A Universidade Federal de Viçosa trabalha focada na formação aliando a teoria com a prática
A Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais – ACGHMG atende diferentes produtores de leite, desde os pequenos criadores até grandes fazendas. A entidade também trabalha com o ensino, sua equipe formada por profissionais sempre ministra palestras para associados, produtores de leite e acadêmicos, incentivando sobretudo os jovens para a vida do campo. Além de difundir o conhecimento, a Associação Mineira também possui instituições de ensino associadas, ampliando o relacionamento do mercado com o acadêmico.
O JORNAL HOLANDÊS traz a história de umas dessas associadas, a Universidade Federal de Viçosa – UFV que esse ano inclusive será homenageada na 20ª Edição dos Melhores de Minas.
A Professora e Zootecnista, Polyana Pizzi Rotta e o Zootecnista e gerente da Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, Bernardo Magalhães conversaram com a nossa equipe e falaram sobre mercado, pesquisa, tecnologias e o futuro do leite. Para eles, o produtor que não sabe quanto custa o litro de leite que produz dificilmente estará aberto a tecnologias e assim, possivelmente não terá futuro na atividade. “O futuro é a tecnificação, produzir mais leite com menos pessoas envolvidas nas atividades da fazenda. Está cada dia mais difícil encontrar pessoas que queiram morar na área rural”, comentam.
Trabalhando com a sinergia da teoria com a prática, eles acreditam que o aluno que levar a sério a teoria, aplicar os conhecimentos na prática e focar suas energias em criar um ambiente de trabalho agradável estarão mais preparados para fazer a diferença nas fazendas.
Vamos juntos conhecer os cursos e projetos desenvolvidos pela universidade e como a formação acadêmica pode contribuir para o futuro do leite.
A Professora e Zootecnista, Polyana Pizzi Rotta e o Zootecnista e gerente da Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, Bernardo Magalhães falaram sobre o futuro do leite
JH: Quais os cursos que a Universidade Federal de Viçosa oferece para a população?
UFV: A UFV é uma das instituições de ensino de maior reconhecimento e referência nos cursos de Zootecnia, Medicina Veterinária e Agronomia no Brasil, com cerca de 2 mil estudantes matriculados nesses cursos em 2018. Além disso, possui diversos cursos de Pós-Graduação, com destaque para o curso de Zootecnia que obteve nota máxima pelos órgãos avaliadores. Além dos cursos de graduação e Pós-Graduação, são oferecidos também cursos de extensão, com curta duração para toda a comunidade e ainda, a UFV é responsável pelo maior evento de extensão do Brasil, a Semana no Fazendeiro, que esse ano se encontra na 89ª edição, evento esse que nasceu junto com a universidade.
JH: Como vocês integram a universidade ao produtor de leite?
UFV: Com o objetivo de trazer a fazenda para o meio acadêmico, a universidade conta com a Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite – UEPE-GL, também conhecida como Estábulo Novo da UFV. Trata-se de uma unidade de produção de bovinos de leite criados em sistema de confinamento e pasto, cujo objetivo é proporcionar aos alunos contato direto com a prática do campo, desenvolver pesquisas na área e promover integração entre a universidade e o produtor rural.
A UEPE-GL existe há 18 anos e está localizada a 3,4 km das quatro pilastras, símbolo da Universidade Federal de Viçosa. Diariamente funcionários e estudantes de graduação executam as tarefas da unidade. Esses estudantes são orientados pela Profa. Polyana Pizzi Rotta e pelo gerente do setor Bernardo Magalhães, todos Zootecnistas. O estábulo possui um rebanho com 110 animais, sendo 50 vacas em lactação. Aos redores do estábulo são plantados capim mombaça, milho, sorgo, cana-de-açúcar, milheto, aveia, azevém e capim elefante para alimentação dos animais e experimentos de alunos de TCC e Pós-Graduação.
A estrutura do estábulo dispõe de baias em sistemas free stall para bezerros, novilhas e vacas, além de uma área de piquetes com capim Mombaça para novilhas em recria. A estrutura conta com sala de ordenha, três galpões para pesquisa, vestiários para funcionários e alunos, sala de aula e chorumeira para tratamento dos resíduos.
Com o objetivo de discutir temas inovadores e atuais para os alunos na área do leite, a UFV possui um Grupo de Estudo de Pecuária Leiteira – GEPEL. Esse grupo é formado por uma associação de estudantes de graduação da Universidade Federal de Viçosa – UFV e coordenado pela Profª. Polyana Pizzi Rotta. O grupo se reúne periodicamente para realizar estudos, pesquisas, encaminhar estudantes para estágios, promover cursos, palestras, debates, reuniões, viagens técnicas e demais eventos que possam contribuir para a elevação e atualização dos conhecimentos na área de pecuária leiteira.
