As obras estão a todo vapor na Fazenda Bom Retiro, do associado Amauri Pinto Costa com a ampliação da recria e a construção de um laticínio
A coluna ASSOCIADO EM PAUTA conversou com uma jovem, mas já determinada e focada em ampliar os negócios. O nosso bate-papo foi com Anna Pinto, filha do associado Amauri Pinto Costa, da Fazenda Bom Retiro em Pouso Alto – MG. Formada em Gestão do Agronegócio – UFV, atualmente ela é a Gerente de Pecuária Leiteira dividindo as responsabilidades com o pai que ocupa o cargo de Diretor. “Sempre fomos muito abertos um com o outro e conseguimos nos entender bem, com bastante diálogo e paciência”, comenta.
A propriedade possui muitas inovações que vão desde o bezerreiro utilizando um sistema de gaiolas suspensas até a ordenha carrossel. Anna compartilha os benefícios e desafios na hora de ampliar a estrutura. E as obras estão a todo vapor com a ampliação da recria, além da construção de um laticínio. “O projeto da marca vai muito de encontro com a nossa forma de trabalho e o que acreditamos da qualidade e excelência operacional ao bem-estar animal.”
HISTÓRIA
As atividades na fazenda tiveram início em 1982 com o arrendamento da Fazenda Bom Retiro pelo meu pai. De 1982 até 1997, o sistema da fazenda consistia na produção de leite com vacas mestiças a pasto e pouca suplementação. Em 1997 foi iniciado o projeto de pastejo rotacionado com alta densidade de animais, forçando uma suplementação para melhor aproveitamento do potencial genético do rebanho.
Em 2011, o sistema passou para confinamento, com a construção de um free-stall com 504 camas. De lá pra cá o aumento das instalações e animais foi contribuindo para uma melhoria não só no manejo, como no acompanhamento de números, permitindo uma grande evolução na produtividade.
CONVIVÊNCIA
Comecei a trabalhar como estagiária na fazenda logo depois de formada, em 2013, com a parte de lançamento de dados. Me interessei e passei a acompanhar de perto as atividades dos funcionários e todos os manejos com os animais, revendo depois a forma como faziam e buscando novas ideias e soluções. O que considero de maior valia no meu processo de aprendizado foi justamente ter ficado direto “no campo”, para entender realmente as particularidades. E tudo vem com o tempo, e a persistência e vontade de querer aprender e crescer. Hoje, como gerente da fazenda divido muito mais as responsabilidades do negócio com meu pai, que atua como diretor. Tivemos sim as diferenças no início, para adaptar a essa nova relação dentro do trabalho, e principalmente como separar isso dentro de casa. Mas sempre fomos muito abertos um com o outro e conseguimos nos entender bem, com bastante diálogo e paciência.
PRESENÇA FEMININA NO CAMPO
Não dá pra negar que ainda é sim muito masculino, embora já tenha hoje muitas fazendas administradas por mulheres, a conquista pelo nosso espaço é um desafio. Dentro da fazenda, eu acredito que o que me ajudou foi o fato de eu ter iniciado como estagiária mesmo. Ficando ao lado dos funcionários nos manejos, e querendo aprender com eles. Afinal de contas, eu não sabia nada de vaca! Então, era só ouvir, e aprender. E depois ganhando confiança para que eu pudesse realmente gerenciar.
Tive mais dificuldade com as pessoas de fora que vinham à fazenda, ou em congressos, simpósios etc. Você consegue sentir que algumas pessoas simplesmente não vão te ouvir ou mesmo olhar da mesma forma, por você ser mulher. Eles podem perceber depois que você é capaz, ou não. Mas isso independe de como você vai trabalhar e buscar crescer.
PAIXÃO PELO LEITE
Nasceu talvez da minha mania de querer organizar e ser eficiente, e quando percebi quanta coisa tem que estar encaixada para a vaca dar leite, fiquei fascinada pela atividade, e com muita vontade de buscar o melhor para a Fazenda.
ESTRUTURA
A Fazenda atualmente está com 970 animais em lactação, produzindo em torno de 34 mil litros diariamente. Os animais são alojados em dois free-stalls e um compost barn, onde ficam hoje animais de baixa produção, vacas secas, pré e pós parto imediato até 7 dias. Na parte de recria, temos hoje uma estrutura adaptada de tie stall que funciona como um compost, e depois um free-stall para bezerras de 5 a 9 meses. Até 21 dias antes do parto elas ficam em piquetes.
