O tipo de instalação usada para vacas leiteiras tem forte influência nos resultados de produtividade e sanidade do rebanho, bem como sobre a qualidade do leite por isso merece uma atenção especial do produtor.
O JORNAL HOLANDÊS disponibiliza o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado” Instalação do tipo “COMPOST BARN” para confinamento de vacas leiteiras”. O estudo foi realizado por Alexandre Valise Siqueira e orientado pelo prof. Marcos Neves Pereira, da Universidade Federal de Lavras.
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FACILIDADES E DIFICULDADES DO COMPOST BARN
Considerações do Zootecnista Alexandre Valise Siqueira sobre a construção e manejo do Compost Barn
CONSTRUÇÃO
Compost sem pista de trato
Muitos produtores estão fazendo compost sem pista de trato. Funciona, porém o manejo de cama precisa ser impecável, é preciso ter uma lamina acoplada no trator e pegar parte da “pista de alimentação” e deslocar para a parte mais seca da cama e consequentemente a parte mais seca na cama para a pista, com certeza aumentará a reposição de cama e o custo.
Outra dificuldade do compost sem a pista de trato é aonde será colocado os bebedouros. O melhor sistema que trabalho neste modelo tem uma área externa concretada, isso ajuda a manter a cama mais seca.
Se o intuito é não mexer com dejetos é possível voltá-los da pista de trato para a cama; conheço duas propriedades que trabalham dessa forma com sucesso.
Compost sem parede
Não ter paredes é o ideal, em minha opinião, a parede de 1,2 metros não tem boa funcionalidade para o nosso clima. Ela além de encarecer a construção ainda quebra a ventilação natural, e quando as vacas estão deitadas a situação piora.
O processo de compostagem deteriora o material, com isso há uma redução no volume de cama, isso junto com a compactação exercida pelas vacas faz com que a cama não atinja a altura para que a parede seja necessária.
A parede alta só deve existir para envolver o cocho de água de maneira que a vaca só consiga consumir água do lado da pista de concreto.
Outro problema da parede é a limitação de entrada e saída das vacas quando passa da pista de alimentação para cama, isso gera maior compactação e maior umidade no local.
O melhor sistema que trabalho baixou 40 cm em relação ao piso da pista de trato e subiu 20 cm em relação a pista, dessa forma ele colocou serragem necessária para igualar com o piso e com segurança de 20 cm para cima para repor a cama durante o ano, esta altura de parede julgo ideal pois permite que a vaca passe da cama para a pista de trato por qualquer lugar e isso não gera compactação e nem maior umidade e permite que as vacas deitem mais espalhadas pelo barracão.
Altura do pé direito
Existe a recomendação de 3,5 a 6 metros de altura, no caso do compost quanto mais alto melhor.
A temperatura do barracão se dá pelo calor gerado pela vaca, calor gerado pela cama e pelo sol que bate no telhado, todas essas situações geram uma massa de ar quente que consequentemente aumenta a temperatura do ambiente e da vaca. Se pegarmos uma vaca de 1,5 metros com o calor que ela gera mais um metro pra cima, o calor do sol mais 1 metros para baixo do telhado, chegamos em 3,5 metros de ar quente e ainda nem contamos o calor gerado pela cama. O ideal é que sobre espaço para amenizar a temperatura e a massa de ar seja trocada mais facilmente e esse é o motivo de existir o lanternim, pois ele melhora o fluxo de ar dentro do barração.
O compost mais ventilado que trabalho hoje tem 7 metros de pé direito.
VENTILADORES
Existem diversas marcas e modelos, eles precisam ventilar o máximo possível com o menor gasto, é fundamental que ajudem na retirada da massa de ar quente e na secagem da superfície da cama. Ventiladores de teto são econômicos mais não tem essa função de retirar o ar e o vento é fraco para reduzir a temperatura das vacas e secar a superfície da cama.
MATERIAL UTILIZADO NA CAMA
Indiscutivelmente a serragem e a maravalha são os melhores materiais, mas a serragem muito fina pode ser um problema. A maravalha se decompõe mais devagar e com isso a reposição é um pouco mais lenta.
Casca de café, em minha opinião, é o segundo melhor material para trabalhar, mais temos problemas com a disponibilidade em algumas regiões.
