FOCADOS EM PRODUZIR UM ALIMENTO NOBRE

A família Ferreira trabalha focada em garantir a qualidade do início ao final de cada processo

Gerações trabalham unidas e fazem o negócio crescer. O ASSOCIADO EM PAUTA é Luiz Gualberto Ribeiro Ferreira, da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, localizada em Delta-MG. E quem irá conversar conosco é o seu filho, o Médico Veterinário e Fisioterapeuta, Guilherme Garcia Ferreira. Ele acredita que a integração da família é fundamental para a perpetuação da atividade, irmãos e primas sempre ajudam com conselhos e ensinamentos em suas áreas. “É importante à participação de todos, pois a atividade leiteira é para todos.”

O associado Luiz Ferreira com o seu filho Guilherme | Fotos arquivo pessoal

Ele fala sobre ações rentáveis de sustentabilidade, sucessão familiar com os funcionários, como incentivar o jovem a viver no campo, como viver do leite, como driblar as oscilações de mercado de forma mais tranquila e menos traumática, entre outros assuntos relevantes do negócio do leite. “Estamos preparados para todas as tempestades que vierem (e acredite; elas virão)!!, comenta Guilherme.

Acompanhe as experiências dessa família que associada há 22 anos na Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais trabalham focados no crescimento do negócio.


FAMÍLIA

JORNAL HOLANDÊS: Como começou a história da sua família no Holandês?

GUILHERME GARCIA FERREIRA: A fazenda hoje é de propriedade de meu pai e da irmã dele, Ivone Elisabete.

No final da década de 90, meu pai e meu tio Melanio compraram cerca de 40 animais Holandeses, em Castro e Carambeí. A partir desses animais foram produzidos animais Holandeses adaptados a nossa região. Foram utilizadas as técnicas de IA e FIV. Também, na época eles participaram do projeto Hungria, onde foram implantados embriões da raça oriundos da Hungria. Essa foi a base genética Holandesa do nosso rebanho.

JH: Quais as pessoas da família estão envolvidas com o negócio?

GF: Hoje estamos no dia a dia, meu pai, que cuida de toda a parte de produção de alimentos (Silagem de Milho e Sorgo Grão Úmido), eu e a minha noiva, Cibely, também Médica Veterinária, que ficamos com a parte de Rebanho e Gestão Financeira da Pecuária. Meu pai, por ser também Engenheiro Civil de formação, está construindo o nosso Composto, projetado para abrigar cerca de 300 animais.

JH: Por que é importante essa participação da família?

GF: Acho que é importante a participação de todos, pois a atividade leiteira é para todos. Tenho dois irmãos, um Administrador e Engenheiro de Produção e outro Engenheiro Agrônomo, tenho duas primas, uma Psicóloga e outra Administradora e Arquiteta, que não estão no dia a dia da atividade, porém sempre ajudam com conselhos e ensinamentos em suas áreas. Essa integração de todos é fundamental para a perpetuação da atividade. Lógico, desde que a atividade no final de cada ano seja rentável.

JH: Em geral os jovens querem ir para a cidade, porque escolheu o caminho do campo?

GF: Segui o caminho do campo porque gostei desde o princípio dessa apaixonante atividade. Como se diz no meio rural, a atividade leiteira é uma cachaça. Ela é viciante. Amo o que faço!

Imaginar o animal que irá nascer quando a gente faz uma compra de sêmen, ver o nascimento deste animal, acompanhar seu desenvolvimento, e por fim ver este animal em Lactação produzindo o que tem de melhor, não tem preço!! Então quando se entra nesse ciclo, é um vício; no bom sentido. Produzir um alimento nobre, com qualidade superior é muito desafiante. Não é fácil, não é barato, porém é muito prazeroso. Toda essa conjuntura faz do campo, também um local fascinante de se trabalhar. Por isso segui o caminho do campo. E não me arrependo da minha escolha!!!

“O sucesso do futuro depende de trabalhar o presente”

JH: Como fazer os jovens se interessarem para a vida na fazenda?

