“REDUÇÃO DE CUSTO É A BOLA DA VEZ”. Acompanhe as dicas do nosso especialista!
A primeira matéria do ESPECIAL EMPREENDEDORISMO traz uma conversa com o Zootecnista Especialista em nutrição de bovinos leiteiros, Lucas de Oliveira Santos e Assis que fala com exclusividade ao
JORNAL HOLANDÊS sobre os gastos nas várias áreas da fazenda na hora de se produzir leite com qualidade. Ele dá dicas importantes para todos os criadores, desde o pequeno ao grande produtor. E ressalta que o foco na redução de custo é a bola da vez. “Vamos tentar fazer isso de forma equilibrada para que o resultado não fique comprometido. Vamos tentar reduzir custos sem perder faturamento. Desta forma buscaremos o tão desejado lucro máximo”, ressalta Lucas.
Foto arquivo ACGHMG
JORNAL HOLANDÊS: Como conciliar os gastos com o preço pago pelo leite?
LUCAS DE OLIVEIRA SANTOS E ASSIS: O primeiro passo é monitorar os gastos. Saber ao certo o que é gasto com alimentação, mão de obra, medicamentos, entre outros. Deve procurar conhecer seus custos fixos e variáveis. Assim conhecerá melhor o que mais impacta na sua atividade e tomará decisões mais acertadas sobre seu negócio.
JH: Muitos acreditam que para reduzir custo é necessário cortar a comida da recria. O que me diz sobre isto?
LA: Cada caso é um caso. De modo geral não funciona bem esta medida. Mas checar em momentos difíceis se estes animais estão super alimentados ou se conseguimos atender suas exigências com ingredientes mais acessíveis isso deve ser feito. Dependendo do grau de sangue dos animais, os pastos podem contribuir bem para conseguirmos fazer uma dieta mais em conta para esta categoria. Se a fazenda estiver em crescimento, a situação fica difícil de ser conduzida, pois nestes casos o produtor retém todas suas bezerras, ficando bem inchada esta categoria. Muitas vezes, tendo mais animais na fase de recria do que vacas em lactação. Portanto, se fizer os cortes, fazer de forma a atender a exigência nutricional.
JH: E a redução do mineral para as vacas secas?
LA: Reduzir a suplementação mineral em situação nenhuma deve ser feito. Devemos sempre estar preocupados com essa exigência. Mas concordo em reduzir a suplementação de concentrados em momentos desfavoráveis para o produtor. Não sou a favor de subalimentar categoria nenhuma. Percebo na prática do campo que essa categoria muitas vezes está comendo mais que o necessário; principalmente por ser de exigência nutricional baixa (não estão dando leite e nem estão em fase de crescimento).
JH: De forma inteligente, como reduzir custos sem prejudicar a produção de leite?
LA: FAZENDO COMPRAS DE INSUMOS DE FORMA ESTRATÉGICAS
Escolher as épocas de baixa dos principais cereais e estocar estes alimentos. Se o produtor não tiver capital suficiente, já existem linhas de crédito para isso. A economia no ano é gritante, além de não sofrer com a volatilidade do mercado. Se o produtor faz isso, diminui as chances de ter que mexer na alimentação do rebanho.
DESCARTE DE ANIMAIS VAZIOS COM POUCO LEITE
Aumentar a pressão de seleção dos animais pode ajudar, pois assim diminui animais que não estão eficientes no sistema, economizamos trabalho e comida além de fazer um caixa para levantarmos a fazenda.
FAZER DIVISÕES BEM UNIFORMES DE LOTES DOS ANIMAIS
Assim alimentamos os animais com o que eles exigem, sem favorecer ou penalizar algum animal. Dietas únicas (sem separação dos animais) na maioria são mais caras que as dietas de lotes divididos por categoria, produção, idade, tamanho e status reprodutivo.
NÃO DESAFIAR NUTRICIONALMENTE ANIMAIS GESTANTES QUE JÁ ESTÃO NO TERÇO FINAL DE LACTAÇÃO
Estes animais já não respondem a grandes desafios. As respostas em produção não serão das melhores. Por isso, não podemos investir além do exigido para estes animais nos momentos de dificuldade financeira da propriedade.
JH: Com todas as mudanças sugeridas, como fica a qualidade do leite? Pois esse é um diferencial na hora do preço.
LA: Os produtores sempre devem estar de olhos abertos quando falamos em qualidade de leite. As mudanças sugeridas para ajustar os custos até aqui não impactam nesta qualidade, pois em momento algum a sugestão desbalanceia a comida das vacas em lactação. Mudanças sem critério, como retirar aditivos como tamponantes, podem gerar problemas na qualidade do leite; especificamente na queda da proteína e gordura do leite. A CCS do leite e CBT não terão impacto com essas mudanças sugeridas. Os parâmetros de qualidade sempre devem estar sendo observados. A cada dia que passa a remuneração do produtor está mais vinculada a estes parâmetros.
JH: Sabemos que a redução de gastos está diretamente ligada ao tamanho do rebanho, por isso quais são as dicas para um produtor de gado de alto desempenho?
LA: Ficar atento aos custos da fazenda, como dito em pergunta anterior. Anotar, lançar números, produzir relatórios. E o mais importante é usar estes números para a tomada de decisões. A atividade, principalmente para os de maior desempenho, não permite que seja diferente. Depois que tiver os números na mão, saberá onde investir, e onde deve focar. Normalmente nestes casos existe o auxílio de um profissional para ajudar a traçar as metas e estratégias para conseguir uma melhor remuneração do capital investido.
