Prof. Dr. Paulo Machado | Professor da Esalq/USP, professor titular em Bovinocultura de Leite, com 43 anos de experiência em gestão de fazendas e Diretor da Clínica do Leite
Foto divulgação ACGHMG
Ao decidir aperfeiçoar o sistema de gestão da fazenda, é comum o produtor ou o gerente se entusiasmarem com a implantação de diversas ferramentas que ajudam a organizar o fluxo de trabalho, engajar as pessoas e olhar para o negócio a mais longo prazo. Passada a empolgação inicial, no entanto, eles se deparam com um novo desafio: como avaliar se essas ferramentas estão contribuindo, de fato, para a melhoria dos resultados da fazenda?
Ao contrário do que muitos pensam, a resposta a essa pergunta não está apenas no saldo da conta bancária. Outros números são importantes para avaliar se o negócio está no caminho certo. Por isso, informação é um insumo fundamental ao trabalho de qualquer gestor. Imagine que a saúde da fazenda é bastante similar à do nosso organismo. Um bom médico dificilmente dá qualquer diagnóstico sem o auxílio de exames. E o que são os exames? Uma série de indicadores sobre a saúde humana, com base em padrões pré-estabelecidos.
O mesmo acontece com a fazenda. Precisamos de indicadores que apontem se estamos dentro ou fora do padrão esperado. E esse padrão pode ser definido a partir das exigências do seu cliente (é caso dos indicadores relacionados à qualidade do leite, por exemplo), e dos demais interessados no negócio, como os empregados, os acionistas e a sociedade.
A criação e o monitoramento de indicadores são parte importante do modelo de gestão desenvolvido pela Clínica do Leite para aplicação em fazendas produtoras de leite, o Sistema MDA. A nossa recomendação é que cada produtor mapeie todos os sistemas que compõem o sistema de produção (alimentação, ordenha etc.) e defina os indicadores que mostrem se os resultados de cada sistema estão sendo entregues. Além disso, deve-se mapear, também, o sistema de produção e o negócio como um todo. Para o sistema de produção teremos indicadores que refletem a entrega dos produtos do negócio, como é o caso da qualidade do leite e, para o negócio, os indicadores que expressam a saúde financeira da fazenda como, por exemplo, o caixa.
Definidos os indicadores, o próximo passo é compartilhar com a equipe, explicando sua importância para avaliar o desempenho do negócio. É essencial que os funcionários da fazenda compreendam que esse monitoramento não tem papel de fiscalização, mas sim de acompanhamento de questões cruciais para o sucesso na atividade — e, por consequência, para a manutenção dos empregos.
O registro dos indicadores pode ser feito diariamente pelo pessoal da área envolvida e deve ficar à vista de todos, sendo avaliados em reuniões semanais conduzidas pelo gerente ou proprietário. Com essa prática, em pouco tempo as pessoas passam a perceber problemas de forma quase imediata e colaborar mais para encontrar soluções. Ou seja, além de permitir avaliar resultados, o monitoramento de indicadores impulsiona o engajamento das pessoas.
Vale destacar, também, que uma fazenda com informações confiáveis consegue aproveitar muito mais o trabalho dos consultores externos. Assim como os médicos, eles precisam dos exames da fazenda, os indicadores, para identificar problemas e propor melhorias. Sem informação na mão, certamente haverá perda de tempo e de dinheiro!
Portanto, se você ainda não tem o hábito de monitorar indicadores na sua fazenda, é hora de repensar seu modelo de gestão. Só essas informações poderão dizer se o seu negócio tem saúde para seguir rumo ao sucesso.
Fonte: Milkpoint