Importância da ruminação para rebanhos leiteiros

Marcelo Hentz | Médico Veterinário – PhD

Foto Divulgação ACGHMG

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Ruminação é um comportamento inato de uma vaca de leite. Na ruminação o animal regurgita o bolo alimentar fibroso à boca, remastigando-o demoradamente de modo a propiciar maior fragmentação das partículas, o que favorece a ação dos microrganismos para o melhor aproveitamento do alimento no rúmen e propicia a passagem das partículas não digeridas para adiante no trato digestivo, exercendo um grande efeito sobre a capacidade de consumo. Portanto, a ruminação ajuda na digestão, diminuição do tamanho de partícula e passagem da digesta do rúmen para o intestino, o que ajuda no aumento do consumo de matéria seca.
A ruminação também é essencial na secreção de saliva e tamponamento do rúmen. A saliva, com seu elevado poder tampão por ser rica em bicarbonato, é fundamental para a neutralização da acidez produzida pela fermentação dos alimentos no rúmen, de modo a diminuir o risco de acidose no rúmen. A acidose pode levar a queda no consumo, diminuição do teor de gordura do leite e consequentes problemas de casco.
Quando as vacas estão ruminando, deitadas ou em pé, estão calmas e normalmente com a cabeça e olhos baixos. Entretanto, as vacas preferem ruminar enquanto estão deitadas. Portanto, qualquer manejo que impacte o tempo de descanso de uma vaca irá impactar o tempo de ruminação e, consequentemente, no consumo de matéria seca.
A ruminação é positivamente relacionada ao tempo de alimentação e de consumo de matéria seca: após um período de alto consumo as vacas ficam mais tempo ruminando, geralmente com um pico de ruminação quatro horas após o consumo. Pesquisadores alemães estudaram o efeito do consumo de matéria seca na ruminação de uma vaca e concluíram que uma queda de um quilo no consumo é associada a uma redução de 44 minutos na ruminação por dia de uma vaca.
O controle da ruminação é voluntário e vacas param de ruminar quando estão em situações de desconforto e estresse como, por exemplo, falta de bem-estar ambiental, doença, sensação de dor, ansiedade materna pós-parto, tratamentos do manejo sanitário, ou atividade excessiva durante o cio, proximidade do parto, necessidade de longas caminhadas ou reordenamento da hierarquia quando da alteração de lotes de alimentação. Outras situações de estresse como superlotação de lotes, dificuldade de acesso aos bebedouros, maus tratos, camas mal dimensionadas, pasto ou piquete sem disponibilidade de sombra e água fresca, corredores com lama, pedregulho, entre outros, também terão efeitos negativos sobre o tempo de ruminação.
Em condições de estresse a ruminação é, então, diminuída. Como efeito, a quantidade, digestibilidade e fragilidade da fibra e tamanho de partícula serão diferentes dependendo do ambiente em que o animal se encontra. Embora as pesquisas ainda sejam recentes, alguns dados mostram que se a ruminação de uma vaca for comprometida cronicamente em 10 a 20% devido à qualidade ruim de manejo, certamente o rúmen do animal estará comprometido e será mais exposto a problemas digestivos como acidose subclínica e baixa eficiência alimentar e poderá acarretar em baixa gordura no leite e problemas de casco.
Vacas ruminam por aproximadamente 450 a 550 minutos por dia (aproximadamente 8 horas/dia) e uma diminuição nestes valores é certamente relacionada a algo negativo no ambiente e causará problemas no rúmen. A ruminação é um indicador extremamente sensível e responde a mudanças 12 a 24 horas antes que marcadores tradicionais, como depressão no consumo de matéria seca ou queda na produção de leite. Recentemente, medidores de ruminação foram disponibilizados para serem utilizados em fazendas comercias. Estes medidores podem ajudar os proprietários a:

– Identificar animais em cio;

– Detectar problemas metabólicos mais cedo como: mastite e problemas de casco;

– Modificar o protocolo de vacas no pós-parto para evitar movimentação diária dos animais;

– Modificar o processo de tomada de decisão para tratamentos e descartes.

Por ser uma atividade fisiológica vital, a diminuição da ruminação deve ser considerada como um claro sinal que a vaca emite, quando em qualquer situação de anormalidade. Portanto, monitorar a ruminação de uma vaca é uma ferramenta de extrema importância, pois esta demonstra mudanças importantes que acontecem no ambiente do animal e certamente irá impactar na produção de leite.

Fonte: Rehagro