Pesquisa tem como objetivo amenizar prejuízos causados pelo carrapato no gado leiteiro, unindo produção e preservação dos recursos naturais
Com o objetivo de oferecer ao homem do campo uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente no controle de pragas em animais e vegetais, que causam enorme prejuízo ao produtor, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo está desenvolvendo óleos essenciais para combater o problema. O estudo do Polo Regional Vale do Paraíba da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta da Secretaria já apresentou bons resultados em laboratório. Agora será levado para o campo para amenizar prejuízos como os causados pelo carrapato no gado leiteiro, que podem equivaler à metade do lucro.
Os responsáveis pela ideia são os pesquisadores Sandra Maria Pereira da Silva, engenheira agrônoma, e José Roberto Pereira, biólogo parasitologista, que enxergam no conhecimento popular para ervas a chave capaz de transformar plantas em soluções para doenças e pragas, tanto humanas quanto vegetais e animais. A planta escolhida é o Alecrim Pimenta, originário no Nordeste do Brasil, onde já é utilizado há tempos em produtos inclusive de uso humano, como sabonetes.
Isso porque o óleo essencial dessa planta tem uma ampla ação: é carrapaticida, fungicida, inseticida, bactericida e herbicida. Por sua versatilidade, seu uso está sendo estudado também no combate às doenças do tomate e do arroz causadas por fungos e bactérias. O estudo já apresentou excelentes resultados em laboratório, o próximo passo é levar a inovação para ser aplicada no campo para ser pulverizado e garantir sanidade.
No caso do carrapato, José Roberto aguarda uma infestação apropriada (grande quantidade do parasita) nos animais do Polo para fazer a pulverização porque, como explicou, “quanto mais carrapato, mais dá para ver o resultado”.
“Está tudo na natureza. As plantas são fábricas de química natural, muitas delas têm um grande potencial a ser estudado”, contou a pesquisadora, ressaltando que um dos principais ganhos da nova técnica é não contaminar nem o agropecuarista que pulverizará o óleo e nem a terra, além de menos resíduos no leite. É um controle sanitário que utiliza a própria natureza para garantir produtividade, mas com a vantagem de não afetar os recursos hídricos e o solo.
“Com pesquisas como essa desenvolvida pela Apta em Pindamonhangaba, atendemos às recomendações do governador Geraldo Alckmin de transferir tecnologia para o produtor rural gerar mais renda e agregar valor à sua produção. Ao unir produção e preservação dos recursos naturais, mostramos que a agricultura é amiga do meio ambiente”, ressaltou o secretário Arnaldo Jardim.
Prejuízo
O pesquisador José Roberto Pereira quantificou as perdas causadas pelo carrapato no gado leiteiro da região. De acordo com o estudo, a produção total ao ano é de 206.241,570 litros de leite, representando R$ 216.553.548,50 quando o litro é calculado com base no preço do Instituto de Economia Agrícola – IEA da Secretaria em 2015. Somando gastos com carrapaticidas e manejo em geral e as perdas causadas pela praga, o gasto do produtor é de R$ 108.276.824,25 ao ano, ou seja, o homem do campo poderia lucrar até 50% a mais se não fossem os carrapatos.
Mas José Roberto atenta que “o controle para nós não é exterminar o carrapato, é reduzir a infestação a quantidades aceitáveis”. Isso porque, como todo animal, ele tem sua função na natureza. Enquanto o óleo essencial de alecrim pimenta não sai do laboratório, a Secretaria tem investido em análises laboratoriais da praga para saber qual é o carrapaticida mais eficiente para aquela determinada propriedade.
Isso significa não utilizar defensivos que não teriam efeito. Outra otimização feita pela Apta é aplicar o produto apenas nas reses acometidas pelo carrapato, e não no gado todo, o que, como enumerou o pesquisador, representa em média 30% do rebanho. “Mas tudo isso não apresenta resultado se o animal não tiver uma boa alimentação que lhe garanta uma imunidade forte”, concluiu José Roberto.
Humano
A substituição de um defensivo nocivo à saúde por um mais natural tem chamado a atenção também de agricultores orgânicos, que buscam alternativas de controle biológico que dispensem os agroquímicos, que sejam mais saudáveis ao ser humano. A saúde inclusive é um outro ponto na pesquisa de Sandra, responsável ainda por pesquisar as propriedades medicinais das plantas, fornecendo informações e mudas para uma política pública do município.
O Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Município de Pindamonhangaba incentiva o uso de plantas no lugar de remédios convencionais. É um resgate da sabedoria popular passada de geração em geração sobre plantas como o xarope de guaco, indicado para rouquidão, asma, bronquite, tosse e afecções das vias respiratórias; ou o creme de babosa, usado para tratar queimaduras, psoríase, acne e erisipela, entre outras.
E o alerta importante continua o mesmo para os medicamentos convencionais: o uso deve ser sob indicação médica.
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo