O QUE ESPERAR PARA O ANO DE 2018?

Especialistas ressaltam a importância do produtor de leite conhecer o seu negócio

Após anos de constantes altos e baixos da economia, muitas denúncias, vendas, impostos…Começa 2018 e a expectativa continua grande. O JORNAL HOLANDÊS traz com exclusividade a opinião de vários especialistas e órgãos que estão constantemente de olho no mercado do leite. E vem aí boas notícias, todos acreditam que é possível melhorar. O mercado dá sinais de aquecimento, o ano deverá ter uma ampla pauta de discussões, 2017 mostrou que é fundamental cada vez mais se profissionalizar para enfrentar os tempos difíceis de forma mais inteligente. No nosso especial sobre o MERCADO 2018 trazemos dicas importantes para o seu negócio, independente de formato ou tamanho, acredite, você pode crescer em tempos de crise. Continuando o ESPECIAL, você sabe o que benchmarking? Saiba como funciona, as vantagens e desvantagens. Fica aqui a pergunta: qual será o seu benchmarking em 2018?

Foto Wagner Correa

2018-01-30

EFICIÊNCIA E COMPETITIVIDADE

FELICIANO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
Assessor Técnico Especial – Bovinocultura – Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA

Como de praxe, há a cada início de ano uma nova expectativa no setor de lácteos quanto a pontos relacionados a preços, consumo, custos, que naturalmente refletem questões macroeconômicas, como taxa de juros, inflação e câmbio que, por vezes, são sinalizadores de rumos da economia do país. Com o reinício do período de aulas e com a manutenção de índices controlados de inflação, há uma expectativa em relação a uma retomada no consumo de lácteos, o que amplia a demanda da indústria e, por conseguinte, possibilita um estímulo à elevação na oferta de leite caso os preços recebidos pelos produtores apresentem reação. Normalmente, no início de ano é esperada uma elevação dos preços pagos aos produtores. No entanto, a expectativa é que os preços se mantenham estáveis em relação aos praticados no ano passado.
Quanto aos custos de produção, segundo dados do Centro de Inteligência do Leite/Embrapa Gado de Leite, após cinco meses consecutivos de aumento, em dezembro, pode-se dizer que houve uma estabilização, com ligeira retração. As ações de Governo que contribuem para o setor, inclusive impactando nos custos de produção, continuam, como o empenho junto aos agentes financeiros que atuam no Estado para maior disponibilidade de recursos para o crédito rural, os serviços de assistência técnica, de pesquisa agropecuária e de defesa sanitária animal prestados pelo Estado, a política de incentivo fiscal às indústrias e produtores por meio do crédito presumido, o incentivo à abertura de indústrias ligadas ao agronegócio leite no Estado, entre outros incentivos.
No entanto, como o custo de produção é uma variável peculiar a cada propriedade ou sistema de produção, a recomendação que deve ser feita diretamente aos produtores é a de que busquem eficiência no uso dos insumos e serviços disponíveis (pastos e alimentos volumosos, mão-de-obra, energia, concentrado, mineral, máquinas e equipamentos….), adotando práticas de registros, controles e monitoramento de índices técnicos e econômico-financeiros. É necessário que o produtor conheça os custos de produção para que ele verifique o seu grau de eficiência na atividade e busque competitividade.

 

“A MUDANÇA COMEÇOU”

