Você sabia como as estações do ano podem interferir na contagem de células somáticas – CCS do leite de vacas Holandesas?
Vamos para o terceiro artigo da série “CIÊNCIA”. Nessa edição você ficará sabendo como as estações do ano podem interferir na contagem de células somáticas – CCS do leite de vacas Holandesas no estado de Minas Gerais. A Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais contribuiu com os pesquisadores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. O Diretor Executivo da ACGHMG e Médico Veterinário, Dr. Diego Charles de Almeida Santos foi coautor dos trabalhos. Acompanhe as edições e fique por dentro das novidades!!!
Influência das Estações do Ano na Contagem de Células Somáticas no Estado de Minas Gerais
Jannilson Gonçalves Barroso, Juscilene Aparecida Silva Pacheco e Gabriela da Conceição Alves, João Inácio Gomes Vieira, Luís Cláudio Coelho Maciel
Graduandos em Zootecnia – UFVJM, Diamantina MG. Membros do Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira – Nepel.
Gabriel Machado Dallago
Zootecnista, mestrando em Zootecnia – UFVJM, Diamantina MG. Membro do Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira – Nepel.
Lucas Rabello Mourão Barroso
Graduando em Agronomia – UFVJM, Diamantina MG. Membro do Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira – Nepel.
Diego Charles de Almeida Santos
Diretor Executivo da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG.
Roseli Aparecida dos Santos
Docente do Departamento de Zootecnia – UFVJM, Diamantina MG. Orientadora do Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira – Nepel.
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo, avaliar a influência das estações do ano na contagem de células somáticas – CCS do leite de vacas Holandesas no estado de Minas Gerais. Foram utilizados dados coletados no período compreendido entre 1992 e 2016 em 128 propriedades leiteiras do estado de Minas Gerais. Os dados foram fornecidos pela Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG. O banco de dados fornecido continha a média da contagem de células somáticas de um total de 81682 lactações, com duração de 305 dias, além do registro das datas dos partos. Uma terceira variável categórica foi criada, indicando a estação do ano na qual ocorreu o parto. As análises foram conduzidas seguindo um delineamento inteiramente casualizado, onde as estações do ano foram consideradas os tratamentos e a variável resposta foi à contagem média de células somáticas. Os valores médios de CCS foram estatisticamente menores (P < 0,05) n o inverno (período seco) do que nas demais estações do ano, que por sua vez não diferiram estatisticamente (P > 0,05), sugerindo que maiores cuidados devem ser tomados nas épocas em que se tem a maior incidência de chuvas.
Palavras–chave: CCS, leite, manejo, parto, qualidade, vaca Holandesa.
Introdução
O acompanhamento de todas as etapas de produção do leite, desde a formação do rebanho até a sua entrega na usina de beneficiamento, é necessário para a obtenção de um produto de qualidade e apropriado para o consumo, garantindo assim a segurança alimentar e a sua composição nutricional (LIMA, 2004). Fatores como sanidade, alimentação, período de lactação, higiene na ordenha, armazenamento e estações do ano são fatores que podem alterar a qualidade do leite.
A contagem de células somáticas (CCS) do leite constitui um importante recurso para o monitoramento da qualidade e da saúde da glândula mamária nos rebanhos, pois o número de células somáticas aumenta em resposta à inflamação do úbere, servindo então como indicador da ocorrência de mastite subclínica e de possíveis perdas econômicas decorrentes da enfermidade. As células somáticas são naturalmente encontradas no leite bovino devido à descamação da glândula mamária. Porém, em um animal sadio, a CCS é baixa, tendo valores inferiores a 250.000 células/mL de leite. Entretanto, a Instrução Normativa 62 (IN 62) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2011) considera valor de CCS dentro da normalidade até o número de 400.000 células/mL.
A CCS é uma análise realizada em laboratório, de forma eletrônica, que determina a contagem precisa de células somáticas em amostras de leite, tanto individuais quanto de tanque. É o método mais eficaz de monitorar a saúde do úbere e do rebanho como um todo. Além das infecções intramamárias, o estresse térmico durante as estações mais quentes do ano influencia negativamente a CCS. Diante disso, este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a variação na contagem de células somáticas no leite de vacas Holandesas no estado de Minas Gerais, ao longo do ano.
Material e Métodos
Os dados usados no presente trabalho foram obtidos de um banco de dados pré-existente, dessa forma não foi necessária a autorização da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Os dados utilizados no presente trabalho foram coletados nos anos de 1992 a 2016, em 128 propriedades leiteiras localizadas no estado de Minas Gerais. Os dados foram fornecidos pela Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG) e continha a média de CCS de um total de 81.682 lactações de animais da raça Holandesa, com duração de 305 dias, além do registro da data do parto e, consequentemente, início das lactações.