JH: Vocês possuem programa que atendem pequenos produtores?
UFV: Sim. O Programa Família do Leite teve início em 2012 no Departamento de Zootecnia da UFV com o objetivo de treinar estudantes dos cursos de Zootecnia, Agronomia e Medicina Veterinária na bovinocultura leiteira e fornecer assistência técnica aos pequenos produtores de leite da região de Viçosa-MG. Os estudantes treinados no Programa Família do Leite têm embasamento teórico e prático para aplicar os conhecimentos adquiridos na graduação no mercado de trabalho, possibilitando assim, uma vivência prática que dificilmente os mesmos teriam sem o Programa. Ele é dividido em 4 etapas, com duração média de 6 meses cada etapa. Durante as duas primeiras etapas os alunos recebem um treinamento teórico-prático na UEPE-GL. Nas duas últimas etapas os alunos são responsáveis pela assistência técnica de fazendas leiteiras da região de Viçosa-MG. Ao final do treinamento, os alunos estarão capacitados a atuar na área de bovinocultura de leite e poderão assim, melhorar a cadeia produtiva do leite. Nas duas últimas etapas do Programa, os estudantes atuarão no desenvolvimento regional da bovinocultura leiteira, por meio de visitas quinzenais a produtores cadastrados no Programa, que atualmente são 20. As visitas são acompanhadas pelos professores Marcos Inácio Marcondes e Polyana Pizzi Rotta e alunos da Pós-Graduação. No total, 65 alunos participam do Programa Família do Leite em 2018, sendo a grande maioria alunos com coeficiente de rendimento acumulado superior a 70, ou seja, acima da média dos cursos.
JH: A universidade oferece cursos a comunidade geral?
UFV: A Estábulo Cursos em Gado de Leite foi fundada em 2017 pela Professora, Polyana Pizzi Rotta e tem como objetivo o oferecimento de cursos de especialização a preços acessíveis e de qualidade, para que os profissionais da área sejam cada vez mais preparados para os desafios do mercado de trabalho. A Estábulo Cursos conta com uma metodologia exclusiva e em constante atualização. As aulas são 100% presenciais e ministradas por profissionais capacitados e com experiência prática na área. Os cursos são oferecidos ao longo do ano, sendo os mais procurados: inseminação artificial, palpação e uso de ultrassom, nutrição básica e avançada, ordenhador, uso de GPS, casqueamento, IATF e manejo de bezerras leiteiras. A Estábulo Cursos é vinculada ao DZO (UFV) e FUNARBE, sendo as inscrições realizadas pelo site: http://estabulocursos.com.br.
JH: Vocês investem em genética?
UFV: A preocupação com a qualidade genética teve início há 30 anos com uso de sêmen de touros provados de centrais confiáveis, de lá para cá, parcerias com empresas ajudaram a alavancar ainda mais a nossa qualidade, seja pela aquisição de sêmen de touros melhores qualificados a preços mais acessíveis ou pela genotipagem dos animais para direcionar o Plano Genético do rebanho. Os investimentos no setor se dão via projetos aprovados pelos professores Polyana Pizzi Rotta e Marcos Inácio Marcondes.
JH: Os alunos possuem contato com a vida microscópica?
UFV: Sim, temos um laboratório na própria UEPE-GL para análises bromatológicas, visando o melhor ajuste nutricional e laboratórios de reprodução, fisiologia e genética no DZO. Os laboratórios dão suporte para a realização das pesquisas dos alunos de Pós-Graduação e são mantidos com recursos de pesquisas aprovados pelos professores da UFV.
JH: Como gerenciam a estrutura do leite? O que fazem com a produção e os animais?
UFV: O leite produzido é entregue para o laticínio, responsável pela produção do Doce de Leite Viçosa, que há muitos anos ganha diversos prêmios de qualidade. O nosso leite é todo direcionado para a produção desse doce de leite, por ser o de melhor qualidade que chega ao laticínio, com média em 2017 para CPP de 10 e CCS 200. Recebemos parcialmente o valor do leite entregue, pois cerca de 30% do leite é destinado ao Restaurante Universitário e são descontadas taxas administrativas para a UFV. Normalmente retorna para o setor cerca de 50% da renda bruta do leite, recurso esse que é usado para a compra de insumos (medicamentos, ração, adubos, sementes, sêmen…). Anualmente realizamos um leilão para a venda de animais do setor, tanto vacas como novilhas e tourinhos. Parte do dinheiro do leilão (70%) retorna para o setor e esse dinheiro é usado para investirmos na infraestrutura, como a troca do sistema de ordenha em 2017 e a compra de ventiladores e aspersores em 2018 (previsão).
