“O leite de Holandês produz um queijo de altíssimo sabor”, diz Eudes Braga
A coluna ASSOCIADO EM PAUTA traz uma história bem diferente na raça Holandesa. Um associado que conquistou um crescimento de forma rápida, sólida quebrando tabus trabalhando com um alimento muito tradicional nas mesas dos mineiros, o queijo. Estou falando do associado Eudes Anselmo de Assis Braga, da Granja Leiteira Eudes Braga localizada em Carmo do Paranaíba – região do Alto Parnaíba – MG.
Com muito trabalho, foco e produção média de uma tonelada de queijo por dia, Eudes vai tornando cada vez mais o seu negócio sustentável, inclusive em tempos de crise. “Acredito que conseguimos conquistar os nossos objetivos com muito trabalho e suor. Para mim a palavra sorte não existe, e sim trabalho e amor no que fazemos.”
Ele não esconde a paixão que possui pela família. Casado com Késsia possui duas filhas, Andressa e Júlia que desde pequena já vivenciam o dia a dia da fazenda. “O maior presente que Deus me deu é a minha família. A minha esposa é o meu braço direito, esquerdo… Eles são a vontade de voltar para a casa…Somos casados há duas décadas e cada dia é um melhor que o outro!!!”
A conversa foi longa e muito boa, mostrou a importância de trabalhar bem os detalhes, delegar e acreditar na equipe e quebrando todos os tabus, é sim possível fazer um Queijo Minas Artesanal com muita qualidade!
Eudes finalizou a nossa entrevista…“Se deixar vamos conversando a tarde toda!!!”
Para o associado Eudes Braga, o queijo é tudo… “No inicio era uma necessidade de sobrevivência, em 2004 virou um sonho, em 2020 uma realidade e em 2021 consequentemente é aquilo que vai fazer muitas famílias serem sustentadas e com qualidade de vida!”
HISTÓRIA
EUDES BRAGA: Até 2001 trabalhava com o meu pai na exploração de café e após essa data comecei a trabalhar por conta própria como comprador de queijo e daí começou a minha primeira ligação com o leite, sendo transformado em queijo. Já em 2008 começou realmente a produção própria.
ESTRUTURA
EB: A fazenda que começou com uma bezerra ela comtempla hoje aproximadamente 600 animais, dentre fêmeas e machos, sendo os tourinhos comercializados na própria propriedade. Trabalho com 100% confinamento, os animais em lactação e pré-parto estão alojados em barracões Compost Barn e a recria em piquetes. A propriedade tem nove hectares de área própria e aluga 80 hectares para o plantio de milho, são áreas próximas que são arrendadas para fazer o volumoso e também o grão úmido utilizado na dieta dos animais.
JH: Como surgiu a ideia de investir na raça Holandesa e ainda produzindo queijo?
EB: O espaço que tínhamos para produzir leite era uma área pequena, que é até hoje. Na realidade o nosso foco na raça veio por uma escala maior de produção em pequena área. A história de produzir leite surgiu pela necessidade de produzir queijo com qualidade.
JH: Por que escolheu a cidade de Carmo do Paranaíba para investir?
EB: É o meu município, dos meus pais, da minha esposa. Além disso, ela tem uma boa altitude com 1030 metros, é uma região plana e abundante em água, bem localizada, fácil de escoar a produção. Enfim, além de ser a terra natal foram características que incentivaram a produção de queijo na região.
LAÇOS
JH: Como é a relação da família nos negócios?
EB: Dividimos as responsabilidades em setores. A minha reponsabilidade vai até a produção do queijo, já a minha esposa fica com a parte de comercialização, tributária, fiscal e trabalhista. O meu irmão também trabalha conosco, ele é Médico Veterinário e responsável pela parte de reprodução da fazenda.
JH: Você se preocupa com sucesso familiar?
EB: Ela sempre está em discussão na fazenda, como tenho duas filhas sempre tento colocá-las em sintonia com o dia a dia da propriedade. Um exemplo é a minha filha de 12 anos, a Andressa, sempre aos sábados ela acompanha toda a parte de preparação do queijo. Tudo isso é voltado para que amanhã as duas possam assumir o meu trabalho.
NOVAS GERAÇÕES
JH: A cria e recria é importante para a propriedade?
