EXPERIÊNCIAS E TECNOLOGIA NO CAMPO

Cacá ressalta a importância do contato com os técnicos da Associação Mineira para a evolução como criador e comprova que a distância não é problema para gerenciar o seu negócio

O ASSOCIADO EM PAUTA desta edição já passou por várias dificuldades, chegou até a reduzir o seu plantel por quatro vezes, mas isso nunca o fez desistir. Vamos conversar com o associado Carlos Augusto de Assis Lima, proprietário do Sítio Córrego do Prata, em Ressaquinha – MG. “Como eu sempre fiz conta de tudo, sei da viabilidade do negócio”, ressalta.

Conhecido carinhosamente pelo meio rural como Cacá, ele é Engenheiro de Sistemas e Computação e atua na área  de Tecnologia da Informação e Engenharia de Sistemas. Se você acha que não tem nada a ver com a produção de leite está enganado. Morando em São Paulo, mesmo com bons profissionais apoiando na fazenda, como ele iria gerenciar a propriedade de longe? Ele conseguiu unir muitas paixões, o que no início era um problema virou um produto, a Fazenda SobControle. “Esse sistema permite monitorar em tempo real, todos os acontecimentos da propriedade, auxiliando na avaliação das metas, resultados e controle de estoque”, comenta Cacá.

Pensando no futuro, o seu filho Rafael desde pequeno já é apaixonado pelos animais, adora a fazenda e principalmente as exposições.

De olho no futuro…O filho de Cacá, Rafael desde cedo adora a fazenda e as exposições

Associado a 10 anos na Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais, Cacá mostra que é fundamental estar atento ao plano traçado e à gestão das atividades. Ele ressalta também a importância do contato com os técnicos da Associação para a evolução como criador. Vamos conhecer mais sobre o seu negócio e os vários planos para o futuro!


JORNAL HOLANDÊS: Como começou a sua história na raça Holandesa?

CARLOS AUGUSTO DE ASSIS LIMA: Meu tio, Teófilo Negrão de Lima, foi criador da raça Holandesa na década de 70 com o afixo TNL, tendo encerrado com a atividade em meados dos anos 2000. Ao longo da sua trajetória, obteve diversas premiações tanto em concurso leiteiro, como morfológico, com um plantel PO. Daí veio a minha inspiração para lidar com vacas de leite e mais especificamente com a raça Holandesa, além disso, fui também influenciado pelo Arcelino Giarola, meu amigo de infância, excelente técnico e apaixonado pela raça.

Na foto José de Assis Lima, avô do Cacá e fundador do Sítio Córrego do Prata, com Melody que foi Campeã Suprema do Estado de Minas Gerais em 1974, de propriedade do seu tio Teófilo Negrão de Lima

JH: Como é a estrutura da sua fazenda?

CACÁ: Operamos com o primeiro lote no modelo tie-stall, segundo e terceiros lotes no modelo semi-confinado, com pista de trato. Iniciamos a construção de um compost barn cuja intenção é a expansão do número de vacas em lactação.  Trabalhamos com seis pequenas propriedades, relativamente próximas umas das outras, que somadas dão uma área total de 132 hectares. Atualmente temos um plantel em formação com um total de 154 animais e 48 vacas em lactação.

JH: Você trabalha com quais sistemas de produção?

CACÁ: O meu sistema de produção mistura  tie-stall, com semi-confinamento. No sistema  tie-stall, as vacas são confinadas após a primeira ordenha e soltas após a segunda e última ordenha. Escolhemos o modelo  tie-stall, para o primeiro lote com o objetivo de maximizar a produção pelo fato de trabalharmos numa propriedade pequena e este foi o principal motivo para escolhermos evoluir para os barracões de compostagem (compost barn) para que possamos intensificar a criação de animais e a produção de leite. O nosso projeto estabelece uma meta de alcançarmos 3.000 litros dia, num primeiro estágio, com 100 vacas confinadas.

 JH: Mão de obra é um problema?

CACÁ: No início sim, trocamos de equipe algumas vezes, mas este problema foi resolvido quando contratamos o veterinário Dr. Luíz Gustavo Miranda e sua mulher, a Zootecnista, Mariana Lourenço, que são os responsáveis pela Gestão Tática e Operacional da propriedade. Eles conseguiram consolidar e motivar uma equipe que conta hoje com seis colaboradores.

Equipe treinada e motivada é um dos principais pilares para a conquista dos objetivos. Na foto Dr. Luiz Gustavo, Mariana e profissionais da fazenda

JH: Você cria Holandês, Girolando e Jersey… Porque essa diversidade de raças?

CACÁ: A resposta emocional é porque eu gosto de vaca de leite e a racional tem a ver com a minha trajetória. A primeira vaca que eu tive, foi dada pelo meu tio, uma Jersey. Também fui influenciado pelo meu vizinho, o Dr. Epaminondas, que foi um grande selecionador de Jersey e pelo Dr. Luís Paulo Miranda (pai do Luíz Gustavo e do Marcos Paulo, também veterinário) que me apresentou ao Núcleo de Criadores de Jersey de Barbacena, onde acabei construindo amizades, aprendendo bastante e evoluindo como criador.

Na raça Girolando, eu comecei por necessidade econômica. O gado Girolando era mais barato de comprar, mais fácil de criar e muito mais fácil de comercializar e o comércio de animais sempre foi uma estratégia utilizada para equilibrar as contas. Em 2006, o meu tio, por opção familiar, liquidou o seu plantel de Holandês e eu adquiri os animais remanescentes, dando início à criação da raça Holandesa. Hoje sou muito feliz com a opção de criar as três raças, porque vejo que elas se complementam e se adaptam bem, cada uma nas suas qualidades, ao nosso manejo atual. Pelo fato de estarmos mais profissionalizados e por intensificarmos a produção, iremos aumentar consideravelmente a nossa participação na raça Holandesa. Já estamos comprando animais e genética de criadores consagrados e sem dúvida alcançaremos o mesmo sucesso, como criador, que temos obtido nas raças Jersey e Girolando.