CEPEA-ESALQ/USP

Algumas projeções do Ministério da Pecuária, Agricultura e Abastecimento – Mapa indicam que a produção de leite deverá crescer a uma taxa anual entre 2,1% e 3,0% nos próximos 10 anos. Mas a difícil crise enfrentada pelo setor em 2017 pode ser um fator de grande desestímulo à produção. A queda drástica dos preços no segundo semestre do ano prejudicou as margens dos produtores.
Para uma parcela mais vulnerável, os preços do leite em baixos patamares acabam estimulando o abate de fêmeas e a gradual transição para o mercado de corte, por meio da mudança de padrão genético do rebanho e cria de bezerros. Para outra parcela, a menor receita se traduz em diminuição dos investimentos direcionados à produção. Com a receita limitada em 2017, muitos pecuaristas não fizeram a reforma das pastagens, o que pode contribuir para a perda de volume e qualidade da produção no ano de 2018.
Assim, tem-se instaurado a “montanha russa” de preços na cadeia láctea nos últimos anos: com sucessivos desencontros entre oferta e demanda e poucas medidas para diminuir as fragilidades do setor. Para isso, muitos assuntos devem entrar na pauta de discussão, como a ampliação das negociações com o mercado externo, a necessidade de elevar a qualidade da matéria-prima, as políticas de pagamento por qualidade, a transparência das negociações entre os elos da cadeia, a necessidade de elevar o nível de gestão de fazendas e indústrias, a importância de estimular o consumo de lácteos e da criação de políticas públicas de longo prazo para o setor. O caminho, com certeza, é árduo, mas o contínuo processo de organização e profissionalização do setor (resultado das dificuldades enfrentadas nos últimos anos) dá bons sinais de que a mudança começou.

 

CRESCIMENTO POSITIVO

VALTER GALAN
Engenheiro agrônomo, formado pela ESALQ/USP, com mestrado em Administração pela FEA/USP e responsável pela área de inteligência de mercado da MilkPoint

OFERTA

Produção de leite
A produção de leite terminou 2017 com crescimento em desaceleração, em função da forte queda de preços no segundo semestre do ano e do aumento dos preços dos grãos (milho e farelo de soja). O ano de 2018 começa com este mesmo cenário para a produção, isto é, preços ainda baixos e milho e soja mais caros que no início do ano passado. Desta forma, acredito que o crescimento da produção, no início de 2018, será pequeno e acelerará ao longo do ano, na medida em que os preços no mercado interno comecem a se recuperar. O crescimento da produção no total ano de 2018 deve ser menor do que em 2017, mas ainda positivo – acreditamos em taxa de crescimento entre 2,5 e 3% em 2018 vs. 2017.

Importações
Apesar dos preços internacionais baixos, as importações devem começar 2018 em queda em relação aos volumes do início de 2017, principalmente em função dos preços baixos no mercado interno brasileiro, que reduzem o interesse pelo produto importado.
Conforme os preços internos brasileiros subam, deve aumentar a competitividade/atratividade das importações que, no total ano de 2018, tendem a ser maiores em volume do que o observado em 2017. Além dos preços no mercado brasileiro, a taxa de câmbio (que num ano eleitoral tende a ser mais volátil do que em outros anos) tem uma influência importante neste cenário.

DEMANDA

Consumo interno
A demanda interna de lácteos deve seguir tendência de recuperação, observada a partir de julho de 2017. Um fator importante a ser ressaltado aqui é que os preços da maioria dos lácteos entram em 2018 mais baixos do que entraram em 2017 – por exemplo, a média do UHT em dez/17 é, em valores deflacionados (isto é, já descontada a inflação!), 10,4% menor do que em dez/16. Para a muçarela, a queda real de preços é de -7,6% no mesmo período. Preços mais baixos certamente estimulam o consumo de lácteos. Ao mesmo tempo, o (ainda lento!) retorno da atividade econômica traz de volta um (relativo) otimismo aos agentes de mercado e a sinalização de recuperação de 2,5% do PIB em 2018 sinaliza a recuperação de consumo em 2018.

Exportações de lácteos
Não tendem a ser fator relevante no balanço de oferta & demanda para 2018, mas é importante mencioná-las aqui por que a abertura de novos mercados e o aumento sustentável das nossas exportações lácteas exigem ações estruturantes de médio/longo prazos, ligadas à nossa eficiência produtiva e aos nossos custos de produção (em fazenda, nas fábricas e na logística de exportação), à qualidade e especificações dos nossos produtos e à negociação para abertura e acesso a mercados.
Neste cenário de Oferta & Demanda, os preços internos do leite e dos derivados lácteos podem iniciar um processo de recuperação e, na média do ano, podem ter variação (em relação a 2017) próxima ou mesmo acima da inflação projetada para o ano, que é de cerca de 4%.

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