GF: Hoje, com o advento da Internet, as distâncias diminuíram muito. Antigamente, falar que morava na fazenda, já se imaginava um local distante, literalmente no meio do mato. Hoje, a internet minimizou muito essa questão. Em nossa propriedade, todas as casas tem acesso à internet. Fica a cargo do morador decidir se contrata o plano ou não. Priorizamos muito tentar reter a mão de obra na fazenda, fazer também a sucessão familiar com os nossos funcionários. Os jovens de hoje são inteligentíssimos. Conseguem se adequar facilmente as tecnologias modernas. Aí quando se junta tecnologia com boas pessoas, é um grande passo que damos na direção do sucesso.


 ESTRUTURA

JH: Fale-me sobre a estrutura  da fazenda.

GF: Hoje a fazenda tem o sistema de produção voltado para pista de trato com alimentação 100% no cocho. Estamos em fase final de implantação do sistema de produção Compost Barn. Acredito que até no final do 1º semestre conseguimos colocar as vacas dentro desse composto. Hoje estamos com 140 animais em lactação, e projetamos até o final de 2020 chegar em 190 animais em lactação. Como a fazenda não compra animais, o crescimento de rebanho é exclusivo voltado às técnicas reprodutivas (IA, Sêmen Sexado, FIV). Baseado nisso, e com a diminuição cada vez maior da taxa de descarte/mortalidade, esperamos em três anos conseguir a ocupação máxima deste nosso composto em construção que seria de 300 animais. A área voltada para o leite são em torno de 110 ha, sendo 95 ha para plantio de milho para silagem e 15 ha com os piquetes, pista de trato e composto.

JH: A estrutura de confinamento da raça Holandesa é sempre uma dúvida constante entre os criadores. Por qual estrutura optaram e por quê?

GF: Optamos pelo Composto, pela questão de conforto aos animais. Sempre que visitamos Free Stalls e Compost Barn, as vacas melhores confortáveis estavam no Composto. Aqui não entro no mérito de qual sistema o THI (Índice de Temperatura e Umidade) é menor. Olhamos apenas as vacas visualmente. Acho o Free Stall um excelente sistema também. Porém para nós que estamos iniciando nesse mundo 100% fechado dos animais, optamos por iniciar com o Composto. Também pensamos que o manejo dos dejetos seja menos complicado no Composto, porém ainda não temos como afirmar, pois nossa experiência é baseada em experiências de terceiros, em visitas que fizemos antes de implantar nosso sistema.

JH: Vocês têm alguma criação além do Holandês?

GF: Com a base Holandesa que trouxemos do Paraná, fizemos alguns animais F1 Girolando no início dos anos 2000, no intuito de comercialização. Porém não houve o comércio, e esses animais F1 se destacaram no leite e também na adaptação ao sistema que tínhamos. A partir desse animal F1, fizemos o cruzamento absorvente com o Holandês, que produziram excelentes vacas ¾ e 7/8. Quando decidimos pela construção do composto, passamos a utilizar exclusivamente o touro Holandês em nossos cruzamentos, voltando esses animais novamente à base Holandesa. Isso já tem três anos que usamos o touro Holandês em larga escala. Isso nos proporcionou termos animais mais adaptados ao nosso clima. Lógico que o estresse térmico ainda afeta muito nossos animais. Mas com a finalização do composto, esperamos poder dar mais conforto às nossas vacas e minimizar um pouco o estresse calórico. E projetando o futuro, vamos continuar a usar os touros Holandeses em larga escala em nossos animais.

JH: Qual o foco da propriedade?

GF: O foco do meu pai sempre foi produção de leite. Ele nunca foi adepto de animais de pista. E agora compartilho desse pensamento com ele. Nosso negócio; o que temos que ser experts, é produção de leite. Leite no tanque!!

