“NÃO EXISTE RECEITA DE BOLO”

O médico e associado Dr. Cristovam Edson Lobato Campos ressalta que a dificuldade existe para todo mundo, já que se trata de uma atividade bastante trabalhosa, mas também muito prazerosa. “Acho que não existe receita de bolo e cada fazenda tem suas prioridades e fases”, comenta.

O ASSOCIADO EM PAUTA traz um nome respeitado e conhecido principalmente na região mineira de Barbacena. O nosso bate papo é com o médico e associado Dr. Cristovam Edson Lobato Campos, proprietário da Fazenda das Cabras, localizada em Antônio Carlos – MG.  Detentor do afixo Dancris, ele nos conta que quando jovem não tinha muito entusiasmo pela fazenda e que ao assumir de fato a propriedade teve de ser autodidata e relembrar muitos ensinamentos do pai. Nesse início o apoio da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG também foi muito importante para auxiliar na nova empreitada. “Quando somamos os serviços prestados pela entidade conseguimos agregar mais valor e credibilidade aos animais que criamos, além disso, as informações são bastante úteis para o manejo e para a tomada de decisão da fazenda como um todo”, comenta.

Com 40 anos de formação, o médico Gastroenterologista e Endoscopista, Cristovam fez parte do Conselho Fiscal em duas gestões da Associação Mineira e foi também presidente do Núcleo dos Criadores de Gado Holandês de Barbacena  – Nughobar por três mandatos.

Ele relembra momentos difíceis, ressalta a importância do envolvimento de alguma forma da família no negócio e mostra que independente do tamanho das ações todas são importantes proporcionando muitas alegrias e perspectivas de crescimento.

O associado Cristovam Edson Lobato Campos com o filho Daniel que está mais presente no dia a dia da fazenda, abaixo o filho Dr. André que apesar da distância sempre participa do negócio

JORNAL HOLANDÊS: Como começou a sua história no Holandês?

CRISTOVAM EDSON LOBATO CAMPOS: Começou quase 10 anos após o falecimento do meu pai, em 1989, quando resolvi reativar a fazenda com a compra de alguns animais. Ele sempre criou Holandês (foi associado também) e Girolando, portanto, sempre tive um contato muito forte com o meio rural desde a infância. Quando jovem, não tinha muito entusiasmo, nem recebia incentivo da minha mãe para ficar na atividade, então fui fazer medicina. Ao assumir de fato a propriedade, tive que ser autodidata e relembrar muita coisa que meu pai fazia. Uma das minhas atitudes foi exatamente procurar a ACGHMG. Comprei um tourinho Holandês no final de 1991, mas logo no ano seguinte iniciamos a inseminação artificial e adquiri algumas matrizes dos rebanhos dos saudosos Sr. Angelino Jovani e do Dr. José Fagundes, que formaram a base inicial do rebanho registrado na época. 

JH: Como é a estrutura da fazenda?

CL: A fazenda conta com 72 hectares, mas somente 13 hectares são utilizados para a produção de milho para silagem, devido ao relevo acidentado. Temos uma parte da fazenda destinada a produção de eucalipto e outra para recria de alguns animais mestiços. A estrutura é simples, pois fomos adaptando ao longo do tempo de acordo com as possibilidades/necessidades da fazenda. Atualmente estamos com 32 vacas em lactação e um total de 80 cabeças.

JH: Qual o seu sistema de produção?

CL: Os animais de leite recebem toda a dieta no cocho, mas ainda não temos galpão para alojar as vacas. Portanto, contamos com cochos divididos em piquetes, que formam 3 lotes para as vacas em lactação, pré-parto e 4 lotes de recria. A criação de bezerras é feita individualmente no primeiro mês, depois passa a ser coletivo até o desmame. 

 JH: Qual o foco da propriedade?

CL: Nosso foco atualmente é o aumento da produtividade através do melhor conforto para os animais em produção e no pré-parto. Para isso, estamos construindo um free-stall para as vacas em lactação e uma estrutura melhor para as vacas do pré-parto. Com isso, esperamos melhorar bastante nossos índices produtivos, reprodutivos e de qualidade do leite. A seleção dos animais está dividida de maneira igual entre produção, tipo e saúde (33% para cada grupo de características). Um exemplo disso é que usamos touros positivos para vida produtiva há mais de 11 anos.

JH: A fazenda possui somente Holandês? Por quê?

CL: 90% do rebanho é composto pela raça Holandesa e o restante é composto por animais mestiços que trabalhamos para aproveitar as áreas de pasto que não são aproveitadas pelo rebanho principal. Com isso, conseguimos recriar alguns machos para corte e algumas fêmeas que servem como receptoras e/ou para comercialização.

JH: Muitas coisas mudaram desde que começou a criação? Conte-me sobre curiosidades desta evolução.

