Estudo favorece o desenvolvimento de novos sensores que identifiquem alterações na ingestão de água e alimentos causadas pelo estro
Sensores que coletam dados sobre o consumo das vacas são capazes de detectar o estro (calor) de cada animal com horas de antecedência. A possibilidade surgiu a partir de uma descoberta de pesquisa realizada na Embrapa Pecuária de Leite, em Juiz de Fora – MG, conduzida pelo candidato ao mestrado em Zootecnia Frederico Correia Cairo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Os estudos foram feitos em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e a Universidade Federal de Minas Gerais.
Os resultados mostraram que a variação no consumo e comportamento da ingestão de água e ração de uma vaca leiteira é capaz de revelar se o animal entrará em cio com até seis horas de antecedência, e garante maior precisão em comparação com a observação visual.
“Sensores em bebedouros eletrônicos e bebedouros permitem a identificação das variações no consumo de ração e água causadas pela expressão do estro (calor) em vacas leiteiras”, afirma o pesquisador da Embrapa Luiz Gustavo Ribeiro Pereira , que orientou a pesquisa. “o comportamento alimentar na proximidade do estro serviu de base para o desenvolvimento de modelos computacionais no laboratório do professor João Dórea, da Universidade de Wisconsin. Segundo ele, tais modelos permitirão a produção de sensores para identificação precisa e acurada de estro em fazendas leiteiras.
Para Mariana Magalhães Campos , co-orientadora do estudo e também pesquisadora da Embrapa, a detecção rápida e precisa do estro é fundamental para o planejamento da reprodução na fazenda. “A pecuária de precisão evoluiu muito nesse aspecto e o estudo confirma a possibilidade de incluir a funcionalidade ‘detecção de estro (cio)’ em bebedouros eletrônicos e bebedouros”, afirma o cientista.
Já mestre em Zootecnia, Cairo diz que o estudo abre a possibilidade do desenvolvimento de novos dispositivos e sensores que permitem identificar as variações de comportamento hídrico e alimentar causadas pelo estro. “Bebedouros e bebedouros eletrônicos que geram dados automaticamente ainda não têm a função de gerar alertas de estro”, relata. Segundo ele, essa funcionalidade seria importante para melhorar o manejo da reprodução e evitar a perda de estro.
VACAS CONSOMEM MENOS NO CIO
Já se sabia que a expressão do estro provoca redução no consumo alimentar e no comportamento. A pesquisa realizada no campo experimental da Embrapa em Coronel Pacheco – MG avaliou como essas mudanças acontecem no comportamento do animal, além de desenvolver e avaliar previamente modelos para detectar o cio. Para tanto, avaliou-se o consumo alimentar e hídrico em dois ensaios com novilhas Holandês x Gir. A observação visual foi feita três vezes ao dia durante 30 minutos (7h, meio-dia e 17h) enquanto o comportamento alimentar e hídrico das vacas era obtido por meio de sistema eletrônico de bebedouros e bebedouros. Durante a pesquisa foram observados 99 eventos de estro. Foram coletadas duas séries temporais de sete dias: uma representando sete dias incluindo o dia do estro e outra de sete dias sem eventos de estro.
Com o objetivo de desenvolver modelos capazes de detectar horas de estro à frente, as séries temporais foram fracionadas em intervalos de seis horas cada. Mariana Campos explica que a cada intervalo de seis horas foram computados o consumo total de alimentos, o número de idas ao bebedouro e bebedouro e o tempo despendido no consumo de alimentos e água. “Todas as variáveis mostram uma diminuição significativa do dia do estro em comparação aos dias anteriores e à série do anestro: uma redução entre 25% e 35%”, revela a pesquisadora.
CRIAÇÃO DE GADO DE PRECISÃO
Existem diferentes estratégias para identificar o estro nos animais do rebanho. A observação visual é a mais comum. Os fazendeiros podem adotar um rufião, que montará a vaca no cio. Até outra fêmea pode montar a vaca, mostrando que a inseminação pode ser realizada. Porém essa estratégia pode falhar por engano ou descuido do observador, como explica Pereira: “O aumento do número de animais e da produção, assim como a redução de pessoal são mudanças que estão ocorrendo nos sistemas de produção de leite do país e é necessário adotar estratégias mais precisas que envolvam a pecuária de precisão ”, defende o cientista.
Ele ressalta que a identificação do estro é um dos principais fatores responsáveis pela eficiência da reprodução e que um mau desenvolvimento da reprodução pode causar uma maior taxa de disposição de vacas e cochos. “Mas às vezes o problema não diz respeito ao animal, mas sim ao observador, já que apenas algumas vacas podem ser descritas como inférteis.” Os dados apontam que cerca de 90% das causas das baixas taxas de detecção podem ser atribuídas ao manejo e apenas 10% às vacas.
O bom manejo reprodutivo do rebanho significa aumento da produção e rentabilidade da atividade. “Para aumentar a eficiência da detecção do estro, o monitoramento automático do comportamento dos rebanhos leiteiros vem ganhando importância nos últimos anos”, lembra o autor da dissertação. Cairo argumenta que a observação visual atinge níveis de detecção que podem variar de 50% a 90%. Porém, o monitoramento constante da atividade reprodutiva do rebanho nem sempre pode ser realizado devido à rotina das propriedades. “Outros estudos envolvendo a avaliação das variações que ocorrem em função do estro são necessários para desenvolver algoritmos, que farão os sensores funcionarem, para identificar mudanças de comportamento relacionadas ao estro que funcionem como base para disparar alertas para a tomada de decisões”, conclui.
O estudo mostrou que antes de entrar no cio (ou estro) as vacas consomem entre 25% e 35% menos água e comida.
A descoberta abre caminho para sistemas eletrônicos que identificam fêmeas que estão prontas para se reproduzir com precisão e com horas de antecedência.
O método é muito mais preciso do que a detecção de estro convencional: observação de animais.
A acurácia do novo sistema evitaria a perda de estro, uma das principais causas da diminuição da eficiência reprodutiva.
90% dos fatores para as baixas taxas de detecção atuais podem ser atribuídos ao manejo e apenas 10% são atribuídos às vacas.
A identificação incorreta pode levar a maiores taxas de descarte de vacas e novilhas.