CONTROLE LEITEIRO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO DE REBANHOS

Com todos os dados em mãos, o problema será identificado, corrigido e a gestão um sucesso!

 

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Diego Charles de Almeida Santos
Médico Veterinário e Diretor Executivo da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais

 

Em 1905 o Controle Leiteiro foi oficialmente introduzido nos EUA, embora algumas associações de raças leiteiras, como a Holstein-Friesan Association, já praticavam o controle desde 1883 de forma esporádica e o Brasil passou a adotar a prática apenas por volta de 1945. Hoje pode-se perceber como essa prova zootécnica é importante para evolução da Genética, para as provas de touros, testes de progênie identificando os animais superiores e como ferramenta de gestão.
Existem dois tipos de Controle Leiteiro, o Controle Oficial que é executado pelas entidades credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA que seguem a Portaria SNAP Nº45 de 10 de Outubro de 1986 e o Controle Não Oficial, que é executado pelos próprios produtores, funcionários ou técnicos não credenciados.
Uma maior adesão à ferramenta de Controle Leiteiro é capaz de gerar um banco de dados nacional vasto e com informações mais completas, o que nos permitirá conhecer mais profundamente os rebanhos do país e identificar seus pontos fortes, fracos e as possibilidades de melhoria visando a qualidade e produtividade leiteira dos mesmos. O Brasil além de ter iniciado a prática tardiamente, o número de animais é bem reduzido e até hoje não expandiu conforme deveria. Talvez por falta de informação, por não conhecer o serviço e saber de tal importância ou até mesmo por falta de incentivo do Governo.
O Controle Leiteiro é uma prova zootécnica utilizada para melhoramento genético tanto da raça quanto do criatório que o utiliza, além de ser a melhor maneira de acompanhar a evolução produtiva de cada indivíduo no rebanho. Podemos citar inúmeras vantagens que esta ferramenta oferece aos produtores, mas provavelmente o principal seria conscientizar todos a utilizá-la. Na visita do Técnico, coleta-se o maior número de dados possíveis que retorna aos criadores como forma de relatórios e gráficos, por isso a importância dos dados serem coletados de forma correta. Preocupada com esse fato, a Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais realiza reciclagens anuais de seus Técnicos de Controle de Produção e Gestão de Rebanhos, focando não somente na parte operacional mas também no auxílio aos produtores, interpretação dos relatórios gerados, discussão e sugestão na tomada de decisões na Gestão do Rebanho.
Antigamente o Controle Leiteiro se resumia em quantos quilos de leite a vaca produziu num certo dia multiplicado por 30 dias e como resultado, era possível mensurar a produção mensal da mesma. Atualmente, por meio do Controle Leiteiro e dos relatórios que são gerados, o produtor pode gerenciar o rebanho auxiliando no Manejo, Produção, Reprodução, Nutrição, Genética, Qualidade do Leite, Conforto e Bem Estar Animal.
Por meio dele é possível identificar quais são os melhores animais do rebanho através da análise da produção de leite, gordura, proteína (sólidos totais) em 305 dias e produção real, monitoramento da saúde da glândula mamária através dos índices de CCS (Contagem de Células Somáticas), persistência e projeção à idade adulta, além da valorização comercial do rebanho/indivíduo e marketing da propriedade. Após todo o processo de mensuração do leite, coleta e resultado das análises são gerados alguns relatórios que auxiliam na gestão do rebanho, sendo assim, motivos não faltam para o produtor aderir à utilização do Controle Leiteiro Oficial.
Um inconveniente e que prejudica muito é o Controle Leiteiro Seletivo, que ocorre quando os produtores preferem não controlar os animais com baixas produções para aumentar os índices de referência do rebanho e os números acabam “furados”, pois quando falamos na ferramenta para Melhoramento Genético devemos lembrar que deve ser feito em rebanho e não em indivíduo. O Controle Seletivo “melhora” a imagem da propriedade e empobrece o banco de dados nacional, do teste de progênie e das provas de touros, além de não ser permitido pelo Regulamento e não poder usar o mesmo na Gestão do Rebanho.
Quando falamos em Gestão de Rebanho, significa que através dos dados coletados pelo Técnico, resultado das amostras e os relatórios gerados, é possível investigar o que está acontecendo com os animais, mesmo não estando presente na propriedade e ter embasamento para tomar decisões o mais rápido possível não esperando que o problema se agrave.
A atividade Leiteira não permite hoje tocar a propriedade como não sendo uma empresa e para isso, quanto mais indicadores obtivermos, saberemos tomar decisões, planejar e elaborar metas.
Qual o custo de Produção? Seus animais são produtivos, quais são eles? Dias em lactação (DEL)? Dias em aberto? Intervalo entre partos (IEP)? Se tivermos respostas para essas perguntas fica mais fácil todo o processo de Gestão, e é desta forma que o Serviço de Gestão de Rebanho auxilia os participantes.

