O produtor deve estar sempre atento para que o vírus não invada todo o rebanho leiteiro
Foto Wagner Correa
A palavra raiva carrega fortes emoções e pode ter vários significados, ela pode ser passageira ou eterna, branda ou forte, por motivos materiais ou emocionais, pode gerar lágrimas ou não, enfim a raiva possui diversos diagnósticos. O Governo realiza todos os anos campanhas exaustivas de vacinação contra a Raiva na forma de doença, destinada aos cães e gatos.
Só que nesta edição o JORNAL HOLANDÊS traz uma raiva que gera muita raiva aos proprietários de rebanhos leiteiros, causando grandes prejuízos na fazenda: a Raiva no gado de leite.
As vacas Holandesas mesmo tendo um grande porte são geralmente animais muito gentis e dóceis, passando a maior parte dos dias pastando ou descansando. Mas fique atento, pois mudanças drásticas em suas personalidades pode ser um problema de saúde, como por exemplo, a Raiva. É importante saber identificar os sinais e sintomas dessa doença para colocar rapidamente o animal em quarentena, evitando que o vírus alastre para todo o rebanho.
A raiva em bovinos é normalmente transmitida pela mordedura de morcegos hematófagos. No Brasil, há diversas espécies de morcegos que se alimentam de sangue, sendo a mais importante o Desmodus rotundus. Os morcegos hematófagos atuam como portadores, reservatórios e transmissores de raiva por vários meses, podendo ou não desenvolver a doença. Além dos morcegos, outros animais silvestres, como raposas, podem atuar como portadores ou reservatórios do vírus.
Para a transmissão da raiva, é necessário o contato de saliva contendo o vírus com uma solução de continuidade (ferida) na pele do animal agredido, pois o vírus da raiva não atravessa a pele íntegra. A saliva dos animais transmissores pode estar infectada vários dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas de raiva. É por essa razão que a legislação brasileira (Art. 29 da Portaria no. 126/76 de 18 de março de 1976) determina que: “Quando um canino ou outro animal suspeito de raiva haja mordido, arranhado ou lambido uma pessoa ou outro animal, o agressor deve ser capturado, mantido isolado e observado durante um período não menor de 10 (dez) dias, e em caso de morte deverá ser encaminhado ao laboratório para diagnóstico. “
O período de incubação depende de vários fatores: a espécie animal, a amostra do vírus, o local da mordedura, a quantidade de vírus inoculada e a idade do animal. De modo geral, quanto mais próxima do sistema nervoso central e mais profunda a mordedura, tanto mais rápido será o aparecimento dos sintomas. Nos bovinos, o período de incubação varia normalmente entre 3 e 15 semanas.
Animais infectados pelo vírus da raiva podem apresentar diversas formas clínicas da doença. A raiva furiosa é a forma mais comum em cães e gatos e caracteriza-se por alterações de comportamento e agressividade. Entre bovinos a forma clínica mais comum é a raiva paralítica. No entanto, no mesmo animal podem ocorrer as duas formas clínicas.
DIAGNÓTICO
Qualquer doença que cause encefalite pode provocar sintomas semelhantes aos da raiva. Nos bovinos, a raiva pode confundir-se com botulismo, enterotoxemia, babesiose, intoxicações e outras doenças com sintomatologia nervosa. Nos equinos, deve-se fazer o diagnóstico diferencial em relação à encefalomielite, rinopneumonite e intoxicações.
Assim, o diagnóstico clínico é apenas sugestivo, devendo ser confirmado em laboratório, principalmente quando houver contato de pessoas com o animal suspeito. Considerando-se o perigo de contaminação do operador e que a eficiência dos métodos de diagnóstico depende das condições de conservação da amostra, a coleta desse material deve ser feita por médico veterinário.
A META É PREVENIR
A vacinação antirrábica não tem data fixa, ela é anual e deve ser feita a partir de três meses de idade. Os animais a serem vacinados pela primeira vez deverão receber uma segunda dose com 30 dias após a primeira vacina. Nas propriedades onde forem verificados focos de raiva todos os animais deverão ser vacinados a partir de um mês de idade.
Para que a vacinação proteja contra a doença é necessário que o animal seja vacinado e consiga produzir anticorpos antes da inoculação do vírus da raiva e lembre-se que a vacina precisa de 21 dias para oferecer proteção aos animais. A aplicação deve ser intramuscular profunda, e deve ter uma atenção especial com a conservação: não utilizar frascos com mais de 20 doses, não utilizar nenhum tipo de desinfetante (o vírus da raiva é muito suscetível à ação de desinfetantes comuns, tais como soluções à base de hipoclorito, formol, iodo e compostos quaternários de amônio). Deve-se estar sempre em alerta: mesmo que não haja focos de raiva é necessário vacinar os animais nas áreas endêmicas, uma vez que, existindo o morcego hematófago, pode surgir a qualquer momento um novo foco.
Enfim, independentemente da raça, do grau de sangue e da qualidade nutricional da dieta oferecida, todos os rebanhos estão expostos ao morcego hematófago e expostos à raiva bovina, por isso o produtor deve ficar sempre atento!
