O associado Augusto de Araújo Campos Neto e seus dois filhos unem suas experiências com o objetivo de aumentar cada vez mais a produção de leite
Reunir a família no campo é sempre um grande desafio, mas dessa vez a coluna ASSOCIADO EM PAUTA mostra como gerações e experiências diferentes podem agregar no negócio. O nosso bate-papo é com o associado Augusto de Araújo Campos Neto, proprietário da fazenda Córrego da Menina, localizada no Centro Oeste Mineiro, no município de Quartel Geral – MG.
Detentor do afixo Córrego da Menina, ele é associado há cerca de dez anos na Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais, mas o seu envolvimento com a raça Holandesa tem mais de 28 anos e tudo começou por incentivo de companheiros que já estavam no ramo.
Augusto e seus dois filhos trabalham diariamente na fazenda e mostram que cada com o seu conhecimento contribui com o crescimento da propriedade. De forma incansável, esse trio está focado em melhorar cada vez mais todos os processos da fazenda, aumentando assim a produtividade.
OS BASTIDORES
Atualmente a fazenda possui um galpão em sistema de Compost Barn, para a criação de vacas em lactação e pré-parto, atualmente aloja próximo de 450 vacas em lactação e 50 vacas no pré-parto. O bezerreiro funciona em sistema de casinhas e semi-argentino. A recria é confinada em sistema de pista e as vacas secas recebem um “lanche” pela manhã e a pasto.
Para a produção de leite, conduzimos apenas com a raça Holandesa, pois hoje no Brasil ainda se valoriza mais o pagamento por volume e o Holandês é a de maior produção.
DESAFIOS
O desafio maior foi criar a raça a pasto sem confinamento em galpões, pois a partir da apuração da raça ela requer mais investimento em conforto e esse investimento só veio acontecer em 2015. Até então a perda era grande por estresse calórico, doenças devido a baixa imunidade, problemas de casco, infertilidade, produtividade baixa entre outros contratempos gerando um descarte muito grande do rebanho. Após fornecermos o conforto que nossas vacas necessitavam com a construção do Compost Barn, essas dificuldades reduziram bastante, possibilitando a fazenda mudar seu patamar de produção e a cada ano ganhar mais produtividade.
GERAÇÕES
Hoje meus dois filhos estão envolvidos na fazenda na criação da raça Holandesa. Eles já encerraram o curso superior e escolheram voltar para trabalhar na propriedade. O mais velho é o Augusto, Engenheiro Agrônomo e o mais novo é o Dr. João Vitor, Médico Veterinário, sendo assim este cuida da parte reprodutiva e sanidade do rebanho e o outro na área da alimentação do gado e agricultura para produzir a alimentação dos animais. Na realidade iniciei sozinho a produção de leite na fazenda sem formação acadêmica, hoje fico mais na gerência geral.
TEORIA X PRÁTICA
A diferença de geração gera sempre controvérsias, isso é normal, porém procuramos nivelar essas diferenças com diálogos, reuniões e exemplos de prática. Apesar de eles serem criados no ramo, adquiriram teorias na faculdade e voltam para casa, pensando que essas teorias superam a prática, o que não é verdade! Pois teoria e prática se fundem para o progresso. Muitas das vezes acontecem situações na fazenda que eu já vivenciei em outro momento, seja uma doença em uma vaca, uma condução de lavoura, ou até um problema mecânico, e eu sei a melhor forma de resolver que muitas das vezes é diferente da que eles aprenderam em suas formações. Assim eu ensino como resolver e eles aprendem e entendem que aquela seria a melhor forma, pois estão vendo na prática a realidade. Algumas vezes eu os deixo errar para que aprendam com o erro, e muitas outras vezes também eu aprendo com eles, com novidades que trazem como já ocorreu em muitas situações.
E AS FORMAÇÕES SE CONFUNDEM?
Um Agrônomo e o outro Veterinário… Na verdade, como a fazenda possui vários setores e são setores que dependem da supervisão das duas profissões, fica bem dividido o trabalho entre eles, mas sempre um ajuda o outro quando necessário e não são muito de entrarem um na área do outro. Na hora da tomada de decisões mais importantes muitas das vezes elas são passadas para eu decidir, após as opiniões deles, assim fica tudo nas minhas mãos.
ZONA RURAL OU URBANA?
