QUE FRIO!!!

Mesmo o gado Holandês gostar do inverno, as baixas temperaturas requer cuidados especiais com o rebanho

FOTO DIVULGAÇÃO QUEIJO BARÕES DA MANTIQUEIRA | ITANHANDU – MG

O frio chegou a Minas… E todos nós realizamos muitas mudanças para enfrenar as baixas temperaturas. O mesmo não é diferente com relação aos animais. A raça Holandesa se adapta bem ao inverno, inclusive, como no ser humano, elas comem mais nessa estação e automaticamente aumentam a sua produção. O gado Holandês no estado possui vários sistemas de criação: extensivo (criação de animais a pasto), semi-intensivo (os animais são criados a pasto e recebem o reforço da suplementação volumosa em algumas épocas do ano) e intensivo (as vacas leiteiras são mantidas confinadas e alimentadas no cocho com forragens conservadas).

Apesar de vacas saudáveis enfrentarem bem a nova estação, é sempre bom protegê-las do frio intenso. Assim, é necessário e recomendável que os criadores dispensem alguns cuidados extras ao rebanho.

Mas vamos falar nessa edição sobre as pastagens, pois elas ficam mais escassas e o gado deve ter uma complementação especial na alimentação. A estação provoca uma queda no desempenho dos bovinos devido ao baixo valor nutricional da pastagem. Segundo a zootecnista e pesquisadora da Estação Experimental de Lages, da Epagri, Ângela Fonseca Rech, o baixo nível de proteína é um fator limitante ao crescimento dos microrganismos ruminais o que causa uma lenta degradação da forragem ingerida, maior tempo de retenção do alimento no rúmen e menor consumo de nutrientes pelos animais.

Outro problema que o criador deve ficar atendo são as doenças respiratórias e os bezerros são mais vulneráveis a essa enfermidade no período frio.


AMBIENTE RUMINAL

O retículo-rúmen representa cerca de 85% do estômago de um bovino adulto e com uma capacidade de até 200 litros. A temperatura interna é constante (entre 39°C e 40°C) e o valor pH mantido entre 4,5 e 7 (valor médio de 6) graças à ingestão de grandes quantidades de saliva, principalmente durante o consumo de alimentos fibrosos. O meio é anaeróbico (pouca ou total ausência de oxigênio) e os nutrientes são adicionados em função do comportamento de pastejo, alternado com a ruminação, principal processo responsável pela redução do tamanho das partículas ingeridas.

Um movimento regular e constante do retículo-rúmen mistura essas partículas recém-ingeridas com o conteúdo ruminal e direciona as menores do que 1mm para o orifício do retículo-omasal, seguindo sua trajetória pelo trato digestivo. A concentração dos produtos da digestão no retículo-rúmen, principalmente os ácidos graxos voláteis, é mantida em níveis constantes, através do processo contínuo de absorção pelas paredes ruminais.

Estas condições ambientais são extremamente favoráveis para uma enorme proliferação de microrganismos (bactérias, protozoários e fungos), os quais permitem aos ruminantes utilizarem a fração não-solúvel (fibras) das pastagens. Em particular, o grupo das bactérias celulolíticas é quem confere aos ruminantes a capacidade de sobreviverem em dietas ricas em fibra.

Entretanto, estas bactérias são sensíveis à ausência de nitrogênio (níveis de amônia no líquido ruminal não deveria estar abaixo de 150mg/l) ou alterações no pH ruminal (pH abaixo de 6,2 podem limitar seriamente seu crescimento). O primeiro caso é consequência da queda no teor de PB na pastagem durante a seca. Já o segundo caso é consequência direta da presença do amido em rações para suplementação. Se estes dois aspectos não são analisados cuidadosamente, as respostas esperadas com a suplementação podem ser desastrosas.


SUPLEMENTAÇÃO

Dessa forma, a proteína bruta é um fator limitante da pastagem nessa época do ano. Uma das alternativas é fornecer uma suplementação proteica aos animais, associada ao fornecimento de pastagens nativas, para aproveitar a pastagem do inverno. Essa suplementação, mesmo em pastagem de baixa qualidade, melhora a eficiência de fermentação e a velocidade de digestão ruminal, aumentando o consumo da pastagem.

A suplementação pode ser feita com vários produtos, como milho, farelo de soja, ureia. Lembrando que as bactérias do rúmen dos bovinos precisam de amônia para crescer, o que será fornecido via ureia. Além disso, as bactérias precisam de esqueleto carbônico, fornecido via carboidrato e proteína verdadeira.