EB: Não tem como você trabalhar uma fazenda produtora de leite sem você focar na cria e na recria. A melhoria genética hoje parte da conformação da cria, do que você está procurando com foco em animais que vão melhorar o seu rebanho. Acho de suma importância dar conforto, investir em genética, em bem estar, nos cuidados em geral. Temos que acompanhar desde a bezerrinha que cai no chão, nas baias naturais de parto e ela já tem que ter todo o cuidado de cura do umbigo, colostragem de qualidade, com pessoas especializadas para cuidar dessa bezerra e para que ela possa enquanto produtora de leite expressar o máximo potencial genético que ela carrega. Aqui na fazenda, até o sétimo dia ela fica em baias, depois de 7 a 30 elas vão para gaiola suspensa e depois de 30 a 65, que é o último dia de aleitamento ela fica no sistema argentino, no chão, em terra e depois passa para o que chamamos pós desaleitamento ficando nos piquetes e formando grupos com no máximo 20 animais. Já com média de 23 meses ela tem o seu primeiro parto. Acompanhamos todos os processos detalhadamente.
FOCOS
EB: Ter um queijo de qualidade, com boas práticas de fabricação, práticas de ordenha e principalmente sanidade. Hoje a fazenda tem média de produção 8 mil litros leite/dia, essa produção é toda transformada em Queijo Minas Artesanal. O município de Carmo do Paranaíba dentro da micro região do cerrado produz somente um tipo de queijo, o Minas Artesanal. O tempo de produção varia de 7 até 40 dias de maturação, esse maior tempo é que vai dando o sabor natural do Queijo Minas Artesanal. Por dia é produzido em média uma tonelada de queijo, sendo 85% dele comercializados em Belo Horizonte e o restante em outros municípios de Minas Gerais.
JH: A quantidade diária de leite supre as necessidades da produção de queijo? Você chega a vender o leite cru?
EB: A nossa conta é 8.1 litros de leite para um 1kg de queijo e o nosso objetivo é produzir 10 mil litros de leite e transformar tudo em queijo e chegar a produzir 1200 a 1300 kg de queijo por dia. Para ser certificado como Queijo Minas Artesanal não podemos comprar leite de outros produtores, somente produção própria. Isso tudo é para garantir sanidade e qualidade do produto, principalmente porque utilizamos o leite cru, por isso os cuidados redobrados. A venda de leite é estratégica segundo o mercado, há épocas do ano como férias e feriado prolongado onde a população que consome nosso queijo, localizada mais na Zona Sul de Belo Horizonte diminui, nos obrigando a vendar parte do leite para não ter acumulo e estocagem de queijo, sendo assim a venda é uma forma estratégica para a fazenda.
GENÉTICA
EB: O investimento em genética é aonde nós mais investimos na fazenda é um ponto desde o inicio muito bem assessorado. Em 2012 começamos a avaliação genômica e atualmente 100% dos animais, exceto os machos tem avaliação e isso nos possibilita conhecer precocemente os melhores animais. Assim que sabendo quem são eles, no nosso plano genético, nós multiplicamos através da FIV esses melhores animais. A genética foi e continua sendo o nosso divisor de águas na fazenda. Não poupamos investimentos em genética.
RECEITAS
EB: Nós temos três formatos de receita. Primeiro, a venda do queijo que é o nosso principal, em seguida, estrategicamente como já comentei a venda do leite. E a terceira forma de receita é a comercialização de animais e embriões. Vendemos os machos que nascem na fazenda, criamos e vendemos para tourinho de monta natural, vendemos também genética em forma de animais, novilhas e animais em lactação. Outro ponto de venda que temos também é a venda de embriões para Minas e outros Estados.
DIFERENCIAIS
JH: O leite para a produção de queijo possui características específicas?
EB: O nosso plano é dividido da seguinte forma: dentro de produção 40% dessa característica em cima de quantidade de proteína, 50% saúde, 20% vida produtiva, 30% fertilidade e 10% conformação em cima de composto de úbere. Quanto mais proteína o nosso rebanho carrega, mais eu vou ter rendimento na produção do queijo e automaticamente vamos ter mais lucro com o nosso negócio, leite transformado em queijo. Claro que genética precisa de condições para poder se expressar e nós conseguimos selecionar geneticamente, mas também investimos em alimentação de ponta, trabalhamos com vários subprodutos dentre eles alfafa, caroço de algodão, feno de tifito; dentro de proteína a casquinha, o farelo de soja, o núcleo hoje com óleos essenciais tirando completamente o antibiótico da nutrição. Tudo isso é para ter uma alimentação segura para o animal transformar esse bom alimento em queijo de qualidade. Hoje temos bons índices de sólidos, trabalhamos acima da média da raça com 3.5 de proteína, 3.8 a 3.9 de gordura, isso tudo se deve ao conforto dos animais, ao Compost Barn, aos banhos que eles recebem e também a alimentação e genética.