PREJUÍZOS, MITOS E VERDADES
A médica veterinária e Gerente de Defesa Sanitária Animal do Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA, Giuliana Elisa de Oliveira, fala com exclusividade ao JORNAL HOLANÊS e alerta os criadores sobre os sintomas, prejuízos e aborda sobre os mitos e verdades da raiva nos bovinos de leite.
JORNAL HOLANDÊS: Quais são os sintomas da raiva em bovinos?
Giuliana Elisa de Oliveira: Passado o período de incubação, podem surgir diferentes sinais da doença, sendo a paralisia o mais comum, porém pode ocorrer a forma furiosa, levando o animal a atacar outros animais ou seres humanos.
O sinal inicial é o isolamento do animal, que se afasta do rebanho, apresentando certa apatia e perda do apetite, podendo apresentar-se de cabeça baixa e indiferente ao que se passa ao seu redor. Seguem-se outros sinais, como aumento da sensibilidade e prurido na região da mordedura, mugido constante, tenesmo, hiperexcitabilidade, aumento da libido, salivação abundante e viscosa e dificuldade para engolir (o que sugere que o animal esteja engasgado).
Com a evolução da doença, apresenta movimentos desordenados da cabeça, tremores musculares e ranger de dentes, midríase com ausência de reflexo pupilar, incoordenação motora, andar cambaleante e contrações musculares involuntárias. Após entrar em decúbito não consegue mais se levantar e ocorrem movimentos de pedalagem, dificuldades respiratórias, opistótono, asfixia e finalmente a morte, que ocorre geralmente entre 3 a 6 dias após o início dos sinais, podendo prolongar-se, em alguns casos, por até 10 dias.
JH: Quais são os prejuízos reais na produção de leite?
GO: Os prejuízos na produção de leite devem-se aos sintomas como perda de apetite e emagrecimento com redução da produção e da perda dos animais em si que após o contágio e com a evolução dos sintomas vêm a óbito, não existindo tratamento para a doença.
JH: Quais são as formas de prevenção?
GO: A principal forma de prevenção consiste na vacinação dos animais suscetíveis.
Outra forma de prevenção muito importante é o controle da população de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) com realização da captura e tratamento com pasta vampiricida.
JH: Como cuidar do animal infectado?
GO: Não há tratamento para os animais, sendo que a evolução é o óbito.
JH: Cite alguns mitos e verdades.
GO: Mito: ratos velhos se transformam em morcegos. O morcego é um quiróptero, mamífero caracterizado pela adaptação ao voo, estando seus membros anteriores transformados em asas.
Verdade: em aves mordidas por morcegos hematófagos (Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi) ocorre anemia levando à morte por perda de sangue. Nesses animais não ocorre desenvolvimento de sintomas da Raiva, sendo refratários a esta doença.
JH: Onde os criadores podem obter mais informações?
GO: No site do IMA, nos escritórios e coordenadorias regionais do IMA e ao acompanhar as palestras de Educação Sanitária.
AÇÕES PARA O CONTROLE DA RAIVA
Captura dos morcegos em redes e equipamentos apropriados específicos para a atividade. Após serem presos, os morcegos hematófagos recebem nas costas uma pasta com anticoagulante, são soltos e voltam ao abrigo. Por terem o hábito de se lamber, ingerem a pasta que dá início à hemorragia e os leva à morte.
RECOMENDAÇÕES
Ao suspeitar da doença ou verificar a presença de morcegos hematófagos em sua propriedade, o produtor rural deve:
• Comunicar o fato imediatamente ao escritório do IMA,
• Isolar o animal do restante do rebanho e não manejá-lo,
• Não sacrificar o animal,
• Não colocar a mão na boca do animal que parecer engasgado,
• Não colocar medicamentos na ferida provocada pelo morcego, pois ele perceberá e irá morder outro animal,
• Lavar a ferida com água e sabão, e procurar rapidamente o posto médico, caso seja mordido por morcegos.
SINTOMAS
A raiva é causada por um vírus que ataca o sistema nervoso de animais como: bois, cabritos, porcos, cavalos, ovelhas, gatos e cães. Na maioria das vezes é pela mordida dos morcegos hematófagos na tábua do pescoço, lombo e garupa que os animais são contaminados. Os morcegos hematófagos transmitem a Raiva pela saliva no momento da mordida e não precisam apresentar os sintomas da doença, basta estarem infectados. Os animais contaminados apresentam:
• Isolamento do restante do rebanho,
• Tristeza,
• Tremores musculares,
• Perda de peso,
• Salivação intensa,
• Falta de coordenação – dificuldade de permanecer em pé, andar cambaleante, quedas e dificuldade para levantar-se,
• Paralisia dos membros posteriores.
Os morcegos hematófagos têm seu habitat nas cavernas, montanhas, furnas, bueiros – locais, em sua maioria, de difícil acesso.
PRIMEIROS SOCORROS
Se uma pessoa for mordida por um animal suspeito de raiva, deve-se:
• Lavar imediatamente a ferida durante vários minutos com água e sabão, água e detergente ou simplesmente água.
• Desinfetar a ferida com um antisséptico (álcool a 70o, tintura de iodo ou composto quaternário de amônio).
• Capturar o animal suspeito de raiva e mantê-lo em isolamento durante dez dias, sob vigilância de um médico-veterinário.
• Encaminhar a pessoa mordida a um médico, para tratamento antirrábico.
Fonte: Emater MG e Merial