O objetivo principal desse manejo é melhorar o desempenho dos animais, sendo que cada categoria de bovinos possui suas próprias demandas. No caso da vaca de cria, o objetivo é aumentar sua taxa de natalidade e a taxa de concepção das primíparas. Para isso, fornecem-se nutrientes para os microrganismos ruminais, para que eles possam crescer, aumentando o consumo e a digestibilidade da matéria seca.

Além da suplementação, outra forma de melhorar a alimentação dos bovinos no inverno é o manejo da propriedade com o uso de pastejo rotacionado o ano inteiro, preservando, dessa forma, a pastagem para esse período do ano.


COMO SUPLEMENTAR

De todos os nutrientes, o nitrogênio é o mais limitante e consequentemente de maior prioridade para suplementação. Sua presença na dieta do animal em pastejo é vital para manter o crescimento normal das bactérias ruminais, e a estabilidade desta população de bactérias no rúmen afeta diretamente a digestibilidade e o consumo.

Dessa forma, pode-se dizer que para a estação de seca, quando os teores de PB das pastagens estão abaixo de 7% (base na MS), o primeiro objetivo da suplementação seria atender à demanda das bactérias ruminais por nitrogênio. Essas bactérias, fortalecidas, serão capazes de extrair energia da pastagem ingerida pelo animal, através do processo de digestão.

Essa situação é alcançada usando-se de fontes proteicas de alta degradabilidade no rúmen (alto valor de proteína degradada no rúmen, PDR), tais como a mistura ureia + sulfato de amônio (85% e 15%, respectivamente). A resposta animal esperada seria em termos de mantença ou leve ganho de peso vivo (até 200 g/an./dia), dependendo da disponibilidade da pastagem.

O suplemento a ser utilizado é essencialmente proteico, e popularmente conhecido como “Sal Proteico”. Isto porque na sua composição, o sal comum pode participar de 10%-30% (base matéria fresca), e serve para manter o consumo entre 600 e 300 g/an./dia. É uma alternativa de baixo custo para suplementação alimentar do gado na época da seca.

A substituição do sal comum e a inclusão neste suplemento de uma fonte energética (milho, sorgo, aveia) pode aumentar o desempenho animal para até 600 g/an./dia.

Novamente, a disponibilidade da pastagem é um fator essencial para se alcançar esse desempenho, associado com o consumo diário do suplemento, que pode variar de 0,3%-1,0% do peso vivo. Este suplemento é conhecido popularmente como “Mistura Múltipla”.

Ao contrário do sal proteico, a mistura múltipla pode também ser utilizada durante o período das chuvas, se o objetivo for alcançar ganhos acima do potencial da pastagem (aproximadamente 600 g/an./dia). Nessa época do ano, a disponibilidade de nitrogênio para as bactérias ruminais, normalmente não é um fator limitante, e a energia passa a ser uma prioridade de suplementação.

Se no período da seca o objetivo da suplementação proteica é atender as bactérias ruminais, nas águas, esta deverá atender diretamente o animal, através de fontes proteicas de baixa degradabilidade (baixo valor PDR). Exemplos de fontes proteicas de baixa degradabilidade são: farinha de carne, farinha de peixe, farelo de algodão etc.

Por fim, deve-se lembrar de que os suplementos concentrados, em geral, são caros e o seu uso com ruminantes não é tão eficiente, em termos metabólicos, como o são com suínos e aves, além de competir com humanos.

Entretanto, se considerar que a pastagem seria mal utilizada (ausência de nutrientes) ou mesmo perdida (excesso de palhada ao final da seca) pela falta de um suplemento, pode-se argumentar que os ruminantes podem também vir a ser um eficiente utilizador do mesmo.

É essencial que a pesquisa indique curvas de resposta à suplementação, mas também é extremamente importante que as bases de manejo de uma pastagem (adubação e carga animal) sejam mais praticadas pelo pecuarista.

Fonte: Educapoint


MAIS CUIDADOS NO FRIO

É bastante comum, no período de frio, que os animais sejam acometidos com doenças respiratórias, aponta o médico-veterinário Pedro Paulo Pires, pesquisador da Embrapa. Segundo ele, os riscos são grandes, principalmente para os bezerros.

“Já constatamos mortandade de animais em boas condições de peso nessas viradas de temperatura. Tanto os animais podem morrer de frio, como ficar doentes pela queda rápida da imunidade. A água gelada prejudica a saúde dos bovinos, além de poder perturbar a digestão (proliferação de microrganismos), causar emagrecimento e má nutrição” explica.

O médico veterinário informa ainda que é possível a ocorrência de doenças bacterianas, viróticas e nutricionais. “Os cuidados devem começar com um bom manejo, ou seja, nunca causar estresses adicionais como desmame, mudança de pastos, troca de alimentos, por exemplo, e sempre procurar protegê-los dos ventos e chuvas frias”, orienta.