JH: E para um produtor de gado com menos potencial?
LA: Para o pequeno produtor, se possível sugiro o mesmo acompanhamento do grande. Já existem diversos programas para auxiliar na gestão da sua atividade. Se possível deve procurar um profissional para que possa indicar o melhor programa da sua região. O investimento é baixo perto do retorno. Mas de maneira geral, algumas medidas podem ajudar. Muitas vezes o produtor de baixa tecnologia tem dificuldade de produzir seu próprio concentrado, e em grande parte dos casos, esta medida pode reduzir de 15 a 25% do custo gasto com alimentação. Isso o torna mais competitivo. Outro ponto interessante é procurar não adquirir máquinas nem implementos que são usados poucos dias ao longo do ano. O capital parado e a depreciação da máquina ficam muito caro para este perfil de produtor. Outra alternativa, já muito usada e muito eficaz é tentar negociar o leite em grupo. Neste perfil de produtor sempre é bom unir, associar e cooperar.
JH: Dê algumas dicas de como a adubação e alimentação corretos podem fazer a diferença.
LA: Uma nutrição inadequada pode ocasionar perdas irreparáveis, principalmente nos momentos em que o preço do leite está próximo do custo (como exemplo, posso citar: baixa da produção, queda nos índices reprodutivos e queda na produtividade/Ha/ano, que é um dos principais indicadores ligados a rentabilidade na produção de leite). Portanto, é necessário buscar bons índices de produção na fazenda. Todos eles são correlacionados ao resultado financeiro. Quem atinge bons índices produtivos tem maior chance de obter melhores resultados.
JH: A tecnologia também pode ajudar na hora de economizar?
LA: Com certeza. No meu ponto de vista toda tecnologia implantada deve ter como objetivo melhorar a eficiência do processo.
JH: Fala-se muito sobre sustentabilidade, como uma propriedade pode obter bons lucros e ser sustentável?
LA: FAZENDO APROVEITAMENTO DE DEJETOS PARA AGRICULTURA. Assim, garantimos parte dos minerais exigidos pelas gramíneas, diminuindo o adubo convencional.
FAZENDO USO CONSCIENTE DO RECURSO ÁGUA, retirando apenas a quantidade necessária para o uso, tanto em consumo dos animais, quanto para irrigação.
FAZER PLANTIO DIRETO E TUDO QUE FOR POSSÍVEL PARA PRESERVAR A ATIVIDADE BIOLÓGICA DO SOLO. Pois para ser sustentável, deve oferecer a terra condições de produzir bem e com o mesmo rendimento por anos.
JH: Investir significa gastar?
LA: Não. Investir não significa gastar. O investimento pode trazer bons retornos, mas muitas vezes representa desembolso imediato, o que traz um sentimento de gasto.
JH: Muitos confundem fluxo de caixa com custo real. Qual a diferença e importância de cada um para o futuro da propriedade?
LA: O que difere é que o lucro real é o dinheiro apurado. Nessa conta inclui tanto o custo fixo, quanto o custo variável. Portanto está incluso o retorno do capital imobilizado, pagamento das depreciações, do maquinário e das instalações. Se o produtor levar em conta somente o fluxo de caixa, dentro de pouco tempo suas máquinas estarão desgastadas, suas cercas e instalações sem condição de uso, e este mesmo produtor não terá capital suficiente para fazer as reposições ou consertos nas máquinas e instalações.
JH: O que deve ser observado na hora de fazer as contas?
LA: Observar o quanto a alimentação representa em porcentagem dentro do faturamento mensal. Este indicador é o mais impactante. Segundo alguns programas de gestão, a alimentação das vacas não pode ultrapassar 35% do faturamento, salvo algumas exceções em que a mão de obra é muito eficiente impactando cerca de 10%. Outro fator observado é a mão de obra, que não deve ultrapassar 15% do faturamento, salvo se o produtor for muito eficiente nos gastos com os concentrados. Estes dois parâmetros, a grosso modo, devem ser os mais observados, pois juntos representam 50% do faturamento do leite. Estratégias para uma recria eficiente também devem ser traçadas. Em alguns programas de custo da atividade de leite a recria não entra no custo de produção de leite e sim no custo da atividade leiteira.
JH: O que pode de imédiato parecer economia e que no final aumentará os custos?
LA: Retirar a comida das vacas em lactação, isto reduzirá ainda mais o faturamento tornando a porcentagem gasta com alimentos ainda maior em relação ao faturamento de leite da fazenda, isto torna-se a situação ainda pior.
JH: Na dúvida o que o produtor de leite deve fazer?
LA: Buscar o auxílio de profissionais da área que tenham conhecimento da questão financeira de propriedades rurais, para que possam fazer as melhores indicações.
JH: Muitos produtores acham inviável investir em um profissional. É caro?
LA: Não é caro, inclusive existem vários programas de gestão onde o laticínio e algumas cooperativas pagam parte do valor da diária do profissional. O retorno financeiro rapidamente é observado quando se traça e cumpre as metas propostas.
JH: E para finalizar, deixe uma mensagem para os produtores de leite.
LA: Desejo a todos os produtores de leite um ótimo 2017. Os desafios serão grandes. Mas já posso dizer que o foco na redução de custo é a bola da vez. Vamos tentar fazer isso de forma equilibrada para que o resultado não fique comprometido. Vamos tentar reduzir custos sem perder faturamento. Dessa forma buscaremos o tão desejado lucro máximo.
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