ESTRESSE CALÓRICO

As vacas secas também merecem atenção especial no verão, pois elas são o futuro da produção

O verão acaba de chegar e a tendência é de temperaturas muito altas. Isso invariavelmente vai gerar estresse calórico nas vacas leiteiras. Porém, embora o foco de toda fazenda leiteira sejam as vacas em lactação, é preciso ter em mente que todos os animais da fazenda sofrem de estresse calórico no verão, incluindo as vacas secas. 

Provavelmente, você investiu significativamente em ventiladores e sistemas de resfriamento para minimizar os efeitos negativos do estresse calórico em suas vacas em lactação. Você também investiu em suas necessidades nutricionais extras durante esse período para os animais de produção, mas será que houve um investimento nas vacas secas?

Estudos mostram que vacas secas sob estresse calórico produzem menos leite na próxima lactação. Além disso, pesquisas recentes demonstraram comprometimento do desenvolvimento futuro e do desempenho de bezerros nascidos de vacas secas sob estresse calórico. O modo como tratamos as vacas secas afeta sua próxima lactação e a lucratividade e o bem-estar de seus bezerros durante toda a vida.

As vacas leiteiras se adaptam ao estresse calórico, modificando seu metabolismo, resultando em uma maior perda de calor corporal e redução na produção de calor. Ocorrerá uma redução na ingestão de matéria seca e uma mudança no uso da glicose para priorizar o sistema imunológico, em detrimento de outras funções, como produção de leite e reprodução. Essa é uma forma que a vaca utiliza para se adaptar às condições de extremo calor.

Um dos impactos negativos do estresse calórico nas vacas secas resulta em menor produção de leite durante o próximo período de lactação em mais de 4 kg por dia (Figura 1). Por que isso acontece? As principais razões são queda no consumo de matéria seca pré-parto (mais de 1,5 kg/dia) e um comprometimento do desenvolvimento da glândula mamária durante o período seco.

Figura 1. Efeito do estresse calórico em vacas secas na próxima produção de leite (Macko et al., 2017)

Além disso, a resposta imunológica pré e pós-parto será prejudicada quando vacas secas estão sob estresse calórico. Isso criará mais problemas de saúde após o parto, por exemplo, a cetose subclínica aumenta em 50% sob estresse térmico (Figura 2).

EFEITOS NEGATIVOS

Os bezerros nascidos de vacas secas sob estresse calórico terão menor imunidade e menor desempenho leiteiro e reprodutivo futuro. O estresse calórico durante o final da gestação irá desencadear mudanças hormonais tanto na placenta quanto no feto, o que resultará em menor peso ao nascer  e menor peso e altura aos 12 meses de idade. O desenvolvimento da glândula mamária do feto será prejudicado e a futura produção de leite dessas novilhas de primeira cria será reduzida em até 5 kg por dia. Essas novilhas exigirão mais serviços por concepção, resultando em um atraso significativo na prenhez.

O QUE PODE SER FEITO?

Vacas secas também precisam de sistemas de resfriamento. Seus ventiladores existentes devem ser limpos e mantidos para garantir a máxima eficiência de resfriamento. O acúmulo de poeira de 0,3 cm nas lâminas ou venezianas pode reduzir o desempenho do ventilador em até 30 por cento, enquanto correias soltas podem reduzir a eficiência em mais 30%

Reduza a densidade de animais sempre que possível para minimizar o estresse e maximizar o espaço para dormir e comer. Garanta muitos bebedouros limpos e bem posicionados em seus currais para vacas secas. Fornecer água limpa junto com mudanças nutricionais para reduzir o risco para a vaca e o feto é essencial. Alta ingestão de matéria seca e saúde ruminal estão sempre em maior risco durante eventos de estresse calórico.


ALGUMAS ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS

  • Manter a função ruminal é crucial para a vaca seca, especialmente durante períodos de estresse como o estresse calórico;
  • Certifique-se de que a ração tem o tamanho de partícula de forragem correto, umidade, homogeneidade de mistura e programação e sequência de entrega para minimizar a seleção e cochos vazios;
  • Evite aquecer e estragar os alimentos. O calor aumenta a taxa de crescimento de fungos, que por sua vez criam toxinas. Certifique-se de que os alimentos permaneçam frescos;
  • Alimente no mínimo 1 vez por dia, mantendo a ração próxima aos animais ao longo das 24 horas;
  • Fornecer nutrientes para melhorar a ingestão de matéria seca ao mesmo tempo em que atende, mas não excede as necessidades específicas de suas vacas secas, é essencial e deve ser ajustado na preparação para o estresse calórico;
  • Ajuste fino de dietas para vacas secas com vitaminas B protegidas pelo rúmen.

EFEITOS DA VITAMINA B NO ESTRESSE CALÓRICO

A suplementação de uma mistura específica de vitaminas B protegidas no rúmen (colina, ácido fólico, B12 e riboflavina) antes e depois do parto faz parte da solução nutricional para reduzir o impacto negativo do estresse calórico em vacas secas.

Um estudo recente com várias fazendas no centro do México durante o verão demonstrou efeitos positivos com um alto retorno sobre o investimento. Vacas leiteiras suplementadas durante o período de transição eram mais saudáveis: com 55% menos cetose subclínica (Figura 2), 41% menos retenção de placenta e 31% menos metrite. Além disso, o desempenho reprodutivo dessas vacas melhorou significativamente, juntamente com o aumento da produção de leite.

Figura 2. Efeito da suplementação dietética de uma mistura específica de vitaminas B protegidas antes e depois do parto durante o estresse calórico na prevalência de cetose subclínica (Jefo Technical Research Report no 31, 2018)

Um estudo canadense publicado recentemente demonstrou que as vitaminas B protegidas aumentam a ingestão de matéria seca antes do parto e até 4 semanas após o parto. Este aumento na ingestão de matéria seca durante este período crucial seria benéfico para reduzir o impacto do estresse calórico em vacas secas.

POR QUE VITAMINAS B DURANTE O ESTRESSE CALÓRICO?

As vitaminas B são nutrientes essenciais, sendo cofatores enzimáticos com funções específicas a nível celular para a produção de energia, a síntese de proteínas e um funcionamento saudável da resposta imunitária. Para que as vacas se reproduzam com eficiência, as vitaminas B são necessárias tanto para o desenvolvimento do folículo quanto para a sobrevivência embrionária precoce. 

As necessidades do seu rebanho por vitaminas B suplementares aumentam durante o estresse calórico. A queda na ingestão de ração experimentada pelas vacas durante o clima quente prejudica a capacidade do rúmen de sintetizar o grande volume de vitaminas B necessárias para manter a produção, a saúde do casco, a imunidade e a reprodução.

* Baseado no artigo Do not forget your Dry Cows during Heat Stress, de Jefo Dairy Team. Fonte: Milkpoint