TABUS
JH: Muitos afirmam que é impossível fazer um bom queijo 100% com leite Holandês. E aí?
EB: Risos…Na realidade, qualquer raça hoje consegue produzir queijo de qualidade, basta ter seleção. Os números que conseguimos de sólidos hoje com a raça Holandesa, 100% confinada são tão bons se não são até melhores do que qualquer outro rebanho. Lembrando que a raça tem em média próxima de 40kg por animal dia, aonde dilui bastante os sólidos, mesmo assim conseguimos bons índices talvez o nosso litro de leite transformado em kg seja um dos melhores dentro do Estado, pois tenho foco e a raça Holandesa é tão boa quanto qualquer outra raça. Exige, sim, como qualquer outra raça. Eu confesso que o leite de Holandês produz um queijo de altíssimo sabor e muito autêntico.
JH: Você acredita que é um mercado pouco explorado pelos criadores da raça Holandesa?
EB: Na verdade não é que o mercado é pouco explorado. A produção de queijo por ser um processo artesanal não é tão simples produzir queijo e as pessoas que focam na raça Holandesa estão muito ligadas a volume. É mais comum você ver a produção de queijo com os pequenos. Poderia ser mais explorado sim pela raça desde que as pessoas saibam que é o fator artesanal que diferencia o produto e o fator humano que vai dar também o sabor nessa produção. São as famosas receitas caseiras. A raça pode ser explorada sim, tem potencial para produzir queijo de qualidade, mas é fundamental ter foco, pois o resto é consequência do trabalho.
ASCENSÃO
JH: Em poucos anos você tem conquistado cada vez mais um respeito grande do mercado. O que se deve esse crescimento tão rápido?
EB: Alguns pontos são chamam a atenção na fazenda, primeiro produzir um volume alto de leite em pequena área, a história de vida de uma vaca até hoje 8 mil litros de leite em pouco tempo, números zootecnos eficientes, e aí? Isso veio através de onde? Nada é de graça…Nada é por acaso… Tudo isso vem de foco. De onde vem esse respeito que a fazenda vem colhendo ano a cada ano? De um trabalho muito sério, estar cercado de pessoas capacitadas, de boas consultorias, a equipe da fazenda é o nosso maior tesouro, cada um em sua área focado em resultados e isso faz muita diferença. Esse crescimento rápido é mérito das pessoas que colaboram, das pessoas amigas que divulgam os números positivos e, sobretudo ter foco.
UNIÃO
JH: O Alto Paranaíba vem se organizando, se unindo na produção de leite, prova disso que a região é a segunda maior produtora no Estado. Como funciona essa harmonia levando em consideração que há pequenos, médios e grandes produtores?
EB: Acredito que essa harmonia dentro do ponto união é natural dessa região. Privilegiada pelo clima, altitude, pela região que é altamente produtora de alimentos ela vem ganhando um nome muito forte. Pelo que estamos vendo no mercado, ela tem uma tendência muito rápida a ultrapassar números bem otimistas, muitos investindo em confinamento, qualificando a sua alimentação e há muita área para plantio. Esse conjunto de fatores climáticos, aliado a logística, a empreendedores, a pessoas que enxergam o futuro faz com que a região se una. É uma mão de via dupla, todos se ajudando.
MÃO DE OBRA
EB: A mão de obra nunca foi um problema. Temos oito profissionais trabalhando na produção de leite, 12 na produção do queijo, expedição e logística e dois em BH nas vendas. Todo esse time está desde o inicio. Acredito que o faz as pessoas permanecerem na fazenda é o respeito mutuo, não existe patrão e empregado, eu acho feio falar essa palavra empregado, existe o gestor que sou eu, que coordeno e as pessoas que vestem a camisa, que sabem a importância dos resultados para a sequencia da fazenda. Eu sempre falo, a fazenda não é do Eudes, é de todos, pois se todos empenharem ela terá cada vez mais melhores resultados e terão o fruto do seu trabalho reconhecido em forma financeira e de respeito, conseguindo levar tudo isso para casa, tendo uma vida digna do fruto do trabalho. Se for resumir…É respeito mútuo.