CL: Sim, muita coisa! Principalmente relacionado ao manejo nutricional e reprodutivo, pois usamos muito mais tecnologias nesses setores do que há alguns anos atrás. Isso nos possibilitou mudar de patamar de produtividade. Na nutrição, trabalhamos com dieta total, formulada com ingredientes de boa qualidade, núcleo mineral com fórmula personalizada (níveis e aditivos) e com análises frequentes. Na reprodução, fazemos as avaliações com ultrassom e usamos os protocolos reprodutivos recomendados.  Confio muito em tecnologia, pois através dela é que conseguimos evoluir.

FAMÍLIA

JH: A família participa do negócio?

CL: Sim, são dois filhos. O Daniel é Zootecnista e o André é Médico Veterinário, ambos formados pela UFV e com mestrado na mesma instituição. O Daniel é responsável pelo suporte no manejo dos animais, dieta, volumosos, genética e parte econômica. O André, embora não viva o dia a dia da fazenda (mora distante), também participa das orientações nas áreas de saúde e decisões diversas do rebanho.

JH: É importante ter a família presente?

CL: Sim, a família presente é importante. Minha esposa Cristina, cidadã urbana de origem, apanhou gosto pelo campo. Cuida com esmero da casa e dos arredores, para que todos se sintam bem de passar um tempo a mais no campo. Além destas pessoas, sempre tenho a companhia das duas noras e de dois casais de netos.

JH: De que forma você acredita que podemos aproximar os jovens do campo?

CL: Temos que respeitar a vocação de cada um, mas sempre valorizando e mostrando que é do campo que sai nosso sustento e que é muito prazeroso trabalhar com animais. O jovem tem, já a algum tempo, a tecnologia na palma da mão, fazendo com que as novidades necessárias cheguem a nós com rapidez e os resultados, mais rapidamente do que na época de nossos pais.

ECONOMIA

JH: Você e sua família vivem do leite?

CL: Não vivo do leite, pois tenho outra formação profissional, que não me permite a presença diária na fazenda. Isso, a primeira vista, parece uma grande vantagem, mas também é um grande desafio para administrar o negócio “a distância”. Portanto, a dificuldade existe para todo mundo, já que se trata de uma atividade bastante trabalhosa, mas muito prazerosa também. Apesar da dificuldade, é possível viver do leite sim, basta olharmos os vários exemplos neste Brasil afora de pequenos, médios e grandes produtores que sustentam suas famílias com o Leite.

Acreditamos que precisamos ter um equilíbrio entre produção, tipo e saúde.

JH: Como o leite pode ser rentável já que o lucro é bastante pequeno?

CL: É preciso ser eficiente, seja comprando melhor (redução de custos variáveis) ou melhorando a produtividade para diluir os custos fixos.

 JH: Para aqueles criadores de médio a pequeno porte, quais são os investimentos que o produtor deve estar sempre atento para não onerar os gastos?

CL: Acredito que os pequenos detalhes fazem a diferença. Os primeiros destes são o papel e a caneta, pois anotar as receitas, despesas e as informações zootécnicas é o básico. Caso tenha um técnico para assessorar, melhor ainda… Outro ponto é a respeito da saúde, pois animais doentes não conseguirão expressar todo o seu potencial e os custos ficarão piores. Para que consigamos isso, é preciso trabalhar muito bem a nutrição e ambiência dos animais. Acho que não existe receita de bolo e cada fazenda tem suas prioridades e fases.

JH: Quais os investimentos essenciais para ter bons animais?

CL: Sempre acreditamos que precisamos ter um equilíbrio entre produção, tipo e saúde. Juntamente com isso, a alimentação e a ambiência possuem um papel importantíssimo, pois animais mal alimentados/manejados não darão bons resultados.

ASSOCIAÇÃO

JH: Quais os serviços que você utiliza na Associação Mineira e como eles são importantes para o seu negócio?

CL: Fazemos o Controle Leiteiro de todos os animais já há vários anos e a Classificação Linear, 1 ou duas vezes/ano. Quando somamos esses serviços ao Registro Genealógico, conseguimos agregar mais valor e credibilidade aos animais que criamos e que também são uma importante fonte de renda para a atividade. Além disso, as informações são bastante úteis para o manejo e para a tomada de decisão da fazenda como um todo.

JH: Premiações como os Melhores de Minas são importantes?

CL: Este é um evento social muito bonito que premia o criador em vários segmentos, além do congraçamento entre criadores e famílias. Ano passado fomos agraciados como um dos melhores rebanhos no quesito produtividade (2 ordenhas) e também na Classificação Linear. É importante receber este reconhecimento para coroar o árduo trabalho de toda equipe ao longo dos 365 dias de muito suor e dedicação.

NOVOS DIAS

JH: Quais são os planos para o futuro?

CL: Com a melhoria da estrutura desejamos aumentar a produção através do ganho em produtividade. O que nos trará mais eficiência produtiva e um maior número de animais para ofertar ao mercado.