JH: Cada raça possui características e necessidades específicas, como você lida com isso?

CACÁ: Boa pergunta e vai uma resposta sincera, fazemos nada ou nada em especial, analisamos a necessidade dos indivíduos. A principal diferença reside no gado falhado, cujo manejo principal é a pasto e eles ficam soltos numa das propriedades. Animais com maior exigência nutricional ficam juntos em um lote, no modelo semi-confinado, na mesma propriedade onde ficam as vacas de leite. Para evitar a disputa por comida, onde as vacas maiores levarão vantagem sobre as menores, usamos na pista, sempre que possível, um espaçamento maior de área de cocho e no primeiro lote, que fica num tie stall, temos um conjunto de baias diferenciadas para vacas maiores e outro para menores. Com a adoção do compost barn, pode ser que venhamos a promover a separação das raças. Também criamos Jersolando.  

JH: Qual o principal foco da propriedade?

CACÁ: O principal foco é a produção, mas entendemos que para sermos bons produtores, temos que ser primeiro bons criadores e também agricultores. Neste caso, a receita com venda de animais é necessária para: financiar a reposição, complementar a renda e financiar a participação nas exposições.

JH: Quais os pontos fundamentais para alcançar os seus objetivos?

CACÁ: A pecuária leiteira é uma atividade extremamente complexa e se pudesse voltar no tempo, teria feito muita coisa diferente. Para alcançarmos bons resultados, temos que estabelecer um planejamento estratégico e dividir a execução deste planejamento em etapas. Sempre que possível, manter o foco nos objetivos definidos e constantemente reavaliar se as metas intermediárias estão sendo alcançadas. Em resumo, temos que estar atentos ao plano traçado e à gestão das atividades. Equipe treinada e motivada, eficiência na produção de volumoso, escolha da genética apropriada ao nosso modelo de criação, uso de protocolos sanitários eficientes, cuidado na criação de bezerras e novilhas e atenção ao bem-estar animal, nutrição e controle reprodutivo, são sem dúvida os nossos pilares para a conquista dos objetivos. Tirando algumas intercorrências, temos conseguido manter o nosso foco.

JH: Como consegue gerenciar a fazenda de longe?

CACÁ: A minha atividade principal é o desenvolvimento de software onde gerencio uma empresa com 25 anos de existência, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Barbacena e Juiz de Fora e com cerca de 30% da equipe trabalhando sobre o modelo de home-office (agora com a pandemia 100% da equipe está em casa). Neste caso, adquiri experiência no gerenciamento remoto e este trabalho ficou extremamente simplificado quando a responsabilidade foi terceirizada para o Dr. Luíz Gustavo e para a Mariana e principalmente pela decisão que tomamos de desenvolver uma solução de gestão de fazendas, apoiada em smartphones, que nos permite monitorar em tempo real, todos os acontecimentos da propriedade e que nos auxilia na avaliação das metas, resultados e controle de estoque. Esta solução virou um produto (Fazenda SobControle) que hoje a empresa comercializa para outros criadores do Brasil inteiro.

JH: Quais os serviços que realiza com a Associação Mineira e por que eles são importantes?

CACÁ: Registro Genealógico, Controle Leiteiro (de todas as raças) e Classificação Linear para Tipo. Trabalhar com animais registrados e controlados é extremamente importante para conseguirmos evolução genética e sermos reconhecidos como criadores. O contato com os técnicos da Associação é de suma importância para a nossa evolução como criador e aqui se faz necessário ressaltar o trabalho, compromisso e aconselhamentos que o Chicão nos deu, principalmente no início das nossas atividades como associado.

JH: O criador trabalha sempre com o lucro apertado, como o negócio pode ser mais rentável?

CACÁ: Para ser rentável é inevitável descobrir qual o modelo de criação e genética melhor se adaptam às características do seu terreno e equipe profissional e neste caso, a escolha de um consultor compromissado com os resultados, é de extrema relevância. Tendo isso definido, é ter paciência, foco, medir e aferir tudo, estabelecer metas e objetivos e reavaliar sempre. A atividade leiteira, bem administrada é extremamente rentável. Mas temos que ter extremo cuidado, pois a mesma, até atingir o equilíbrio operacional que a torne viável, é necessário o uso intenso de capital.

JH: Quais as práticas na fazenda para conseguir melhores valores pagos pelo leite?

CACÁ: Hoje, atenção com a sanidade do rebanho, qualidade do leite e produção de sólidos.

JH: Relate um momento difícil que enfrentou no seu negócio e como conseguiu superá-lo.

CACÁ: Foram vários. Por dificuldade de capital, ausência de mão -de-obra eficiente e a falta de instalações e áreas adequadas, eu tive que reduzir o plantel por quatro vezes, recuando no planejamento por pelo menos uns dez anos. Mas como eu sempre fiz conta de tudo, sei da viabilidade do negócio e pela fé de que bem-intencionados sempre conseguimos alcançar os objetivos traçados; estes momentos foram superados. A fé, persistência, perseverança e consolidação da equipe profissional foram os pilares para superação destes problemas e de outros que sem dúvida estarão por vir.

JH: Quais os planos para o futuro?

CACÁ: Ser eficiente na criação da raça Holandesa, trabalhar com compost barn, ter média diária de 30 litros e produção de 3.000 litros (em três anos), realizar um leilão anual e alcançar a produção de 10.000 litros diários (em dez anos).