Controle Leiteiro (vacas com produção de mais 50 litros/dia);

• Classificação Morfológica e Linear dos animais (atualmente 85,6 pontos) e

• Consultoria e seleção dos animais para exposições (fiz grandes campeãs de exposições).

Os benefícios pela utilização desses serviços são vários, vai da seleção dos animais para matrizes, para comercialização, para acasalamento direcionado, para exposições e etc. Mas, o principal é agregar valor aos animais.  Também, tem nos proporcionados fazer bons negócios, inclusive para regiões distantes, como Recife e Sairé – PE e agora, recentemente para Alfredo Chaves- ES.


EVENTOS

JH: Premiações como os Melhores de Minas são importantes para o negócio do leite?

CB: A premiação e/ou a participação no evento “Melhores de Minas” vai além do reconhecimento do trabalho desenvolvido da porteira para dentro da fazenda. Vai além de agregar valor aos seus animais, ou de ser vencedor no comparativo com outros plantéis da raça Holandesa. Ou ainda, o reconhecimento da qualidade dos seus animais e qualidade do leite produzido na fazenda. Ou ainda a soma das premiações dos seus animais nas pistas das exposições ranqueadas. Ou ainda, a oportunidade de relacionamentos com os criadores associados, membros da diretoria e membros dos Conselhos de Administração e Fiscal. Ou mesmo, uma confraternização.

É a oportunidade de viver tudo isto que falei acima, num momento só, ao mesmo tempo. E por consequência ser alçada a categoria de “Melhor de Minas”, na criação de gado da raça Holandesa.

JH: Exposição é gasto ou investimento?

CB: A participação em exposição gera muitos custos, porque ninguém vai lá só para participar. Vai para mostrar o que tem de melhor na sua fazenda e da melhor forma possível. E esses gastos feitos de maneira planejada e com apoio da Associação Mineira e de seus técnicos competentes são transformados em investimento, que só agregam valor a seus animais. Enfim, é uma grande oportunidade de mostrar e agregar.

“…Quebramos o paradigma, que para fazer algo grande você precisa ser grande”

JH: Você participou de uma exposição no nordeste e muitos foram os desafios. Valeu a pena?

CB: Nossa participação na exposição da Sociedade Nordestina de Animais ano passado foi exitosa por alguns motivos. Primeiro por demonstrar a força e a determinação do pequeno criador de Minas Gerais. Fizemos a Campeã Fêmea Jovem e conquistamos várias outras premiações. Também quebramos o paradigma, que para fazer algo grande você precisa ser grande. Bastou aliar planejamento, parceiros e muita determinação. Outra grande vitória foi o intercâmbio de informações e realidades. E o melhor, a raça Holandesa como ponto central. Após, essa participação a Fazenda Santa Clara tem recebido constantemente contatos de criadores daquela região, seja para comercialização de animais, seja intercâmbio de informações, ou mesmo para participação em exposições. E olha, que os benefícios têm se estendido a outros criadores de Minas, pois, temos conhecimento de alguns negócios concretizados entre criadores daqui com criadores de lá, após nossa ida ao nordeste.

Genetica COBRA JULLYPH de Minas conquistando o Nordeste

VIDA NO HOLANDÊS…

JH: Você participa das diretorias nas Associações Mineira e Brasileira?

CB: Sim. Atualmente sou membro do Conselho de Administração da ACGHMG, representando o Campo das Vertentes e a Zona da Mata Mineira e membro do Conselho Fiscal da ABCBRH. Ao mesmo tempo em que me sinto orgulhoso pelas indicações, votação e confiança, carrego uma enorme responsabilidade por representar regiões importantes e toda uma classe de produtores e criadores.

É muito fácil e cômodo criticar, ou mesmo, esperar que as mudanças sejam feitas ficando de longe…

JH: Como Conselheiro, você possui algum objetivo a ser alcançado?

CB: Se tenho? Claro! Vários objetivos a serem alcançados. Modernização em processos e sistemas; redução dos custos da associação e dos associados; parcerias com entidades de ensino, pesquisa e extensão; aumentar o número de associados; aumentar o número de animais registrados e controlados; otimização dos serviços prestados; tornar a estrutura organizacional mais leve e produtiva.

É muito fácil e cômodo criticar, ou mesmo, esperar que as mudanças sejam feitas ficando de longe. Entrei com os objetivos de ouvir as demandas, levá-las ao Conselho para discussão. E junto com os demais conselheiros arregaçar as mangas, para promover as mudanças que levem a Associação Mineira a evoluir e poder proporcionar mais benefícios aos associados.

JH: Quais são as caraterísticas essenciais para ser um bom produtor de leite?

CB: Em minha opinião para ser um produtor de leite, principalmente se for criador da raça Holandesa, a pessoa precisa possuir ou buscar desenvolver algumas características: gostar de vacas; buscar conhecimento e assistência técnica, que lhe diga o que fazer; e o principal o que não fazer; ser consciente, que os resultados rápidos não são os duradouros e que seja flexível; organizado; persistente; objetivo; resiliente e negociador.

JH: Quais os planos para o futuro?

CB: Dentre os vários planos para o futuro, um já começa a ser esboçado e tomar corpo, é o Projeto de Reprodução através da FIV.

Identifiquei que a reprodução natural e assistida da genética COBRA JULLYPH pela fazenda não está conseguindo atender o mercado, em quantidade. E o ritmo de reposição de matrizes em produção não acompanha as vendas (neste ano comercializamos quase 50% das vacas no auge da produção).

Estamos iniciando uma parceria com um produtor que possui as receptoras, junto com uma empresa especializada em reprodução em laboratório (FIV) para produzirmos em escala maior a oferta de animais de elite para reposição e comercialização.

Novidades em breve!


MENSAGEM FINAL

Para aqueles que querem ingressar na pecuária leiteira é que se preparem, porque além dos conhecimentos e parcerias necessárias, a luta será grande, a caminhada árdua, mas apesar das dificuldades valerá muito a pena!