A ASSOCIAÇÃO MINEIRA
EB: Sou associado desde 2011, e faço durante o ano o Registro Genealógico, o Controle Leiteiro e a Classificação Linear para Tipo. Esses serviços são muito importantes para todos os negócios. É a segurança de um rebanho catalogado, de um rebanho que tem acompanhando dos seus números. Quando vendemos os animais não é a fazenda que fala…esse animal produz…esse animal é assim…Nós temos o respaldo da Associação Mineira que garante todos os índices de classificação, de produção e genealógicos. No nosso negócio, a venda de genética é essencial trabalhar com a Associação. E para o negócio do queijo automaticamente ela faz parte aonde conseguimos também escolher os nossos melhores animais não somente por características genotípicas como também por características fenotípicas.
DIVULGAÇÃO
EB: Não podemos ser, como dizia o meu pai e a geração dele, tiradores de leite. Nós somos empresários do leite, como qualquer outra empresa temos que vender o nosso produto. Muitos comentam…Há mas eu vendo para o laticínio… Mas porque você não faz um belo trabalho e mostra para ele, ou mesmo para o concorrente do seu laticínio? Por que não foca em um trabalho especializado no leite, focado em desempenho para vender melhor o seu produto? Para ter mais empresas interessadas no seu produto?
JH: Aonde encontramos o Queijo Eudes Braga?
EB: O nosso foco é Belo Horizonte aonde atendemos principalmente os supermercados Super Nosso e Epa. Atendemos também algumas cidades do interior de Minas Gerais, mas já estamos ampliando conversando com nos estados de São Paulo e Santa Catarina.
RECONHECIMENTOS
EB: Dentro da raça Holandesa conquistamos em 2019 o título máximo, como Criador Master e vamos repetir essa conquista em 2020. Ele é uma consagração do trabalho feito e trago com muito orgulho para toda equipe. Ele é um xeque mate que temos conquistá-lo não é fácil, mas é o que estamos sempre buscando e a importância dele é mostrar para todos que vale a pena lutar e ter foco!
FUTURO
EB: Colocar o nosso queijo além do Estado e também fora do país. Estamos selecionando os animais betacaseina, A2A2 queremos saber quem são eles, selecionar e produzir um queijo de vaca A2A2. Estamos ampliando as instalações para ter um maior tempo de maturação do queijo para acrescentar mais sabor e atender um público mais exigente. O futuro nos espera…
ORGULHO
EB: Ver o nosso queijo na mesa do consumidor, ver o idoso, famílias, crianças degustando o nosso queijo. É um orgulho saber que o nosso trabalho, o nosso esforço está na mesa dessas pessoas. É muito orgulho por saber que estou contribuindo para a vida. O nosso queijo é uma pedrinha na construção desse universo, que honestamente está chegando na mesa do consumidor. O queijo para mim é tudo… No inicio era uma necessidade de sobrevivência, em 2004 virou um sonho, em 2020 uma realidade e em 2021 consequentemente é aquilo que vai fazer muitas famílias serem sustentadas e com qualidade de vida!
DOCE SEM QUEIJO É COMO ABRAÇO SEM QUEIJO?
EB: É a harmonização de sabores incríveis…Por meio do queijo, nós consumidores podemos ter uma experiência fantástica de sabores. Vale a pena usar a criatividade e harmonizar o queijo com outras delícias da nossa culinária!
AGRADECIMENTO
EB: Tenho um grande respeito pela raça e pelos animais, pois é deles que provem o nosso sustento. E também todo respeito àqueles que nos antecederam, pois quando comecei me espelhei muito neles, como se diz, quando crescer quero ser igual a eles. E de uma forma muito simples, sou uma pessoa privilegiada com bons amigos, uma bela família, um pai e uma mãe que me ensinaram tudo. Eles nunca me deram nada na vida, mas me ensinaram duas coisas essenciais: o meu pai sempre falou que o trabalho é que dignifica o homem e a minha mãe sempre disse que o amor e respeito é que conquistam as coisas da vida. Eles foram meus alicerces, devo a eles a pessoa realizada que sou hoje!