JH: Vocês possuem ações de sustentabilidade?
UFV: Sim. As ações de sustentabilidade são voltadas para sermos em setor produtivo onde mesmo em épocas de crise não perde a qualidade no que mais no interessa: a formação de recursos humanos. Temos um controle total dos custos do setor para que possamos fechar as contas do mesmo, necessitando o mínimo possível de recursos externos. Além disso, nos preocupamos com nossos colaboradores, sejam eles funcionários públicos, terceirizados ou estudantes. Mensalmente fazemos reuniões com os mesmos para identificar possíveis problemas de comunicação, além de uma caixinha de sugestões que é muito utilizada para avaliarmos os problemas. Ainda, temos uma preocupação muito grande com a parte ambiental. Fazemos uso de fertirrigação e compostagem com a parte sólida dos dejetos, que são utilizados como adubo em nossas lavouras de milho. Ainda, nos preocupamos com o bem-estar animal. Na UEPE-GL, os machinhos são recriados e vendidos no leilão como tourinhos e os procedimentos que envolvem dor são realizados com uso de anestesia e anti-inflamatórios. Nos preocupamos com a formação dos nossos mais de 100 alunos que são treinados anualmente no setor e queremos que eles saiam sabendo produzir de forma sustentável.
JH: Todos os anos há uma enorme quantidade de profissionais formados, mesmo assim há uma defasagem grande de pessoas que pretendem trabalhar no campo. Como vocês veem essa situação?
UFV: Não temos observado isso com os alunos formados pela UFV que se dedicaram a estágios que a instituição oferece. Nossos alunos têm a possibilidade de aprender na prática tudo aquilo que é ensinado na teoria, o que pode ser fundamental para o interesse em trabalhar no campo e ser um bom profissional. O sucesso de qualquer carreira é a paixão pelo que faz.
JH: Quais as maiores dificuldades enfrentadas no campo?
UFV: Na área do leite, podemos dizer que a instabilidade nos preços dos insumos e leite, fazendo com que muitas vezes não seja possível um planejamento de médio e longo prazo. Isso se deve a dependência que o Brasil tem do transporte rodoviário, enquanto deveria investir em transporte ferroviário. Ainda, produtores que não aceitam tecnologias e não fazem análises de custos. O produtor que não sabe quanto custa o litro de leite que produz dificilmente estará aberto a tecnologias e assim, possivelmente não terá futuro na atividade.
JH: E como superá-las?
UFV: Superar a questão da logística no Brasil é um ponto de difícil resposta. Sabemos que o Brasil precisa ser menos dependente do transporte rodoviário, mas como viabilizar isso é uma outra história. Em relação aos produtores que não aceitam tecnologias, acreditamos que seja uma questão de tempo, pois os filhos que estão assumindo os negócios estão mais preocupados com isso e em alguns anos terão que abrir as porteias para a assistência técnica, seja ela via empresas de insumos ou contratadas para esse fim.
JH: Quais cursos de extensão são oferecidos para a comunidade? E como participar?
UFV: Durante a Semana do Fazendeiro que acontecerá no período de 14 a 20 de julho de 2018 serão oferecidos pela UEPE-GL 12 cursos:
1- Aspectos Gerais na Reprodução de Bovinos
2- Avaliação de Escore Corporal em Vacas Leiteiras
3- Avaliação Fenotípicas em Vacas Leiteiras
4- Conformação de Vacas Leiteiras e diferenciação visual de diferentes composições raciais do Girolando
5- Manejo de Cria
6- Manejo de Recria
7- Manejo de Vacas Leiteiras
8- Manejo para obtenção de leite com qualidade
9- Cuidados com a vaca gestante
10- LINA – Leite Instável Não Ácido
11- Dieta aniônica
12- Gramíneas de clima temperado para bovinos de leite
As inscrições para a Semana Do Fazendeiro podem ser feitas pelo site: http://www.semanadofazendeiro.ufv.br/
Durante o ano todo são oferecidos os seguinte cursos:
1- Inseminação artificial
2- IATF
3-Palpação e ultrassom
4- Nutrição básica e avançada para bovinos de leite
5- Casqueamento
6- Uso de GPS
7- Ordenhador
8- Manejo e cria e recria
Esses cursos são oferecidos pela nossa Central de Cursos, a Estábulo Cursos em Gado de Leite. As inscrições podem ser feitas no site: www.estabulocursos.com.br
JH: Como a Associação Mineira agrega a estrutura, ensino e pesquisa?
UFV: Avaliamos como de grande importância o serviço prestado pela entidade, pois nós como produtores de genética e selecionadores da raça Holandesa entendemos que o serviço de Registro Genealógico, e todos os outros prestados pela entidade, contribuem para a valorização dos animais e auxiliam na seleção e melhoria do rebanho. Dessa forma, agrega a formação de estudantes, que estão envolvidos em todo esse processo durante o estágio, disciplinas e pesquisas aqui na UEPE-GL. Com relação a pesquisa, recentemente contamos com a parceria da Associação, representada pelo Superintendente Técnico Silvano Carvalho Júnior, para realização da dissertação de mestrado, onde foram classificadas 28 vacas. O trabalho deverá ser concluído em julho desse ano.
JH: Como vocês vêem o futuro do agronegócio do leite?
UFV: O futuro é a tecnificação, produzir mais leite com menos pessoas envolvidas nas atividades da fazenda. Está cada dia mais difícil encontrar pessoas que queiram morar na área rural. Ainda, o futuro está na produção de leite para atender nichos específicos no mercado, como animais criados a pasto, leite rastreado e leite orgânico. O mercado brasileiro está ficando mais exigente e haverá mercado consumidor para produtos especializados.
JH: Quais os serviços que realizam na Associação Mineira?
UFV: Utilizamos o serviço de Registro Genealógico, e recentemente realizamos o serviço de Classificação Linear para dissertação de mestrado, sendo um trabalho em parceria com a Associação Mineira.
JH: O futuro do campo está nas mãos dos jovens?
UFV: Acreditamos que sim. Podem fazer a diferença participando de programas e estágios que o completem como profissionais para chegar no mercado de trabalho mais preparado. A parte teórica da universidade também é muito importante, pois instiga o aluno a pensar, ter senso crítico e ser organizado, pois sem isso possivelmente terá que fazer a disciplina mais de uma vez. Mas, em nossa opinião, o mais importante é a construção da habilidade em se relacionar com pessoas. Temos notado que muitos alunos são excelentes tecnicamente, mas têm dificuldade em compartilhar o conhecimento ou em trabalhar em equipe. Ainda, notamos que os alunos hoje em dia gastam muita energia com assuntos desnecessários e não focam no que interessa. Dessa forma, aquele aluno que leva a sério a teoria, aplica os conhecimentos na prática e foca suas energias em criar um ambiente de trabalho agradável estarão mais preparados para fazer a diferença.
VIVENCIANDO O DIA A DIA DA FAZENDA
“Trabalhar na UEPE-GL/UFV é uma experiência incomparável. Aprendemos toda a rotina de trabalho de uma propriedade leiteira, desde as atividades básicas às exercidas por um profissional do ramo. Isso nos permite identificar as necessidades e problemas que possam a vir ocorrer e consequentemente sana-los. O convívio diário com os funcionários nos torna mais humildes e próximos a eles, formando um laço de amizade e confiança, facilitando e melhorando a lida. A associação entre o básico e o profissional, nos tornam profissionais diferenciados, com visão crítica para atender ambos “lados da moeda”, facilitando e melhorando a produtividade da propriedade.”
Hudson Martins – Estudante de Zootecnia da UFV
“Estagiar na UEPE-GL é de suma importância para meu crescimento profissional, uma vez que é uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante as aulas, tendo apoio de profissionais experientes e de professores renomados na área da bovinocultura de leite. A unidade de ensino fornece oportunidade de qualificação nas áreas de extensão (Programa Família do Leite), de pesquisa (bolsas de iniciação científica) e também cursos (Estábulo Cursos) com preços acessíveis aos alunos.”
Thamires Diniz – Estudante de Medicina Veterinária da UFV
“Durante a formação para o mercado de trabalho, existem dois pontos principais a teoria e a prática, entretanto apesar do pouco tempo de experiência, aprendi que não basta apenas saber como fazer, é necessário saber fazer, e fazer bem feito, que é justamente o que consigo aprender na prática com o estágio na UEPE-GL. Trabalhar com aquilo que se gosta, por si só já é algo para se estar feliz, mas melhor ainda é poder aprender, melhorar e aprimorar a fazer aquilo que se gosta!”
Inara Vitória Cunha de Cássio – Estudante de Medicina Veterinária da UFV