Medidas de manejo que ajudam a prevenir lesões podais em bovinos e evitam grandes prejuízos
O pedilúvio nada mais é do que uma caixa contendo uma solução de desinfetante que tem o objetivo de desinfetar a pele próxima ao casco e o casco propriamente dito do animal.
O médico veterinário, Dr. Péricles R. Lacerda e Silva, especialista em Podologia Bovina, mostra algumas medidas de manejo que ajudam a prevenir as lesões podais em bovinos.
O pedilúvio mais utilizado no Brasil é o pedilúvio de passagem (foto). Nesse tipo de pedilúvio, os animais passam em fila indiana, na saída da ordenha, no caso de animais em lactação. São duas caixas pelas quais o animal passa, uma contendo água e outra, desinfetante.
Os melhores desinfetantes para serem usados em pedilúvios são os de alta capacidade de desinfecção, mesmo em ambientes sujos. Os dois principais desinfetantes com essas características são: formol e sulfato de cobre.
O formol é mais barato, o que lhe confere uma vantagem, mas, por outro lado, por ser volátil, dura menos tempo que o sulfato de cobre.
Sobre a colocação da caixa com água antes da caixa com desinfetante, do ponto de vista prático, isso é pouco eficaz, pois a simples passagem do animal com acúmulo de sujidades na pele por essa caixa de água não remove a sujeira eficientemente.
Pedilúvio de passagem
Existem outros tipos de pedilúvios, como o
Pedilúvio de passsagem em piquete
Semelhante ao usado com vacas em lactação, mas para vacas secas e novilhas.
Tem também o
Pedilúvio de estação
Nesse caso, os animais não passam rapidamente por ele. Trata-se de uma caixa grande de desinfecção, onde se colocam animais os deixando presos de cinco a dez minutos. Esse sistema é um pouco mais eficiente do que o pedilúvio de passagem.
QUEIXAS DOS PRODUTORES RELACIONADAS AO PEDILÚVIO
Diluição inadequada do produto
Seja em sulfato de cobre ou em formol, a solução deve conter de 3 a 5% de desinfetante na diluição. Acima dessa quantidade, o produto pode irritar muito a pele do animal.
Mau dimensionamento do pedilúvio
A caixa deve ter em torno de 2 metros de comprimento ou um pouco mais, para que o animal possa dar pelo menos dois passos na solução desinfetante.
Quantidade inadequada de animais que atravessam um pedilúvio de passagem
Em uma caixa de 200 litros, o máximo de animais que podem passar são 130. Ultrapassando esse número, as vacas estarão passando por uma solução de sujeira, e os problemas podais começarão a aparecer.
Profundidade incorreta do pedilúvio
A solução desinfetante deve alcançar a sobreunha do animal (unha que fica logo acima do casco), já que essa está sujeita a lesões. Existe uma lesão chamada dermatite digital, que é a principal lesão que se consegue prevenir com o uso do pedilúvio. Essa lesão podem acontecer até a altura da sobreunha. Por esse motivo, são recomendados pelo menos 15 centímetros de profundidade para a caixa.
Acúmulo de sujidade no casco do animal
A camada de sujeira muito espessa impede a ação do desinfetante na pele e em parte do casco, o que diminui a eficácia do pedilúvio. Veja o exemplo:
Normalmente, as bactérias anaeróbias se aproveitam desse acúmulo de sujeira, que cria um ambiente sem oxigenação para elas crescerem.
Frequência do pedilúvio
Para animais em confinamento, o processo feito três vezes por semana (adequadamente, de acordo com os pontos citados acima) é o suficiente para manter a dermatite digital controlada no rebanho. Para aqueles que estão em piquetes, uma vez por semana é suficiente. Em casos de animais que estiveram no barro e com acúmulo de sujeira, o ideal é que os cascos sejam lavados antes de entrar no pedilúvio.
Usar o pedilúvio como tratamento de lesões
O pedilúvio é um processo feito para prevenção de lesões nos cascos. Quando um animal já está com alguma irritação, ela primeiro deve ser tratada. O animal ferido não deve passar pelo pedilúvio (idealmente), já que o desinfetante atrasa e prejudica o processo de cicatrização.
Seguindo estes passos corretamente, é possível prevenir a dermatite digital e várias outras lesões em seu rebanho.
Fonte: Milkpoint
NOVIDADE INTERNACIONAL
A Holanda desenvolveu um sistema em que não utiliza desinfetante na sua solução para limpeza dos pés dos animais. Depois de chegar a conclusão que as bactérias anaeróbicas precisam do ambiente com matéria orgânica aderida a pele para começar o desenvolvimento, eles desenvolveram um sistema em que a vaca sai da linha de ordenha e entra caminhando por canaletas que possuem um esguicho de alta pressão que lava exatamente o espaço inter digital e a pele logo acima do casco, na parte posterior, onde acontece o acúmulo de sujeira. Nesse caso eles utilizam somente água com alta pressão, sem desinfetante.
Uma vez que não tem um micro ambiente anaeróbico para a bactéria se instalar, o animal está menos sujeito principalmente a dermatite digital que é doença mais prevalente nos rebanhos no mundo inteiro e está diretamente relacionada a frequência de pedilúvio.
DIFICULDADE DE LOCOMOÇÃO GERA GRANDES PERDAS
As lesões podais nos bovinos, além de afetarem negativamente o bem-estar animal, geram inúmeras perdas ao sistema produtivo, seja ele de produção de leite ou carne. A dificuldade de locomoção impacta na ingestão de alimentos, na manifestação de comportamentos naturais (como o cio, por exemplo), nos índices reprodutivos e, consequentemente, na produtividade animal.
Para se ter uma ideia, uma vaca leiteira com leve desconforto na locomoção, pode estar deixando de produzir até 5 litros de leite por dia, dependendo da lesão, além de apresentar uma queda de 5% na taxa de concepção. Em um caso mais avançado, essa redução pode chegar a 30 litros de leite por dia, e uma queda de 50 a 100% na taxa de concepção.
A ocorrência e a incidência dos problemas de cascos estão relacionadas a diversos fatores, entre eles, os relacionados ao animal (como a conformação e imunidade, por exemplo), ao ambiente em que são mantidos (instalações, pisos, corredores, tipos de cama, etc.), à nutrição que recebem, às condições de manejo, entre outros.
Em sistemas de produção leiteira, a sanidade dos cascos é especialmente importante, uma vez que os problemas podais são umas das principais causas de eliminação precoce de animais do rebanho. Desta forma, o manejo preventivo irá proporcionar uma maior produtividade e longevidade dos animais, além de melhores condições de vida e conforto.