Dr. Wellyngton Carvalho, da IFSudeste MG ressalta o trabalho conjunto entre alunos, associação e criadores
O futuro do agronegócio do leite está nas mãos dos jovens, das novas gerações, por isso é importante um trabalho de base sério, com profissionalismo e comprometido com a formação. A edição traz o trabalho desenvolvido pelo Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – unidade Barbacena – IFSudeste MG. Associada a cinco anos da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais, ela oferece vários cursos de formação superior e técnico para o agronegócio do leite. O Instituto possui uma fazenda dividida em três setores e o gado Holandês está no Núcleo de Zootecnia, onde os alunos tem a oportunidade de aliar a teoria com a prática. Além do meio acadêmico eles também vivenciam o mercado e sabem da importância que as exposições possuem para o negócio do leite, por isso sempre estão participando de eventos em Minas Gerais e até em outros Estados.
E quem conversou com a nossa equipe foi o professor, Médico Veterinário, Mestre e Doutor em Nutrição animal pela UFMG, Dr. Wellyngton Tadeu Vilela Carvalho, que atualmente é o Diretor de Desenvolvimento Institucional. Ele ressalta que é importante dar autonomia para os estudantes praticarem de forma consciente as diversas atividades relacionadas à produção de leite e também apresentar realidades diferentes de produtores de leite. “Estamos formando um profissional capaz de implantar técnicas que associem os fatores econômicos aos ambientais, visando garantir qualidade de vida para as gerações futuras”, comenta.
Investimentos, sucesso no agronegócio, projetos, sanidade são alguns dos assuntos abordados no nosso bate-papo.
JORNAL HOLANDÊS: Como é a estrutura do setor de bovinocultura no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – unidade Barbacena?
WELLYNGTON TADEU VILELA CARVALHO: O setor de bovinocultura de leite apresenta as seguintes características: Sistema semi confinado, recebendo como volumoso base a silagem de milho. Temos no total de 130 animais, sendo 100 da raça Holandesa e o restante Girolando, Jersey e mini vacas. Temos 40 vacas em lactação com média de 18 litros por animal, uma produção total em torno de 720 litros por dia.
JH: Quais os objetivos da fazenda?
WT: Atender as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Produzir para atender as demandas do refeitório e posto de vendas da Instituição. O leite é processado no laticínio, produzindo principalmente diferentes tipos de queijo, doce de leite e iogurte.
JH: Quais são os cursos oferecidos na área do leite?
WT: Temos os seguintes cursos superiores: Agronomia, com duração de 5 anos; Tecnologia em Alimentos, com duração de 3,5 anos e Nutrição com duração 4,5 anos. Para quem estiver interessado, pode acompanhar o edital do processo seletivo no site institucional: www.ifsudestemg.edu.br.
JH: Vocês também oferecem cursos técnicos?
WT: Sim. Temos o curso técnico em Agropecuária e o curso em Agroindústria, ambos integrados ao ensino médio com duração de três anos.
JH: Vocês desenvolvem algum programa que atende o produtor?
WT: Sim. Temos o Projeto IF Leite que atende produtores rurais da região com o foco na melhoria da qualidade do leite. Os alunos é que realizam as visitas e implantam as práticas de manejo necessárias para melhorar a qualidade do leite.
JH: Quais os objetivos do Instituto na formação de profissionais para o agronegócio do leite?
WT: Formar um profissional capaz de promover o desenvolvimento sustentável regional, voltado para a cadeia produtiva do leite; propriedades e laticínios, por exemplo.
JH: Porque filiar-se a Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais?
WT: Para enriquecer as atividades de ensino a partir de uma melhor seleção genética do rebanho. E também agregar as atividades de extensão a partir da participação em exposições. Ressalto que é muito importante o trabalho em conjunto entre alunos, associação e produtores rurais.
JH: Quais os serviços que a Associação realiza e qual a importância deles para a fazenda?
WT: No momento somente o registro dos animais. Esse trabalho é muito importante, pois valoriza os animais da Instituição e aumenta as oportunidades para os alunos em trabalhos de extensão.
JH: Qual a importância da participação ativa em exposições homologadas em Minas Gerais e até mesmo em outros Estados?
WT: O nosso objetivo é divulgar a Instituição, principalmente o trabalho dos alunos. Esse ano, participamos de exposições homologadas em Barbacena e Belo Horizonte e também levamos animais em Santa Teresa, no Espírito Santo.
JH: O que os alunos comentam sobre o contato com o mercado?
WT: Eles falam que é importante para divulgar o trabalho deles e da Instituição. Aprendem à comunicar melhor com o produtor rural e demais profissionais da área e trabalhar em equipe. É a oportunidade de aperfeiçoar o que aprendem no curso.
