Timotheo Souza Silveira | Superintendente Técnico da ABCBRH
Claudio Napolis Costa | MS Zootecnia, Ph. D. Melhoramento Animal e Pesquisador Embrapa Gado de Leite
“A incorporação de outras características de importância econômica nos objetivos de seleção é uma realidade no cenário internacional em expressar o agregado genotípico das características produtivas, reprodutivas, resistência a enfermidades e funcionais, em índices de seleção.”
OBJETIVOS E ÍNDICES DE SELEÇÃO
A produtividade do rebanho é um componente importante da eficiência técnico-econômica dos sistemas de produção de leite. O desempenho do rebanho, além das práticas de manejo, depende do seu padrão genético, cuja melhoria pode ser realizada pela seleção e acasalamento dos animais de melhor potencial genético para as características de importância econômica. Nesse particular, os animais devem apresentar um padrão genético equilibrado para permitir um bom desempenho durante a vida produtiva, ou seja, a redução de descartes por baixa produção, problemas reprodutivos, complicações no sistema mamário ou em outras funcionalidades.
A importância do desempenho do rebanho para a rentabilidade dos sistemas de produção de leite promoveu o interesse por outras características auxiliares, que passaram a ser consideradas nos programas nacionais de seleção, no sentido de melhorar a eficiência da produção animal. A incorporação de outras características de importância econômica nos objetivos de seleção é uma realidade no cenário internacional em expressar o agregado genotípico das características produtivas, reprodutivas, resistência a enfermidades e funcionais, em índices de seleção.
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DE ÍNDICES DE SELEÇÃO
Atualmente, quase todos os países utilizam um índice de seleção para o mérito total, objetivando a obtenção de animais equilibrados quanto ao desempenho para as características produtivas, reprodutivas, resistência a enfermidades e funcionais. Uma avaliação dos objetivos e dos índices de seleção aplicados nas populações de bovinos leiteiros mostrou o interesse de vários países em também se dar ênfase às características não produtivas (Miglior et al., 2005).
As características incluídas nos índices de seleção podem ser classificadas em três grupos: produção e componentes do leite, que contribuem para maior renda; durabilidade ou características relacionadas ao aumento da renda, devido à maior vida produtiva ou permanência da vaca no rebanho; e as características relacionadas a saúde e fertilidade, que contribuem para reduzir o custo de produção, ou seja, os custos com perdas por descartes e tratamentos com enfermidades e complicações reprodutivas.
A análise dos diferentes índices mostra que a ênfase colocada em cada grupo de características pode variar, ou seja, não há um objetivo de seleção único que seja o melhor para uma população. As diferenças entre os países são devidas a diferenças nos mercados, sistemas de produção, custos e tipos de alimentos, disponibilidade de registros zootécnicos e sistemas de pagamento da indústria de laticínios.
Assim, em vários países procura-se definir um indicador de mérito genético para a rentabilidade da vida produtiva do animal, ao integrar as características produtivas, reprodutivas e funcionais, relacionadas a saúde, longevidade e fertilidade animal aos objetivos de seus programas de seleção.
No Brasil o critério de seleção nos programas de seleção das raças leiteiras geralmente inclui apenas as características registradas no controle zootécnico. Até recentemente o volume ou quantidade de leite era o principal componente da rentabilidade dos sistemas de produção, mas este processo têm evoluído com a valorização dos componentes e da qualidade do leite pela indústria de laticínios.
Neste sentido, em 2021, a Associação Brasileira de Criadores da Raça Holandesa incluiu as características porcentagem de gordura e de proteína no portfólio de seu Sistema de Avaliação Genética. Da mesma forma, no Sistema também foram incluídas as características reprodutivas – Taxa de gestação e Idade ao primeiro parto.
Em síntese, o Índice de seleção representa o objetivo de seleção para a produção de um animal eficiente, equilibrado, de qualificada estrutura de conformação corporal para com a aptidão leiteira e elevados desempenhos produtivo e reprodutivo. Assim, o Índice de seleção é uma forma de combinar informações sobre várias características e explorar o potencial benefício das correlações entre elas. O Índice é um indicador de mérito genético que pode ser usado para classificar os animais, para a sua seleção.
ÍNDICE DE SELEÇÃO GENÉTICO – ISG
Neste ano de 2021, o CDT da ABCBRH promoveu uma avaliação do ISG, decidindo pela inclusão de novas características. Duas delas representando a composição qualitativa do leite, mensuradas na análise laboratorial de amostras de leite coletadas no controle leiteiro – as porcentagens de gordura e de proteína e mais duas representando a eficiência reprodutiva, mensuradas pela Idade ao primeiro parto e pela Taxa de gestação no pós-parto. Decidiu-se para a sua aplicação a partir das AG oficiais divulgadas em Agosto de 2021, realizadas com os registros zootécnicos de todos os rebanhos participantes dos serviços de controle leiteiro, genealogia e da classificação da conformação para tipo da raça Holandesa, no Brasil.
Assim definido, o Índice de Seleção Genético – ISG passou a incluir mais dois grupos, totalizando cinco conjuntos de características: Produção, Composição de sólidos do leite, Saúde do úbere (ECS), Reprodução e Conformação, com o objetivo de promover, respectivamente, o aumento das produtividades de leite, gordura e proteína; a redução das perdas por mastite, a melhoria da eficiência reprodutiva e da estrutura e capacidade funcional dos animais.
No seu cálculo, a PTA de cada característica, dividida pelo respectivo desvio-padrão, é ponderada pelo valor atribuído à sua importância relativa para com o ISG, que é assim o indicador do mérito genético agregado do animal.
Os valores de ISG foram calculados para os animais avaliados para todas as características de produção, composição, reprodução, ECS e de conformação. Portanto, não é possível calculá-lo e assim não está disponível para os animais sem avaliação genética para qualquer uma delas.
Os valores de ISG de touros e vacas são apresentados, juntamente com as demais características avaliadas, no Sistema WebLeite da ABCBRH e nas Tabelas e Relatórios disponíveis no Site das Avaliações Genéticas da raça Holandesa.
Neste ano, o ISG é apresentado para 830 touros, nascidos após 1999, com progênie em, no mínimo, cinco rebanhos (Tabela 1). É também disponibilizado para 34.654 vacas, fillhas de 1.154 touros, nascidas a partir de 2010, em 387 rebanhos nos Estados do ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP (Tabela 2).
TENDÊNCIAS E GANHOS GENÉTICOS
Nas Figuras abaixo são apresentados as tendências e os ganhos genéticos para o ISG de touros e de vacas, resultantes da Avaliação genética nacional da raça Holandesa, em 2021.
As tendências genéticas observadas resultaram em estimativas de taxas de ganho de 5,7 e 8,8 unidades/ano no ISG de touros e vacas, respectivamente.
Tais valores indicam que o padrão do agregado genotípico (compreendido pelas características que compõem o ISG) apresentou uma evolução conjunta favorável e consistente, mas com ligeiro viés de estabilização nos últimos anos que definem os respectivos períodos de nascimento.
Neste sentido, é importante estar atento ao padrão genético de touros e vacas selecionados para acasalamento, para promover a continuidade da tendência de ganhos positivos no agregado genotípico da raça Holandesa, no Brasil.
Fonte: Milkpoint