Como surgiu o desejo de investir em uma ordenha no formato carrossel?
Na verdade, tivemos que aumentar nossa ordenha, pelo projeto de aumento de rebanho. E a escolha pelo carrossel se deu justamente pela forma de trabalho dela, beneficiando animais e pessoas.
Como ela funciona?
A ordenha carrossel é considerada uma ordenha gentil, não só com os animais, mas principalmente com as pessoas que trabalham nela, pela ergonomia do trabalho. Elas ficam paradas, e as vacas vão entrando à medida que a plataforma vai girando. É bem silenciosa e tranquila.
Porque vocês reestruturaram o sistema de criação das bezerras e como ele é atualmente?
Tivemos que reestruturar nosso sistema de criação de bezerras também pelo aumento do rebanho que teríamos. O nosso formato antigo era um argentino, que rodava muito bem, porém ficava bastante limitado com um número alto de bezerras. E principalmente pelos desafios na época de chuva. Então fomos para o sistema de gaiolas suspensas. Visitamos alguns projetos para definir o que melhor se encaixaria aqui, pegamos várias opiniões, e optamos por esse sistema. Construímos dois barracões, com capacidade para 400 bezerras total. Fizemos a gaiola aqui, e colocamos piso de gaiola de suíno. A lavagem é feita fora do barracão, a fim de evitar o uso de água dentro. Usamos cortinas para proteger as bezerras em dias mais frios, e também ventiladores, acionados quando a temperatura atinge 22°.
E quais os benefícios desse sistema?
O principal benefício é o melhor controle do ambiente ao qual a bezerra está. Mas o que também pode se tornar um inimigo se não for bem controlado e limpo. Pois a chance de alguma doença se espalhar é maior, pela concentração dos animais. No geral vai muito bem, e trouxe um maior ganho de peso dos animais.
SUSTENTABILIDADE
Sabemos do impacto que uma fazenda desse porte pode ter no meio ambiente, e nos preocupamos para que seja o menor possível. A principal ação que temos nesse sentido é com relação aos dejetos. Todo o dejeto dos três barracões que abrigam as vacas hoje é direcionado para uma separação. O sólido é utilizado para adubação nas áreas de plantio. O líquido vai para 3 células de biodigestor. O gás gerado ali é encaminhado para a rede de energia, e abate da nossa conta mensal de consumo. O lado positivo é que, na falta de energia, temos um gerador que consegue tocar toda a ordenha e tanques. E, além disso, após o processo do biodigestor, o dejeto líquido sai das células e fica numa piscina, e daí é direcionado para as áreas de produção de capim, com auxílio de um carretel, que faz esse bombeamento e distribuição pelas áreas de corte.
Além disso, temos dentro da fazenda uma estação de tratamento de água, e uma piscina para captação de água de chuva, que é coletada em todos os barracões.
ECONOMIA
Quais as maiores dificuldades na hora de gerenciar uma grande produtividade?
O maior desafio, e não dificuldade, é na formação da equipe. Que compre a sua ideia, que faça do trabalho uma oportunidade de desenvolvimento, e que seja comprometido com os resultados. O modelo ideal é que a fazenda caminhe sem a presença constante do dono.
A alimentação pesa bastante nas contas… Como driblar as constantes altas?
Sim, é o que pode definir as vezes a continuação no negócio, ainda mais numa escala menor. Acredito que sendo eficiente na produção de um bom volumoso, e fazendo caixa para conseguir aproveitar as oportunidades de compra que podem surgir.
ASSOCIAÇÃO
Acreditamos que o caminho natural do negócio seja atingir nossa expectativa de evolução de rebanho, e daí poder vender animais com alta qualidade genética, tendo o registro como a garantia dessa preocupação nossa.
O AMANHÃ
Estamos hoje estabilizados por conta da lotação nas instalações. Porém nossa meta é aumentar o número de animais em lactação para 1.100, por isso já estamos focando no aumento da recria, construindo dois compost barn para alojar animais pós desmama até a prenha.
Estamos também finalizando a construção de um laticínio, em sociedade, e ainda esse ano teremos nosso leite tipo A à venda. O projeto da marca vai muito de encontro com a nossa forma de trabalho e o que acreditamos, da qualidade e excelência operacional ao bem-estar animal.”