Palha de arroz tem muita sílica, isso atrapalha a compostagem, ela também é pontuda e pode fazer com que o animal fique menos tempo deitado devido ao incomodo.
Todo material orgânico serve para compostagem, mas é preciso conciliar com tamanho de partícula e tempo que este material vai decompor, pois a cama precisa atingir a temperatura ideal e recebe cargas diárias de fezes e urina.
REVOLVIMENTO DA CAMA
É necessário avaliar a categoria animal, lotação e o THI do local. Lugar muito úmido, lotes de vacas de alta produção, necessitam de ser revolvido mais vezes, no mínimo 2x no máximo 4x.
O escarificador ou subsolador são os mais utilizados, porém não revolvem a cama da melhor forma e deixa torrões, a enxada rotativa incorpora melhor, mas reduz bastante o tamanho de partícula e facilita a compactação pelas vacas.
A propriedade que trabalho que tem o melhor manejo possui os dois implementos revezando 3 dias com o escarificador e 1 com a rotativa.
Pode ser utilizado após a subsoladora uma grade para reduzir os torrões. Ter torrões não é problema, desde que ele esteja friável, ou seja, quando quebrado na mão ele esteja seco por dentro e quebre em particular pequenas.
É necessário avaliar a profundidade que o implemento vai atingir, pois isso pode atrapalhar o deslocamento das vacas na cama e também levanta áreas que já estavam estabilizadas sem decomposição.
A reposição deve ser feita quando a umidade estiver alta, as vacas vão começar a ficar sujas, a cama não vai atingir a temperatura ideal.
LOTAÇÃO
Muitos produtores escutam que o ideal é 12 metros de cama por vaca. O número é variável e depende de diversos fatores. Presenciei muitos com 10 metros ou mais, e a pergunta que costumo fazer é: ela está deitando e utilizando todo este espaço? A cama decompõe uniformemente? Na realidade muitos tem este espaço, mas as vacas não utilizam 7 metros e isso ocorre por vários motivos, dentre eles: cama muito fofa, o sol bate dentro da cama boa parte do dia, os ventiladores só atingem um pedaço da cama, a reposição foi apenas parcial etc.
A metragem vai depender do manejo e reposição que vai ter. Conheço um compost que funciona muito bem com 6 metros por vaca, em contrapartida vi um compost com 12 metros muito ruim.
PRÓS E CONTRAS
O compost é tratado por muitos como uma instalação econômica e ideal. Comparado com o que? Ela é econômica? O gasto para a construção de um bom compost pode ser menor do que um free stall, mas isso a curto prazo, a longo prazo tem os gastos com reposições de cama e o maior custo de energia, e se for comparar com um bom free stall, o compost esquenta a vaca. Se for colocar aspersores na pista de trato do compost terá que ser feito um centro de manejo de dejetos também e o custo não será diferente do free stall.
Em relação ao pasto o ganho é muito maior, pois tiramos o animal do sol e ainda damos conforto e comida boa 24 horas por dia, ela também reduzirá o gasto de energia se deslocando para buscar alimento, água e sombra, isso é que faz com que a vaca tenha ganho em produção de leite.
Existem estudos que mostram que a vaca que fica deitada por mais tempo tem ganho de produção.
Problemas de casco ocorrem quando temos alta umidade, o animal fica muito tempo de pé e se desloca em lugares abrasivos junto com a falta de casqueamento preventivo e erros de manejo e erro nutricional. O compost reduz muitos esses fatores, como tempo em pé e chão abrasivos, mas um free stall com camas bem dimensionadas de areia ou até mesmo de outro material macio ou coberto de serragem e que proporcione conforto também não terá problemas de casco fora do que é considerado normal.
O manejo inadequado dos animais pode fazer com que uma vaca pise na outra podendo perder peito ou ter que amputar o rabo.
Se mal manejado pode piorar os casos de mastite problemas de casco.
O compost gera muito calor e pode esquentar a vaca. Vacas em estresse calórico perde leite, piora a reprodução, o calor pode também, causar diversos problemas de saúde.
O compost é apenas mais uma alternativa para produção de leite e como todo sistema tem facilidades e dificuldades, precisamos estudar bem antes de implantar, pois o que funciona em algumas propriedades não pode ser aplicado em outras.