 

PRODUÇÃO INDIVIDUAL

Através dos números de produção individual pode-se acompanhar a curva de lactação do animal conforme o gráfico (Figura 1) comparada com a média do rebanho, tendo assim parâmetros suficientes para saber se a curva e lactação estão conforme o esperado. Outra vantagem é facilitar a divisão de lotes, separando os animais com maior produção e que respondem melhor ao que estão consumindo, além de também identificar animais de produções inferiores, baixa persistência e com períodos curtos de lactação, auxiliando no descarte e não reproduzindo os animais “problemas”.
Através da WebLeite, área de uso exclusivo do produtor vinculado à ACGHMG, é possível que o mesmo tenha acesso on-line aos demonstrativos de resultados de seu rebanho controlado, gerando gráficos (Figura 2), que mostram a dispersão individual em relação a Kg/dia e DEL.
No gráfico abaixo, cada marcação azul representa um animal e em sua análise, deve-se sempre buscar que os animais da propriedade estejam com DEL mais baixo e produção maior indicando assim que o processo está funcionando como um todo. Se o rebanho está com DEL e IEP alto, podemos nos preocupar, pois a reprodução talvez não esteja sendo realizada da maneira correta, e como conseqüência teremos menos reposição, menos leite no tanque e uma menor margem de lucro.

Figura 1: Curva de Lactação

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Fonte: ACGHMG

Figura 2

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Fonte: ACGHMG

 

NUTRIÇÃO

A nutrição representa um custo alto para uma propriedade leiteira, indicadores mostram que cerca de 45% a 55% do capital de uma propriedade seriam destinados exclusivamente à alimentação de seus animais. O lucro dessa atividade é contado em centavos e não permite gerenciar a mesma de qualquer maneira. Quando sobra comida no cocho, oferece-se uma quantidade superior aos animais, e isto reflete diretamente no custo final do alimento o que pode levar produtores a ficar no vermelho, sendo que com o devido acompanhamento de um profissional, embasado nos relatórios, este resultado poderia ser mais satisfatório. Quanto mais cedo for identificada qualquer falha, mais cedo serão tomadas as devidas providências e o prejuízo diminuirá se não há indicativos para saber do problema, a situação pode se complicar rapidamente.
Conhecendo os dados produtivos e fazendo a divisão com relação à produção, é possível formular dietas adequadas para cada lote. Animais com DEL baixo e produção baixa não podem consumir e estar no mesmo lote de animais com o mesmo DEL, porém com produções altas. Assim o responsável pela Nutrição da propriedade irá definir proporção de Volumoso/Concentrado que cada lote irá receber e ir manejando conforme acompanha os relatórios a cada Controle realizado.
Outro fator que auxilia na nutrição, é o resultado das análises de leite de sólidos totais (Relação Gordura/Proteína), caso a proteína esteja mais alta indica que a dieta está de alguma forma desbalanceada. Podem ser indicativos do baixo teor de gordura: alta proporção de concentrados, baixo teor de fibra, alimentos muito moídos, dietas úmidas ou de degradação ruminal rápida, pois diminui a área de contato, alimentação pobre e até mesmo seleção genética, e com a mesma amostra ainda é possível solicitar análise de Nitrogênio Uréico e verificar se está havendo perda de uréia no leite, fortalecendo ainda mais a escolha das dietas utilizadas.
Outro fator que está sendo difundido e ajuda o produtor a ganhar tempo é o teste de prenhez que é realizado através das análises do leite do animal servindo como apoio ao programa reprodutivo da propriedade, a partir de 28 dias já se torna possível identificar níveis da GAP (Glicoproteínas Associadas à Prenhez). Facilita o manejo, diminui o estresse do animal e custos, além de ser prático e fácil.

 

QUALIDADE DO LEITE

A qualidade do leite é um fator cada vez mais discutido no cenário da atividade leiteira. Nos dias atuais com o pagamento das captadoras de leite com bonificação em qualidade, os produtores estão buscando cada vez mais agregar valor ao seu produto e o acompanhamento individual da saúde da glândula mamária se torna fundamental neste processo.
Com as coletas individuais que o Serviço de Controle Leiteiro executa nas propriedades participantes, este acompanhamento se torna mais correto. Todo mês uma amostra é analisada gerando resultados de CCS (Contagem de Células Somáticas), que depois de interpretados auxiliam no descarte do animal identificando as vacas crônicas, secagem antecipada, tratamento mais rápido, linha de ordenha (trata-se de colocar os animais com altos índices para serem ordenhados por último), descarte de leite dentre tantas outras vantagens, além de ter o resultado da amostra do tanque. Quando se têm números baixos individualmente e no tanque não acontece o mesmo, alguns fatores podem estar acontecendo: leite que deveria ser descartado e não foi, limpeza dos equipamentos e do tanque, que podem não ter sido feito de forma correta e está refletindo no resultado apenas da coleta referente ao tanque. São fatores simples que podem ser identificados logo após um Controle Leiteiro.
Concluindo, o que se deve considerar ao avaliar os benefícios do Serviço de Controle Leiteiro na Gestão de Rebanho é: Como melhorar uma coisa que não se mede? Se não há indicativos não tem números, histórico e dados, não se tem meta e não se sabe aonde chegar. Com todos os dados em mãos, o problema será identificado, corrigido e a gestão um sucesso!!!