Portanto, nossas escolhas genéticas são baseadas em animais modernos, que trazem em sua genética animais equilibrados, tanto em produção de leite, com bons úberes, como em saúde (Vida Produtiva, DPR) e Qualidade de Leite (principalmente Proteína). Isso tudo precisa estar alinhado à uma boa dieta e um bom manejo, para que o animal consiga expressar sua genética.

JH: Vocês possuem ações de sustentabilidade?

GF: Ações de sustentabilidade são importantíssimas para a fazenda e para o meio ambiente. Para a propriedade, é importante na diminuição de custos e otimização de recursos. E para o meio ambiente é importante pela sua preservação. Juntamente com o Composto estamos fazendo uma lagoa de captação de água das chuvas do telhado. Usaremos essa água para a limpeza da pista das vacas e também dos currais. Usaremos também os dejetos das vacas como fertilizantes nas áreas de lavoura.


 NEGÓCIO

JH: Você acredita que é possível viver do leite?

GF: Acredito completamente ser possível viver do leite. Como toda atividade empresarial, a atividade leiteira deve ser conduzida como tal. Contratar boas pessoas, estar junto dessas pessoas no dia a dia, dando a elas o suporte necessário para que elas desempenhem suas tarefas, respeitar essas pessoas e mostrar-lhes o quanto é nobre o papel que cada um desempenha dentro da atividade leiteira. Precisamos controlar custos, reduzir os desperdícios, otimizar recursos, dar fluxo ao trabalho de cada um. E lembrar a todos que errar é humano e faz parte da atividade, porém que cada um tenha consciência que o retrabalho é muito caro. Portanto, todos nós precisamos garantir a qualidade do início ao final de cada processo. Isso nos garantirá a sobrevivência e a perpetuação do nosso negócio.

 JH: Como ser eficiente com as várias oscilações do mercado?

GF: Infelizmente o mercado não está no nosso campo de influência. Produzimos um produto que se assemelha a uma commodity, em que o preço é definido pela oferta e demanda. O que temos que buscar incessantemente é olhar da porteira para dentro. Produzir sempre com o menor custo possível. Eliminar desperdícios, pois ele encarece demais o sistema. Isso sim está no nosso campo de influência e por isso conseguimos controlar. Isso nos faz passarmos pelas oscilações de mercado de forma mais tranquila e menos traumática.

“Temos de que olhar da porteira para dentro. Produzir sempre com o menor custo possível. Eliminar desperdícios, pois ele encarece demais o sistema”

JH: Quais os serviços que utilizam da Associação Mineira e qual a importância deles para o seu negócio?

GF: Hoje utilizamos apenas o serviço de Controle Genealógico, pois como não temos o comércio de animais e nem a presença em exposições, ainda não utilizamos o serviço de Controle Leiteiro e nem o serviço de Classificação Linear para Tipo. Para um futuro próximo, vamos avaliar a implantação do Controle Leiteiro Oficial da Associação, pois ele está diretamente ligado ao nosso propósito de produzir quantidade em qualidade superior. Queremos ser referência na qualidade do leite, bem estar animal e um lugar onde as pessoas sintam prazer em estar e trabalhar.

JH: O que você me diz sobre os profissionais da Associação Mineira?

GF: Dentro do que sempre precisei da Associação, são profissionais muito bons para lidar com o produtor (criador) e suas demandas. Tem procurado simplificar muito a forma de comunicação entre as duas partes, e principalmente tem adotado tecnologia na plataforma de comunicação e controle. Isso será cada vez mais importante no futuro.


 FUTURO

JH: Quais os próximos planos?

GF: Os próximos planos são continuar nosso crescimento de forma sustentável e com os pés no chão, um dia de cada vez. Sempre lembrando de onde viemos e como começamos, e tendo em mente que o sucesso do futuro depende de trabalhar o presente. Estamos sempre esperando o melhor, porém estamos preparados para todas as tempestades que vierem (e acredite; elas virão)!!

“Queremos ser referência na qualidade do leite, bem estar animal e um lugar onde as pessoas sintam prazer em estar e trabalhar”