SERÁ QUE A COLETA DA AMOSTRA DE QUALIDADE FOI FEITA CERTA?

Aí vão 5 passos para ter confiança que sim.
Fabio Henrique Takahashi
Zootecnista

Esta é sem dúvida, uma das perguntas mais frequentes feita pelos produtores quando se discute resultados de qualidade do leite. Isso não é ao acaso e muito menos raro. Sabemos que a amostragem é o ponto de partida para se obter resultados representativos do leite que foi amostrado. Através de ferramentas estatísticas podemos definir com alta precisão se uma amostra foi coletada da forma correta, principalmente em relação à homogeneização do leite. Durante o ano de 2015, os dados apontam que de cada 6 amostras coletadas, pelo menos 1 possui resultado questionável por falha de coleta, ou seja, 17%! Os números são assustadores. Se a indústria paga por qualidade, isso seria o mesmo que dizer que 17 produtores em 100 estariam eventualmente recebendo um valor errado pelo litro do leite.

Mas o que fazer? Como garantir amostras bem coletadas, para que tenhamos resultados corretos? Confira 5 pontos importantes para termos coletas mais confiáveis e, portanto, resultados corretos.

 

1) Correta identificação das amostras

A identificação da amostra é feita através do sistema de código de barras. Na etiqueta vai impresso, juntamente com o código de barras, o nome do produtor e o seu código de fornecedor. Se, eventualmente, for utilizada a etiqueta de outro produtor, os resultados ficarão trocados. Pode parecer algo simples e difícil de ocorrer, mas já pudemos observar vários casos em que houve a troca de etiqueta. O responsável pela coleta tem que ter muita atenção no momento de identificar a amostra.

 

2) Garantir que o leite seja homogeneizado corretamente

Dentro do procedimento de coleta de amostras existem várias etapas importantes. Entretanto, a homogeneização do leite antes de se efetuar a coleta da amostra é a mais crítica dentro do processo de amostragem para a obtenção de resultados confiáveis. Não adianta só “mexer o leite com a concha”. Temos que garantir que todos os componentes do leite tenham sido distribuídos corretamente. Basicamente, podemos considerar a seguinte regra:

 

Para Tanques de Expansão*

• Tanques de até 3.000 litros – Agitador ligado por 5 minutos antes da coleta.
• Tanques maiores do que 3.000 litros – Agitador ligado por 10 minutos antes da coleta.*Para que o processo seja eficiente, o agitador do tanque deve estar funcionando corretamente. Para Latões• Latão – Deve-se utilizar um agitador manual específico e realizar pelo menos 15 movimentos em cada latão antes da coleta.

3) Correta utilização do conservante

Para que o leite mantenha a sua qualidade original do momento da coleta da amostra até a sua análise no laboratório, é necessária a utilização de conservantes específicos. Para que a conservação ocorra de forma eficiente é fundamental que o conservante seja dissolvido completamente na amostra. Este processo pode levar alguns minutos, sendo que o frasco deve ser tombado delicadamente (e nunca agitado com muita força). Uma vez coletada a amostra, esta deve ser mantida sob refrigeração, sempre abaixo de 10ºC. Para isso, há a necessidade de se utilizar a caixa térmica e gelo suficiente para conservar a amostra da fazenda até a indústria.

 

4) Higiene dos utensílios

Todos os utensílios utilizados para a coleta da amostra, como conchas e agitadores, devem ser devidamente lavados antes de se efetuar a coleta da amostra. Para isso, é necessário água limpa, detergente e escova próximo ao local onde será coletada a amostra. O responsável pela coleta também deve lavar as mãos antes da coleta e manusear corretamente os utensílios e frascos para evitar contaminação, especialmente na amostra de CBT. No caso da concha de coleta, após a lavagem, recomenda-se que se faça a “ambientação”, mergulhando a concha por cerca de 5 vezes no tanque antes de retirar o leite que será transferido para o frasco.

 

5) Definição de procedimentos, treinamento e monitoramento da equipe

Para que todos esses itens sejam executados, devemos definir claramente através de procedimentos operacionais (POs) como a coleta deverá ser feita e, em seguida, treinar as pessoas na execução dos mesmos. Concluída essa etapa, caberá então ao gestor do laticínio monitorar o trabalho da equipe através de relatórios, indicadores e acompanhar a execução das coletas.

Sendo o transportador de leite um elo importante nesse processo, muitas empresas passaram a capacitar essas pessoas através de treinamentos periódicos, também conhecidos por Programas de Educação Continuada. Essa etapa, não somente é importante como também é um item previsto na IN-62 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Podemos observar claramente que há grande diferença entre empresas que treinam seus transportadores daquelas que não. Em um levantamento realizado em 2015 com mais de 400 laticínios e cooperativas, observou-se que as empresas que não participaram do treinamento dos agentes de coleta (COLETA CERTA, antigo PEC) possuíam em média, duas vezes mais falhas de coleta em comparação àquelas que realizaram a capacitação dos transportadores (Figura 1). É interessante observar que, das empresas que participaram do COLETA CERTA em 2015, naquelas que adotam programas de pagamento por qualidade, a taxa de falha de coleta foi de apenas 4%. Reforçando nesse caso que a responsabilidade do transportador e a exigência dos produtores por uma amostra bem coletada é muito maior. Ou seja, isso é muito bom para a melhoria de todo o processo.

Figura 1 – Taxa de falhas de coleta de empresas. Sem COLETA CERTA = não participaram do COLETA CERTA; Com COLETA CERTA = participaram do COLETA CERTA em 2015; Com COLETA CERTA e PVQ (Programa de Valorização da Qualidade) = Participaram do COLETA CERTA em 2015 e adotam PVQ. Fonte: Programa COLETA CERTA Clínica do Leite ESALQ/USP.

 

O treinamento é um componente importante para se obter bons resultados, pois define-se claramente “o que” e “como” deve ser feito. Entretanto, de nada adianta treinar sua equipe se não houver um sistema de gestão apropriado. Caberá ao gestor da indústria monitorar seus indicadores como, por exemplo: falhas de coleta, amostras com resultados semelhantes, temperatura de recebimento de amostras na plataforma e, com base nas informações obtidas, identificar se existe algum problema e o que deve ser melhorado em seu processo de coleta de amostras. Atualmente a Clínica do Leite disponibiliza o programa COLETA CERTA, com o objetivo de ajudar Indústrias e Cooperativas parceiras da Clínica do Leite na capacitação das pessoas responsáveis pela coleta das amostras e, juntamente com a pessoa responsável pela gestão das amostras, avaliar os indicadores da própria empresa.

Fonte: Clinica do Leite e Milkpoint