JH: Vocês investem no em genética?
WT: Investimos a partir da aquisição de touros e sêmen de qualidade, visando melhorar o potencial produtivo dos animais.
JH: Quais são os maiores desafios na criação da raça Holandesa?
WT: No meu ponto de vista, o maior desafio é produzir animais com alta rusticidade, diante das nossas condições climáticas.
JH: Como superar esses desafios?
WT: Investindo em instalações e práticas de bem estar animal que minimizem o stress dos animais (qualidade de cama, piso, ventilação, sombreamento, etc).
JH: Como vê a estrutura profissional do leite?
WT: Ela precisa de ser mais organizada e qualificada.
JH: A mão de obra no campo está cada vez mais escassa. Como mudar esse cenário?
WT: Tem que investir em tecnologia, aumentando a produtividade e também implantar políticas públicas de valorização da agricultura familiar.
JH: Devido esse problema, muitos criadores estão dando prioridade a modernização, ou melhor, a mecanização. Como você vê essa mudança no cenário do agronegócio?
WT: Essa é a saída, porém muitas dessas alternativas não são viáveis para a maioria dos produtores.
JH: Quais as características essenciais para ter sucesso no agronegócio do leite?
WT: É fundamental ter organização, tecnificação e união entre os produtores.
JH: É possível transformar gastos em investimentos?
WT: Sim. A partir da implantação de técnicas mais viáveis, por exemplo, a formulação de dietas mais eficientes. Com isso, a atividade tornará mais rentável, podendo investir em compra de animais e instalações de melhor qualidade.
JH: Como é a alimentação do gado na fazenda e dê algumas dicas para que o criador invista corretamente.
WT: Utilizamos a silagem de milho como fonte de volumoso para os animais mais produtivos e capim e/ou cana para de baixa produção.
É importante que o criador tenha um planejamento nutricional: considerar uma produção de volumosos para ser armazenada no período da seca por um período de 8 meses, visando reduzir o custo com concentrado, balancear corretamente a dieta de cada categoria animal.
JH: Vocês desenvolvem alguma ação de sustentabilidade?
WT: Como nossas atividades são voltadas para o aluno, estamos formando um profissional capaz de implantar técnicas que associem os fatores econômicos aos ambientais, visando garantir qualidade de vida para as gerações futuras. Um exemplo é a produção de um leite de qualidade, livre de agentes patogênicos e resíduos de medicamentos e com os níveis desejáveis em sua composição nutricional.
JH: Como enfrentar as dificuldades do dia a dia em uma fazenda leiteira?
WT: O criador tem que fazer um controle zootécnico criterioso; identificar os principais problemas; estabelecer metas e realizar o custo de produção.
JH: Principalmente em tempos que a qualidade do leite faz toda diferença, como obter excelência na produção?
WT: Implantação de medidas que visem boas práticas de ordenha.
JH: Como preparar o jovem para viver na fazenda?
WT: Temos que dar autonomia para os estudantes praticarem de forma consciente as diferentes atividades relacionadas à produção de leite e também apresentar realidades diferentes de produtores de leite.
ESTRUTURA
Inserida na zona urbana de Barbacena-MG, a Fazenda do IF-Campus Barbacena possui aproximadamente 460 hectares, sendo grande parte composta de mata nativa. Sua área é dividida em três setores: N.A. (Núcleo de Agricultura), N.Z. (Núcleo de Zootecnia) e S.I.B. (Setor de Indústria e Beneficiamento).
O Núcleo de Agricultura dispõe de moderno pavilhão de salas de aulas, sala de professores e diversos galpões destinados à logística dos projetos agrícolas. Possui um departamento de mecânica com oficina, lavajato, máquinas, tratores e implementos diversos. Possui, ainda, uma área de produção diversificada, com pomares de frutas tropicais e temperadas, estufas para produção de rosas, viveiro de mudas, horticultura convencional e, em formação, uma área de olericultura orgânica.
O Núcleo de Zootecnia contempla projetos de criação de pequenos animais (minhocultura, cunicultura, piscicultura, apicultura, avicultura de corte e postura), criação de animais de porte médio (suinocultura, caprinocultura) e animais de grande porte (bovinocultura de leite e de corte, equinocultura). Possui, ainda, salas de aula, escritórios, laboratório de reprodução de peixes e fábrica de ração.
O Setor de Indústria e Beneficiamento é composto por um moderno laticínio, um abatedouro, câmaras frias, caldeiras, área para beneficiamento de carnes e vegetais, defumadores, salas de aulas, escritório e fábrica de ração.