SUCESSÃO FAMILIAR NA PECUÁRIA LEITEIRA

O que os jovens precisam para se fixarem na produção leiteira com suas famílias?

Marcio Gregório Rojas dos Santos | Doutorando em Zootecnia, UEM, Maringá-PR
Pedro Gustavo Loesia Lima |Mestrando em Zootecnia, PPZ/UEM, Maringá-PR
Bruna Sesco de Mendonça | Mestranda em Medicina Veterinária, PPS/UEM, Umuarama-PR
Ferenc Istvan Bánkuti e Julio Cesar Damasceno | Professores do Curso de Zootecnia, DZO/UEM, Maringá-PR

Foto Marcio Gregório Rojas dos Santos

2017 12 23

O que os jovens precisam para se fixarem na produção leiteira com suas famílias? Quais os entraves que enfrentam? Questões como essas acompanham o sistema de produção leiteira (em sua maioria familiar), preocupando os produtores e profissionais da área.
A melhoria na qualidade de vida, maiores oportunidades de emprego, mudança de ambiente social, são alguns dos principais motivos que os jovens se sentem tentados a mudar para a cidade. Por outro lado, em algumas situações, são pressionados por conflitos familiares, e não se sentem estimulados a continuar na atividade com a família – preferindo o serviço assalariado que acham condizente com suas atividades fora dali.
A média de idade dos produtores de leite no país está acima dos 40 anos, e humanamente o envelhecimento é inevitável, fazendo com que os pais migrem para sistemas de produção que lhes proporcionem melhor organização do trabalho, como a fruticultura e pecuária de corte.
A mantença dos jovens no meio rural é complexa, abordando aspectos econômicos e sociais, visto que é preciso (assim como na zona urbana) melhorias em educação, saúde, lazer e comunicação.
Dentro da sucessão familiar, é preciso que haja consonância entre as gerações, interesses comuns entre a família e, principalmente uma boa relação emocional e afetiva entre os envolvidos, de forma que todos os membros da família se sintam satisfeitos.
A falta de vontade de repassar suas atividades para o controle e administração em momento inoportuno; Falta de capacidade para encontrar nos sucessores a motivação e competência, em alguns casos a rivalidade entre membros da família; e falta de opção para encontrar sucessores que não sejam membros da família (não-familiares), esses são alguns pontos observados e tomados como motivos de dificuldade para introdução dos jovens no processo de sucessão familiar.
Os obstáculos encontrados pela bovinocultura leiteira, que os impedem de melhorar o desenvolvimento, são motivos inespecíficos à atividade, e colaboram para o êxodo rural e regional. Desta forma, o questionamento que nos fica é: O que esperar para o futuro da pecuária leiteira, e quem serão os protagonistas da produção? Estas respostas não podem ficar apenas a encargo das unidades familiares produtivas, pois causará a diminuição das oportunidades de utilização dos profissionais capacitados, e desertificação social, econômica e cultural que são presentes na região.
As atividades dentro do sistema de produção de leite envolvem muitas etapas, desde a ordenha das vacas, limpeza dos equipamentos, controle sanitário, tratamentos dos bezerros, entre outras necessárias para garantir a produção de leite com qualidade, demandando mão de obra durante o dia inteiro. E essas atividades, até chegar ao resultado final do sistema de produção de leite, de acesso à renda própria, estão condicionadas ao controle dos pais.
Normalmente a saída que os jovens encontraram é o assalariamento urbano, e a não dependência dos pais gera uma mudança muito profunda na forma de relacionamento familiar.
Em pergunta aos jovens inseridos neste contexto, na cidade de Maringá-PR, sobre a forma de inserção na atividade leiteira familiar, foram encontrados diversos seguimentos profissionais, e o que mais se destacou foi o de jovens, que por motivos maiores foram criados na zona urbana, porém, em algum momento tiveram contato com a atividade da pecuária leiteira e acabaram por escolher algum curso de Ciências Agrárias:

“Gosto de morar na zona urbana devido a facilidade e comodidade ao acesso do comércio em geral, hospitais (quando há emergência) entre outras comodidades. E também por ter saído aos 9 anos do campo acabei me acostumando a morar na cidade, entretanto, gosto muito da vida no campo… Sim, pretendo voltar para o campo. Me formei em zootecnia e pretendo auxiliar meu Pai no desenvolvimento da atividade leiteira em sua propriedade, e quem sabe, ter minha própria propriedade.”

Tais comportamentos dos jovens pode significar a continuidade da associação entre pecuária leiteira-família. Em caso de rompimento, poderá surgir diferentes identidades, tornando a terra um bem de consumo. O mais interessante, e visto como ponto positivo, é a preocupação que os pais da zona rural demonstraram para com seus filhos, relacionados à educação:

“…fiz a pré-escola, primeira e segunda série do primário na cidade. Pois a escola rural da nossa região não possuía a pré-escola, desta maneira minha mãe optou por me matricular em uma escola na cidade para que eu pudesse ter esta base.”

A atividade leiteira tem grande importância econômica no Brasil, e quando colocada frente à mudança de organização dos jovens perante a inclusão na atividade familiar, pode ser uma grande oportunidade para as políticas públicas (governamentais/não governamentais) investirem na melhoria da competitividade do setor leiteiro, trazendo margem de segurança, principalmente em momentos de crise. Colocando grande aplicabilidade na capacidade que os jovens possuem em se adaptar, em buscar conhecimento, e de estarem adeptos, principalmente na aceitação de orientação técnica para a introdução de novas tecnologias, tanto de ferramentas de gestão da propriedade como de melhoria na produção e qualidade do leite.

*Texto escrito pelos membros do Grupo de Inteligência em Sistemas de Produção Animal e Ambiental – Universidade Estadual de Maringá