A mão de obra hoje é um problema, pois a geração atual que procura trabalho chega totalmente despreparada, com pouca responsabilidade e comprometimento. A maioria não tem noção do que é uma atividade leiteira, necessitando de muito treinamento e às vezes não dão sequência no aprendizado, abandonando o emprego. Infelizmente temos que contratar outros e começa todo treinamento novamente e assim vai. Dessa forma, para tentar amenizar essa situação estamos tentando implementar novos modelos de gestão de pessoas dentro da propriedade, o que não é fácil, pois necessitamos de mudanças até mesmo na nossa forma de pensar e também dos outros funcionários mais antigos. Mas são com essas mudanças na base do diálogo em pequenas reuniões diárias, no treinamento correto, na gestão visual que iremos encontrar a melhor forma de envolver as pessoas na produção da fazenda.
Como na minha região a população é de baixa renda e o forte é agricultura e pecuária, os jovens não tem como fugir desse meio. O importante é que em termos de salário o da zona rural sobrepõe o da zona urbana em minha região. Outra observação que os jovens precisam fazer é que o que sustenta o nosso país hoje é o agro, é o setor que mais cresce, logo é onde haverá maiores oportunidades de trabalho e de crescimento profissional.
QUE SISTEMA ESCOLHER?
O sistema de produção escolhido foi o de Compost Barn, temporariamente. Nós escolhemos esse sistema em 2015 como parte do processo de montagem de nossa estrutura, pois ele tem um custo de implantação mais baixo e isso nos permite um tempo maior para a arrecadação de capital financeiro, mas temos como propósito montar o Free Stall, pois hoje temos dados suficientes mostrando que os custos de manutenção de um Free Stall são menores que o de um Compost Barn, sem falar que se aloja um número maior de animais na mesma área.
MÁXIMO DE APROVEITAMENTO
A fazenda depois que confinou o rebanho de leite as áreas de pastagens passaram a sobrar e foi onde começou a atividade de gado de corte com nelore e também recriamos os machos Holandeses para a venda de tourinhos e para o corte.
O foco da propriedade ainda é aumentar o volume produzido, pois a estrutura ainda suporta e para isso tem-se um foco muito grande em melhoramento genético.
NEGÓCIOS ALÉM DO LEITE
Atualmente não vivemos apenas do leite. Com o confinamento do Holandês sobraram as áreas para a criação do gado de corte, o Nelore. Além disso, temos também a venda de tourinhos Holandeses para reprodução, e os que não passam pela seleção vão para o corte. Do ano passado para cá também começamos com a venda de novilhas e atualmente estamos também com a venda de embriões. Mas lembrando, o que permitiu tudo isso foi o leite.
Hoje fazemos parte do Sebrae Educampo, onde temos todos os custos da fazenda fechados. A partir daí junto com toda a equipe técnica (Reprodução, Nutrição e Sanidade) são tomadas as decisões de qual setor está tendo gastos fora dos normais e descobrir o real motivo de estar fora do padrão da fazenda.
ATENÇÃO
Hoje estamos passando por um momento de muitas incertezas, o mercado está muito imprevisível como preços oscilando todos os dias, entre outros contratempos. Então no meu ponto de vista o criador deve estar sempre atento aos preços dos alimentos, pois esses são responsáveis por 50% dos custos das fazendas (na grande maioria das vezes). Outra parte em que o produtor tem que ficar atento é em relação ao conforto dos animais, que está diretamente relacionado ao desempenho dos mesmos. E também tentar ser sempre eficiente nas compras de insumos, procurar fazer cotações, não olhar somente o preço, pois muitas vezes o barato sai caro, mas não comprar coisas de forma exacerbada e sem necessidade.
CUSTOS x BOA NUTRIÇÃO
Complicado, o que temos que tentar fazer é produzir lavouras com maiores produtividades para diluir os custos, e ter animais eficientes, pois não temos muitas variedades de alimentos na região sem perder qualidade.
QUALIDADE GARANTIDA
A decisão de associar-se a raça Holandesa veio a partir do momento em que começamos a ter um comércio de animais mais frequente, com isso a necessidade de documentos que garantissem a qualidade dos nossos animais. Para isso hoje utilizamos os serviços de Registro Genealógico, Controle Leiteiro Oficial e a Classificação Linear dos animais.
FUNDAMENTAL
Para ser um criador de Holandês é preciso ter peito, coragem e cuidados, pois a raça Holandesa é muito melindrosa, já que exigimos tanto do animal, por que não dar uma atenção melhor para as vacas? Afinal são elas que pagam as contas!!!
E O AMANHÃ?
Os planos para o futuro são aumentar a produção de leite com base na melhoria contínua, melhorar o conforto dos animais, o conforto dos funcionários, melhorar a qualidade do volumoso produzido, melhorar a estrutura em geral da fazenda. O próprio nome já diz “Fazendo”.