Uma terceira variável categórica indicando a estação do ano na qual ocorreu o parto foi criada, no seguinte esquema: o inverno foi relacionado com a época seca (seca), a primavera foi considerada como a transição do período seco para o período chuvoso (seca-águas), o verão foi associado ao período chuvoso (águas), e o outono, a transição águas-seca. As análises foram conduzidas seguindo um delineamento inteiramente casualizado, onde as estações do ano foram consideradas os tratamentos e a variável resposta foi a CCS, sendo realizadas no programa estatístico R, versão 3.4.1 (R CORE TEAM, 2017). Uma vez que o resultado do teste de Anderson-Darling indicou a não normalidade dos resíduos e, portanto, a análise de variância pelo teste F não válida, prosseguiu-se a análise de variância por meio do teste de Kruskall-Wallis, utilizando a função kruskall.test do pacote stats, adotando 5% como nível de significância. A comparação múltipla foi conduzida por meio do teste não-paramétrico de Dunn, usando a função dunn Test do pacote FSA, aplicando a correção de Bonferroni para o erro do tipo I e adotando 5% como nível de significância.
Resultados e Discussão
Não houve diferença estatisticamente significativa entre as estações primavera, verão e outono (P ≥ 0,05), quando foram registradas as maiores médias de CCS. Contudo, verificou-se diferença significativa (P < 0,05) entre o inverno e as demais estações do ano (Tabela 1). Os resultados demostram que durante o inverno (seca), a contagem média de células somáticas é menor. Durante a primavera, o verão e o outono, a temperatura e a umidade relativa do ar são maiores, o que favorece o estresse térmico, deixando os animais mais susceptíveis a infecções, favorecendo a incidência de mastite nesta época do ano (SANTOS, 2001).
Tabela 1. Contagem de células somáticas (CCS) média, em 305 dias de lactação,
de acordo com a estação do ano (época de ocorrência do parto)
Em geral, a produção de leite tende a diminuir no inverno (período seco) devido à escassez de forragem com boa qualidade, o que consequentemente, leva a um aumento na CCS. Porém, a suplementação alimentar, rotineiramente fornecida nessa época de seca, evita a queda na produção e também, uma maior resposta imunológica dos animais aos agentes patógenos. Além disso, é recorrente o aumento na CCS da primavera até o outono, época de maior incidência de chuvas, principalmente pelo aumento das sujidades aderidas ao animal, as quais dificultam a assepsia do úbere e favorecem a contaminação da glândula mamária (FONSECA & SANTOS, 2001).
A sanidade dos animais e procedimentos higiênicos no momento da ordenha são fatores imprescindíveis para que as CCS do rebanho não se elevem e cheguem a pontos críticos, os quais irão interferir na qualidade e quantidade de leite produzido. Assim, de acordo com os dados apresentados na Tabela 1, verifica-se que em todas as estações do ano, no período compreendido entre 1992 e 2016, as médias para CCS foram abaixo de 400 mil células/mL de leite, valor este considerado como padrão para um leite de qualidade, de acordo com a IN 51 (BRASIL, 2002). Isto sugere que os rebanhos estudados apresentaram, em média, bom manejo higiênico sanitário, o que garante, em parte, a qualidade do leite produzido e, posteriormente, comercializado.
Conclusões
De 1992 a 2016, os valores médios para a CCS foram menores para as vacas que pariram no inverno (período seco) do que nas demais estações do ano, em rebanhos da raça Holandesa no estado de Minas Gerais, sugerindo que maiores cuidados devem ser tomados nas épocas em que se espera maior incidência de chuvas.
Agradecimentos
Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG), Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira – NEPEL/DZO/UFVJM, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM e Departamento de Zootecnia – DZO/UFVJM.
Literatura citada
BRASIL. Instrução Normativa n. 51, de 18 de setembro de 2002. Regulamentos técnicos de produção, identidade, qualidade, coleta e transporte de leite. Brasília, DF: Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento, Secretaria de Inspeção de Produto Animal, 2002, 39p.
BRASIL. Instrução Normativa n. 62, de 29 de dezembro de 2011. Regulamento técnico de produção, identidade e qualidade do leite tipo A, o regulamento técnico de identidade e qualidade de leite cru refrigerado, o regulamento técnico de identidade e qualidade de leite pasteurizado e o regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel. Brasília, DF: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Inspeção de Produto Animal, 2011, 24p.
FONSECA, L.F.L.; SANTOS, M.V. Qualidade do leite e controle da mastite. São Paulo: Lemos, 2001. 175 p. LIMA, L. S.; Modelo de sistemas de gestão da qualidade para propriedades rurais leiteiras. 2004. 142 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade Federal de São Carlos, 2004.
R CORE TEAM. R: A language and environment for statiscal computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statiscal Computing, 2017.
SANTOS, M. V. A estação do ano e o estresse térmico influenciam a CCS dos rebanhos leiteiros ?: História. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/qualidade-do-leite/a-estaçao-do-ano-e-o-estresse- termico-influenciam-a-ccs-dos-rebanhos-leiteiros-16198n.aspx>. Acesso em: 25 set.2017.